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SAÚDE
Hospitais privados de SP apontam que não houve tempo para debater projeto que visa reduzir os leitos psiquiátricos
Discussão emperra medida antimanicômio
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O projeto do governo federal de
fechar pelo menos 2.500 leitos psiquiátricos no país até maio de
2005 emperra por causa da forte
resistência de hospitais privados
de São Paulo que prestam serviço
ao SUS (Sistema Único de Saúde).
Nos últimos três meses, a Fesehf
(Federação das Santas Casas de
Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Estado de
São Paulo) fez sucessivas manifestações para reduzir o ritmo de implantação da proposta. Conseguiu adiar em 60 dias seu início no
Estado de São Paulo.
Os hospitais dizem que "quebrarão" com o fechamento de leitos e que não há serviços extra-hospitalares -residências terapêuticas e centros de assistência
psicossocial- suficientes para
acolher os pacientes que deixarem os hospitais. Segundo a entidade, os hospitais privados atendem a maior parte dos doentes.
"Não estamos dizendo que não
há necessidade [de diminuir leitos], mas tem de haver um espaço
de tempo suficiente", afirma o superintendente-geral da federação,
Henrique de Mesquita Barbosa
Corrêa. Para a entidade, o governo fez tudo à base da "canetada",
sem uma pactuação com as unidades de saúde e gestores locais.
O coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Pedro
Gabriel Delgado, diz que os hospitais foram consultados várias
vezes sobre a proposta, que o ritmo de desospitalização está adequado, mas admite uma nova negociação dos prazos. Ele deve chegar a São Paulo nos próximos dias
em busca de uma solução. Segundo ele, o governo poderá conceder mais tempo ainda para discussões com os hospitais.
O sistema público tem hoje 48,3
mil leitos no país para pacientes
portadores de problemas mentais
-eram 52,7 mil em 2002.
O Programa Anual de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica Hospitalar do SUS foi instituído em janeiro deste ano por uma
portaria. Dá continuidade à política contra os grandes hospitais
psiquiátricos, implantada em
2001, resultado de anos de discussões -o Dia de Luta Antimanicomial é comemorado hoje.
A portaria estabeleceu uma remuneração diferenciada para as
unidades. Aquelas com mais leitos recebem um valor menor de
diária hospitalar.
Na primeira etapa, que deveria
começar no início deste mês, as
unidades adequarão o número de
vagas para módulos com 40 leitos
cada um. Exemplo: se um hospital
tem 168 leitos, terá de criar quatro
módulos e eliminar oito vagas.
"No país inteiro, não estão ocorrendo problemas. No Estado de
São Paulo é que há a maior dificuldade", disse Delgado. Segundo
ele, cerca de metade dos 246 prestadores de serviço do SUS já firmou protocolos de adequação à
primeira fase do programa.
Em São Paulo, está cerca de um
terço dos prestadores, afirma, o
que pode explicar a resistência organizada. Delgado não tinha ontem informações detalhadas das
adesões -como o número de
hospitais paulistas que se comprometeram com a mudança.
"Mas não é nada que comprometa a governabilidade." Delgado
afirma que as desospitalizações só
ocorrem à medida que são criados serviços substitutivos.
O caso também está sob análise
do Ministério Público Federal.
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