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SEGURANÇA
Novo superintendente no Rio promete investigar colegas que facilitariam acesso de traficantes a armamentos
Para PF, policiais ajudam a armar o tráfico
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Superintendente da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro desde
a semana passada, o delegado José Milton Rodrigues diz não ter
dúvidas de que há policiais fornecendo armas para traficantes. Para ele, toda investigação séria vai
encontrar, "em um determinado
momento", um policial envolvido
em contrabando de armas.
Na Polícia Federal há 31 anos,
Rodrigues, 51, afirma que em todas as corporações policiais há
profissionais que atuam na venda
de armas a criminosos. Quando
trabalhava no Paraná, como corregedor da PF, prendeu policiais
federais, civis, militares e rodoviários acusados de contrabandear
armamentos a partir do Paraguai.
Até agora Rodrigues só teve um
encontro com o secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony
Garotinho. Coordenador do Gabinete de Gestão Integrada, criado em 2003 pelos governos federal e estadual para tratar de questões de segurança, o delegado disse que quer retomar as reuniões.
Ele está organizando o esquema
de segurança da delegação olímpica do Brasil na Grécia.
Folha - Por que o sr. veio ao Rio?
José Milton Rodrigues - Trabalhava em Brasília na Coordenação
Geral de Defesa Institucional [da
PF], responsável por questões de
direitos humanos, indígenas, fundiárias. Particularmente, nunca
pensei em trabalhar no Rio, não
tenho ligações com o Rio, mas é o
tipo do convite que não se recusa.
É importante na carreira.
Folha - Quais serão as prioridades
de sua gestão?
Rodrigues - Há um enfoque
muito grande no combate ao tráfico de armas. O poder do narcotráfico decorre muito do poder de
fogo dos narcotraficantes. A gente
não pode deixar de associar uma
coisa a outra nem trabalhar isoladamente. Combater o narcotráfico e não combater o tráfico de armas. Combater o narcotráfico e
não combater a lavagem de dinheiro. Isso é um erro. Tem que
fazer de maneira simultânea.
Folha - Como as armas chegam às
favelas?
Rodrigues - A gente sabe que é
do Paraguai, da Argentina, do
Uruguai e de outros países mais
ao norte. Por via marítima, via aérea, chega de várias formas. O poder econômico da criminalidade
proporciona esse tipo de coisa. É
difícil combater o tráfico de armas
em razão do poder econômico.
Quando você tem dinheiro consegue as facilidades, seja pela corrupção, pelo favorecimento.
No Paraguai, em qualquer loja,
tem a arma e a munição que você
quiser. Posso até estar sujeito a
críticas, mas acho que o Brasil é
muito condescendente com o Paraguai. A diplomacia brasileira
podia ser mais dura. O Paraguai
não cumpre os acordos. Você
compra a arma que quiser lá.
Folha - No Rio, sempre se fala da
ligação policiais-armas.
Rodrigues - Há uma questão que
não podemos esconder: a da corrupção. Já prendi vários policiais
trazendo armas do Paraguai,
quando trabalhava no Paraná.
Quando ele [o policial] passa na
fronteira ou na estrada existe
aquele corporativismo, aquele falso coleguismo. O cara chega, se
identifica e não é fiscalizado. "Sou
colega." "Tudo bem, vai embora."
Está levando ali, quatro, cinco,
seis armas e munição.
Folha - A ação policial é uma fonte de abastecimento do Rio?
Rodrigues - Não tenho a menor
dúvida quanto a isso. Todo trabalho que for feito de investigação
vai bater em um certo momento
em um policial. É uma realidade
que não posso esconder. Tenho
idéia de um trabalho forte na Corregedoria, de um trabalho interno. Não estou falando de servidores de nossa superintendência.
Eventualmente pode ter, mas não
é dirigido a eles somente.
Essa é a minha prioridade. O
combate ao tráfico de armas e esse possível envolvimento de servidores públicos. Não é admissível
que um colega arme o bandido
para atirar contra os policiais em
operações. Não tem como a gente
esconder a realidade. Acho que
quando se mostra a realidade fica
mais fácil de trabalhar.
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