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Instituto do Ceará cria a "pílula do cheiro"
Pesquisadores de universidade cearense desenvolveram produto que, se ingerido, libera odor de lavanda pelo suor
Pílula tem licença da
Anvisa apenas como alimento, mas sua eficácia como perfume ainda
não foi atestada pelo órgão
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Tomar pílulas para ficar
cheiroso, sem a ajuda de perfumes nem desodorantes. Uma
pesquisa da UFC (Universidade Federal do Ceará) diz que isso é possível, sem causar danos
à saúde. Já se pode até verificar
se a invenção traz mesmo resultado: a "pílula do cheiro" foi
lançada comercialmente há um
ano, com o nome de Fybersense, e pode ser encontrada até
pela internet, por R$ 33 a R$ 37
o frasco com 90 cápsulas.
A pesquisa sobre a pílula começou há três anos. Segundo o
pesquisador e coordenador do
Padetec (Parque de Desenvolvimento Tecnológico) da UFC,
Afrânio Craveiro, o que dá o
aroma é o óleo da planta Coriandrum sativum, o coentro,
tempero muito usado na culinária nordestina. Sua essência
tem odor similar ao de lavanda,
segundo os estudos, mas não
traz contra-indicações, por ser
comestível.
Outro componente é a quitosana, fibra extraída de crustáceos, como o camarão. Serve
para agregar as partículas da
essência e fazer a liberação gradual no organismo -contra-indicada a alérgicos a crustáceos.
A liberação do odor ocorre da
seguinte forma: ao se romperem no estômago, a quitosana e
a essência não são degradadas e
têm de ser eliminadas em algum momento do metabolismo. O aroma chega às glândulas sebáceas e sudoríparas e é
eliminado pelo suor. "É o mesmo com com quem come muito alho ou óleo de peixe: o odor
sai pelo corpo", disse Afrânio.
Para efeito prolongado, é necessário uso contínuo da pílula,
iniciando-se com seis por dia.
Polêmica
O produto tem licença de comercialização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas como alimento que
auxilia na absorção de gorduras
e colesterol -propriedade da
quitosana, fibra presente na
composição. O órgão não atestou a eficácia como perfume.
Segundo a Anvisa, o produto
não pode ter sua divulgação associada a outro fim. Em caso de
desobediência, a Polymar
-empresa que fabrica a pílula e
que nasceu na UFC e atualmente é privada-, pode sofrer
sanções. Por causa dessa limitação, no rótulo do frasco não
há indicação sobre o efeito de
liberação de odores.
No entanto, o site da Polymar
aponta que o produto "deixa o
corpo exalando um suave perfume de lavanda através do
suor e de glândulas sebáceas".
A Anvisa informou que o site e
o produto poderão ser suspensos, com a aplicação de multa.
O químico responsável pela
pílula na Polymar, Alexandre
Craveiro, filho de Afrânio, admite que trata-se de um produto polêmico, pela dificuldade de
classificação. "Acredito que a
Anvisa deverá abrir uma discussão sobre se é um cosmético
que pode ser ingerido ou um
alimento que libera odores."
O odor de lavanda ainda é o
único porque há poucas opções
de óleo essencial comestível,
segundo Afrânio. Mas o óleo de
cravo, por exemplo, poderá ser
usado. Um outro efeito -inesperado, segundo ele- pode se
tornar o carro-chefe de publicidade: o combate ao mau hálito.
"O efeito foi inesperado, mas já
salvou até casamentos", disse
ele, em tom de brincadeira.
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