São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

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SEGURANÇA

Novo superintendente no Rio promete investigar colegas que facilitariam acesso de traficantes a armamentos

Para PF, policiais ajudam a armar o tráfico

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Superintendente da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro desde a semana passada, o delegado José Milton Rodrigues diz não ter dúvidas de que há policiais fornecendo armas para traficantes. Para ele, toda investigação séria vai encontrar, "em um determinado momento", um policial envolvido em contrabando de armas.
Na Polícia Federal há 31 anos, Rodrigues, 51, afirma que em todas as corporações policiais há profissionais que atuam na venda de armas a criminosos. Quando trabalhava no Paraná, como corregedor da PF, prendeu policiais federais, civis, militares e rodoviários acusados de contrabandear armamentos a partir do Paraguai.
Até agora Rodrigues só teve um encontro com o secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho. Coordenador do Gabinete de Gestão Integrada, criado em 2003 pelos governos federal e estadual para tratar de questões de segurança, o delegado disse que quer retomar as reuniões.
Ele está organizando o esquema de segurança da delegação olímpica do Brasil na Grécia.
 

Folha - Por que o sr. veio ao Rio?
José Milton Rodrigues -
Trabalhava em Brasília na Coordenação Geral de Defesa Institucional [da PF], responsável por questões de direitos humanos, indígenas, fundiárias. Particularmente, nunca pensei em trabalhar no Rio, não tenho ligações com o Rio, mas é o tipo do convite que não se recusa. É importante na carreira.

Folha - Quais serão as prioridades de sua gestão?
Rodrigues -
Há um enfoque muito grande no combate ao tráfico de armas. O poder do narcotráfico decorre muito do poder de fogo dos narcotraficantes. A gente não pode deixar de associar uma coisa a outra nem trabalhar isoladamente. Combater o narcotráfico e não combater o tráfico de armas. Combater o narcotráfico e não combater a lavagem de dinheiro. Isso é um erro. Tem que fazer de maneira simultânea.

Folha - Como as armas chegam às favelas?
Rodrigues -
A gente sabe que é do Paraguai, da Argentina, do Uruguai e de outros países mais ao norte. Por via marítima, via aérea, chega de várias formas. O poder econômico da criminalidade proporciona esse tipo de coisa. É difícil combater o tráfico de armas em razão do poder econômico. Quando você tem dinheiro consegue as facilidades, seja pela corrupção, pelo favorecimento.
No Paraguai, em qualquer loja, tem a arma e a munição que você quiser. Posso até estar sujeito a críticas, mas acho que o Brasil é muito condescendente com o Paraguai. A diplomacia brasileira podia ser mais dura. O Paraguai não cumpre os acordos. Você compra a arma que quiser lá.

Folha - No Rio, sempre se fala da ligação policiais-armas.
Rodrigues -
Há uma questão que não podemos esconder: a da corrupção. Já prendi vários policiais trazendo armas do Paraguai, quando trabalhava no Paraná. Quando ele [o policial] passa na fronteira ou na estrada existe aquele corporativismo, aquele falso coleguismo. O cara chega, se identifica e não é fiscalizado. "Sou colega." "Tudo bem, vai embora." Está levando ali, quatro, cinco, seis armas e munição.

Folha - A ação policial é uma fonte de abastecimento do Rio?
Rodrigues -
Não tenho a menor dúvida quanto a isso. Todo trabalho que for feito de investigação vai bater em um certo momento em um policial. É uma realidade que não posso esconder. Tenho idéia de um trabalho forte na Corregedoria, de um trabalho interno. Não estou falando de servidores de nossa superintendência. Eventualmente pode ter, mas não é dirigido a eles somente.
Essa é a minha prioridade. O combate ao tráfico de armas e esse possível envolvimento de servidores públicos. Não é admissível que um colega arme o bandido para atirar contra os policiais em operações. Não tem como a gente esconder a realidade. Acho que quando se mostra a realidade fica mais fácil de trabalhar.


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