São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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GUERRA URBANA /VÍTIMAS

Famílias pediram empréstimo para fazer enterros, governo diz que benefício para quem não estava em serviço depende da seguradora

Parentes de policiais mortos cobram ajuda

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As famílias dos policiais mortos nos ataques organizados pelo PCC ainda não receberam nenhuma ajuda oficial do Estado. Algumas precisaram pedir auxílio às entidades de classe para realizar os enterros de seus parentes. Foi o caso dos familiares do agente policial Paulo José da Silva, 35, assassinado junto com a namorada na noite de sexta-feira, quando levava uma vizinha grávida até o hospital, na zona sul de São Paulo.
Recém-formado em direito, Silva se preparava para prestar concurso para delegado. Queria dar melhores condições de vida aos dois filhos, de um e cinco anos, e à mãe. Pegos de surpresa, seus parentes não tinham condições de enterrá-lo, até que um dirigente da Associação de Funcionários da Polícia Civil do Estado de São Paulo (AFPCESP) se prontificou a custear a cerimônia.
Funcionário do 85º DP (no Jardim Mirna, zona sul) desde março, Silva era conhecido por sua pontualidade e profissionalismo. "Ele era uma pessoa cumpridora dos seus deveres, não faltava e era benquisto pelos colegas", diz o delegado Mário Uatanabe.
Por não estar em serviço ao ser assassinado, a família de Silva não deverá receber os R$ 100 mil de seu seguro de vida. "Vamos brigar na Justiça para que todos tenham esse direito", diz a presidente da AFPCESP, Lucy Lima Santos. "Até agora, ninguém recebeu nem o auxílio-funeral. Teve gente que fez empréstimo para enterrar seus parentes."
Na última terça-feira, o governador Cláudio Lembo determinou que sua assessoria estude uma forma de flexibilizar a regra que autoriza o pagamento de seguro apenas nos casos de policiais que morreram em serviço.
A associação contabilizou seis policiais civis mortos desde sexta-feira. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, morreram sete policiais civis. Já a Associação de Oficiais da Polícia Militar de São Paulo contou 23 PMs mortos -dez estavam em serviço.
"Os outros 13 não estavam trabalhando, mas morreram porque eram policiais", diz o diretor para assuntos institucionais da entidade, major Sérgio Olímpio. "E é uma vergonha deixar essas famílias desamparadas. Elas não têm direito nem a receber o salário integral deste mês. Vão ter só o proporcional aos dias trabalhados."
Muitas dessas famílias, diz, estão sendo amparadas por colegas ou pelas associações. "O Estado não está dando apoio às vítimas."
A família do policial militar Adilson Umbelino Carvalho, 28, de Americana (a 128 km de São Paulo), ainda não tem nem o atestado de óbito para dar entrada nos papéis. Carvalho foi assassinado com dez tiros à 1h30 do sábado, em Santa Bárbara d'Oeste (a 138 km de São Paulo). Ele estava fora de serviço. "Vamos ver se conseguimos o seguro. Ele morreu por causa dos atentados. O Estado tem de se responsabilizar", diz seu cunhado, que pediu para não ter o nome divulgado.
Em Sorocaba (a 100 km de São Paulo), o agente penitenciário Robson Cleis, 46, foi morto num bar na noite de domingo com 22 tiros. Ele ingressou no sistema prisional há oito anos em busca de um emprego estável. Aos finais de semana, era voluntário do Programa Escola da Família, aplicado na rede estadual de ensino.
"O Robson era uma pessoa extrovertida, que gostava muito do que fazia", contou sua mulher, que não quis se identificar. Era pai de uma moça, de 18 anos, e de um rapaz que está com 16. "Eles [os filhos] estão indignados. Eu ainda não assimilei o que aconteceu."
Ela estava com Cleis no dia do assassinato. Por volta das 21h30, um homem armado com uma pistola semi-automática e encapuzado invadiu o bar em que se divertiam e atirou. "Ele foi atingido pelas costas", disse a viúva.
A Secretaria de Segurança Pública informou, por meio de sua assessoria, que entende que mesmo os parentes dos policiais que não estavam em serviço ao serem assassinados deverão receber o seguro de vida de R$ 100 mil, já que morreram por fazerem parte da polícia. No entanto, a confirmação do benefício depende de uma resposta da seguradora.
A previsão da secretaria é que em 30 dias as famílias recebam o seguro.


Colaborou MARCELO MACAUS, da Agência Folha


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