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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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SAÚDE

Fila de espera para tratamento em serviços de saúde chega a um ano, entre a primeira consulta e o início da terapia

Falta de reabilitação prejudica deficiente

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de uma reabilitação precoce após cirurgia ou internação hospitalar pode ocasionar sequelas ainda mais graves do que o problema original. Em alguns casos, há risco aumentado de morte. Os paraplégicos não-reabilitados, por exemplo, têm 18% a mais de chances de morrer no primeiro ano após a lesão. Entre os tetraplégicos, os riscos chegam a 40%.
Segundo pesquisa da USP-SP, as pessoas que sofrem lesões na medula, cerca de 9.000 por ano, podem desenvolver trombose venosa (formação de coágulos no interior das veias) e ossificação heterotópica (endurecimento dos músculos em razão do depósito de cálcio) se não receberem cuidados adequados nos três primeiros meses após o acidente.
Embora os benefícios da reabilitação sejam mais do que comprovados, especialmente para desenvolver o potencial de independência do doente, mesmo que sua lesão seja crônica, médicos fisiatras dizem que apenas uma pequena parte dos lesionados brasileiros consegue ter acesso a um tratamento precoce adequado.
Nos serviços ligados aos hospitais-escola da capital, a fila de espera para uma primeira consulta chega a três meses. Para o início do tratamento, a espera média leva outros três meses.
Na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), 1.881 pessoas, a maioria crianças, aguardam a vez para uma primeira consulta. Outras 2.575 esperam pelo início do tratamento.
Há filas de espera também para a aquisição de aparelhos ortopédicos -1.997-, cirurgias -1.316-, avaliação -4.903- e consultas de retorno -12.921. Segundo Décio Goldfarb, presidente da entidade, o tempo médio de espera é de oito meses a um ano.
De acordo com a fisiatra Therezinha Rosane Chamliam, diretora técnica do Lar Escola São Francisco, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as pessoas fazem uma verdadeira peregrinação pelos serviços públicos até conseguir uma vaga nos centros de reabilitação, o que agrava as sequelas das lesões.
Além disso, diz ela, é comum os centros de reabilitação receberem pacientes encaminhados por outros hospitais públicos sem um encaminhamento correto. "O doente chega sem o histórico clínico, sem os exames." Nesses casos, o paciente é orientado a procurar o médico que o atendeu, o que retarda ainda o tratamento.
Para a fisiatra Linamara Rizzo Battistella, diretora da Divisão de Medicina de Reabilitação do Hospital das Clínicas de São Paulo, muitos médicos ignoram a importância da reabilitação precoce.
Aliado a isso, diz ela, está a dificuldade da família e do paciente em aceitar os limites do tratamento. Isso também leva à peregrinação por outros serviços em busca de um tratamento supostamente mais eficiente. "É preciso aprender a conviver com a deficiência. Entender que a vida não será nem pior nem melhor, apenas será diferente", afirma Battistella.
Segundo a médica, a falta de meios de locomoção até os serviços de saúde é outro sério problema enfrentado pelos deficientes.
Já os doentes que podem bancar um tratamento particular contam a partir desta semana com um novo centro de reabilitação, ligado ao hospital Albert Einstein.
O serviço tem desde piscina com plataformas capazes de receber pacientes em coma até um espaço com protótipos de uma banca de jornal, gôndolas de supermercado, cozinha, entre outros, que ajudam o doente a exercitar atividades da vida diária.
Segundo a fisiatra Cristiane Isabela de Almeida, coordenadora do serviço do Einstein, muitos pacientes, mesmo os de outros serviços particulares, não fazem a reabilitação precoce por desconhecimento ou por dificuldade de encontrar, num único lugar, tratamento multidisciplinar.
Segundo ela, o objetivo do centro é proporcionar terapias que acelerem o processo de autonomia das vítimas de incapacidade física ou neurológica.
A dona-de-casa Ione Toledo, 72, passou por dois processos de reabilitação após cirurgias no joelho e na cabeça do fêmur em razão de lesões causadas por desgaste ósseo. Após a fisioterapia, ela diz que se livrou das incômodas dores e deixou de lado as bengalas que usava para caminhar.


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