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GUERRA URBANA /VÍTIMAS
Famílias pediram empréstimo para fazer enterros, governo diz que benefício para quem não estava em serviço depende da seguradora
Parentes de policiais mortos cobram ajuda
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
As famílias dos policiais mortos
nos ataques organizados pelo
PCC ainda não receberam nenhuma ajuda oficial do Estado. Algumas precisaram pedir auxílio às
entidades de classe para realizar
os enterros de seus parentes. Foi o
caso dos familiares do agente policial Paulo José da Silva, 35, assassinado junto com a namorada na
noite de sexta-feira, quando levava uma vizinha grávida até o hospital, na zona sul de São Paulo.
Recém-formado em direito, Silva se preparava para prestar concurso para delegado. Queria dar
melhores condições de vida aos
dois filhos, de um e cinco anos, e à
mãe. Pegos de surpresa, seus parentes não tinham condições de
enterrá-lo, até que um dirigente
da Associação de Funcionários da
Polícia Civil do Estado de São
Paulo (AFPCESP) se prontificou a
custear a cerimônia.
Funcionário do 85º DP (no Jardim Mirna, zona sul) desde março, Silva era conhecido por sua
pontualidade e profissionalismo.
"Ele era uma pessoa cumpridora
dos seus deveres, não faltava e era
benquisto pelos colegas", diz o
delegado Mário Uatanabe.
Por não estar em serviço ao ser
assassinado, a família de Silva não
deverá receber os R$ 100 mil de
seu seguro de vida. "Vamos brigar na Justiça para que todos tenham esse direito", diz a presidente da AFPCESP, Lucy Lima
Santos. "Até agora, ninguém recebeu nem o auxílio-funeral. Teve
gente que fez empréstimo para
enterrar seus parentes."
Na última terça-feira, o governador Cláudio Lembo determinou que sua assessoria estude
uma forma de flexibilizar a regra
que autoriza o pagamento de seguro apenas nos casos de policiais
que morreram em serviço.
A associação contabilizou seis
policiais civis mortos desde sexta-feira. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, morreram sete
policiais civis. Já a Associação de
Oficiais da Polícia Militar de São
Paulo contou 23 PMs mortos
-dez estavam em serviço.
"Os outros 13 não estavam trabalhando, mas morreram porque
eram policiais", diz o diretor para
assuntos institucionais da entidade, major Sérgio Olímpio. "E é
uma vergonha deixar essas famílias desamparadas. Elas não têm
direito nem a receber o salário integral deste mês. Vão ter só o proporcional aos dias trabalhados."
Muitas dessas famílias, diz, estão sendo amparadas por colegas
ou pelas associações. "O Estado
não está dando apoio às vítimas."
A família do policial militar
Adilson Umbelino Carvalho, 28,
de Americana (a 128 km de São
Paulo), ainda não tem nem o atestado de óbito para dar entrada
nos papéis. Carvalho foi assassinado com dez tiros à 1h30 do sábado, em Santa Bárbara d'Oeste
(a 138 km de São Paulo). Ele estava fora de serviço. "Vamos ver se
conseguimos o seguro. Ele morreu por causa dos atentados. O
Estado tem de se responsabilizar", diz seu cunhado, que pediu
para não ter o nome divulgado.
Em Sorocaba (a 100 km de São
Paulo), o agente penitenciário
Robson Cleis, 46, foi morto num
bar na noite de domingo com 22
tiros. Ele ingressou no sistema
prisional há oito anos em busca
de um emprego estável. Aos finais
de semana, era voluntário do Programa Escola da Família, aplicado
na rede estadual de ensino.
"O Robson era uma pessoa extrovertida, que gostava muito do
que fazia", contou sua mulher,
que não quis se identificar. Era pai
de uma moça, de 18 anos, e de um
rapaz que está com 16. "Eles [os filhos] estão indignados. Eu ainda
não assimilei o que aconteceu."
Ela estava com Cleis no dia do
assassinato. Por volta das 21h30,
um homem armado com uma
pistola semi-automática e encapuzado invadiu o bar em que se
divertiam e atirou. "Ele foi atingido pelas costas", disse a viúva.
A Secretaria de Segurança Pública informou, por meio de sua
assessoria, que entende que mesmo os parentes dos policiais que
não estavam em serviço ao serem
assassinados deverão receber o
seguro de vida de R$ 100 mil, já
que morreram por fazerem parte
da polícia. No entanto, a confirmação do benefício depende de
uma resposta da seguradora.
A previsão da secretaria é que
em 30 dias as famílias recebam o
seguro.
Colaborou MARCELO MACAUS, da
Agência Folha
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