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Greve de alunos agrava crise na USP
Justiça volta hoje a tentar uma desocupação pacífica da reitoria, ocupada há 15 dias por estudantes
Funcionários já estão parados e sindicato dos professores, que apóia o movimento,
faz assembléia no dia 23 para discutir paralisação
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudantes da USP entraram
em greve ontem -paralisando
ao menos duas faculdades-, o
que agravou a crise iniciada há
15 dias com a invasão por alunos do prédio da reitoria (na
zona oeste de SP).
A paralisação, em protesto
contra a política para o ensino
superior do governo José Serra
(PSDB), começou um dia após
o início da greve dos funcionários, que dizem ter adesão de
70% da categoria. A Adusp (sindicato dos professores), que
apóia o movimento, faz assembléia no dia 23 para decidir se
os docentes também irão parar.
À noite, o comitê de comunicação dos estudantes que ocupam a reitoria afirmou que o
protesto irá continuar, apesar
de os reitores agora entenderem que não há mais risco à autonomia das universidades.
A reportagem percorreu ontem cinco unidades do campus
central e verificou que a greve
dos alunos foi mais forte na
FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) -a maior unidade da
USP- e na ECA (Escola de Comunicações e Artes).
Nessas unidades, praticamente todas as salas estavam
vazias. A USP possui 66 unidades de ensino e pesquisa.
Na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), as atividades foram parciais. Na FEA
(Faculdade de Economia e Administração) e na Poli (Escola
Politécnica), estavam normais.
A situação poderá ficar mais
tensa hoje, quando a Justiça
vai, pela segunda vez, enviar
um oficial com a ordem para a
desocupação da reitoria.
Anteontem, a mesma decisão
foi desprezada pelos manifestantes, que decidiram, em assembléia com cerca de 2.000
estudantes (segundo a organização), manter a ocupação -a
USP tem 80,5 mil alunos. Diante da recusa dos alunos em receber o documento, o oficial de
Justiça declarou-o entregue.
"Somos um movimento pacífico, mas a decisão foi permanecer até que nossas reivindicações sejam atendidas", disse
Apuena Canuto Cosenza, 21, da
comissão de comunicação.
Para os alunos, a gestão Serra
quer diminuir a autonomia das
universidades por meio de decretos. Um dos mecanismos
utilizados, segundo eles, foi a
criação da Secretaria de Ensino
Superior, que passaria a traçar
as diretrizes para as escolas.
O governo nega. Afirma que a
pasta foi criada para valorizar
as universidades, podendo focar melhor os problemas.
Os estudantes pedem também a construção de moradias
estudantis e a reforma de unidades. A reitoria informou estar disposta a atender parte das
reivindicações, mas a proposta
não foi aceita. Com isso, criou-se um impasse: a reitoria diz
que só volta a negociar se houver a desocupação; os manifestantes afirmam que só saem se
a proposta for melhorada.
Liminar
A liminar de reintegração foi
pedida pela reitoria e concedida pelo juiz da 13ª Vara da Fazenda Pública, Jayme Martins
de Oliveira Neto. Ela ordena a
desocupação imediata. "Não se
nega ao acadêmico o direito ao
protesto e às reivindicações",
diz um trecho. "[Mas] O direito
do protesto não vai a ponto de
admitir-se a invasão das dependências da instituição."
De acordo com a assessoria
de imprensa do Tribunal de
Justiça, Oliveira Neto enviará
um funcionário para informar
mais uma vez o teor da decisão
antes de tomar uma ação mais
drástica: usar a força policial.
O oficial de Justiça já poderia
ter acionado os policiais na primeira visita à USP, segundo o
Tribunal de Justiça. Com a negativa dos alunos em cumprir a
ordem, poderia ter inclusive ter
dado voz de prisão por desobediência aos maiores de idade ou
encaminhado à Fundação Casa
(ex-Febem), por ato infracional, os menores de 18 anos .
Desde o fim do regime militar, nunca, porém, a Polícia Militar entrou no campus da USP
para intervir em movimentos
estudantis.
Ontem, Serra não quis comentar a ação dos estudantes.
A reportagem enviou-lhe questões por e-mail, que não foram
respondidas. A assessoria do
governador informou que o secretário de Ensino Superior,
José Aristodemo Pinotti, é
quem fala sobre o tema. Ele já
declarou em entrevista à Folha
que o governo não pretende diminuir a autonomia das instituições e que os alunos usam
argumentos já superados.
(FÁBIO TAKAHASHI E ROGÉRIO PAGNAN)
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