São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

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Instituto do Ceará cria a "pílula do cheiro"

Pesquisadores de universidade cearense desenvolveram produto que, se ingerido, libera odor de lavanda pelo suor

Pílula tem licença da Anvisa apenas como alimento, mas sua eficácia como perfume ainda não foi atestada pelo órgão

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Tomar pílulas para ficar cheiroso, sem a ajuda de perfumes nem desodorantes. Uma pesquisa da UFC (Universidade Federal do Ceará) diz que isso é possível, sem causar danos à saúde. Já se pode até verificar se a invenção traz mesmo resultado: a "pílula do cheiro" foi lançada comercialmente há um ano, com o nome de Fybersense, e pode ser encontrada até pela internet, por R$ 33 a R$ 37 o frasco com 90 cápsulas.
A pesquisa sobre a pílula começou há três anos. Segundo o pesquisador e coordenador do Padetec (Parque de Desenvolvimento Tecnológico) da UFC, Afrânio Craveiro, o que dá o aroma é o óleo da planta Coriandrum sativum, o coentro, tempero muito usado na culinária nordestina. Sua essência tem odor similar ao de lavanda, segundo os estudos, mas não traz contra-indicações, por ser comestível.
Outro componente é a quitosana, fibra extraída de crustáceos, como o camarão. Serve para agregar as partículas da essência e fazer a liberação gradual no organismo -contra-indicada a alérgicos a crustáceos.
A liberação do odor ocorre da seguinte forma: ao se romperem no estômago, a quitosana e a essência não são degradadas e têm de ser eliminadas em algum momento do metabolismo. O aroma chega às glândulas sebáceas e sudoríparas e é eliminado pelo suor. "É o mesmo com com quem come muito alho ou óleo de peixe: o odor sai pelo corpo", disse Afrânio. Para efeito prolongado, é necessário uso contínuo da pílula, iniciando-se com seis por dia.

Polêmica
O produto tem licença de comercialização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas como alimento que auxilia na absorção de gorduras e colesterol -propriedade da quitosana, fibra presente na composição. O órgão não atestou a eficácia como perfume.
Segundo a Anvisa, o produto não pode ter sua divulgação associada a outro fim. Em caso de desobediência, a Polymar -empresa que fabrica a pílula e que nasceu na UFC e atualmente é privada-, pode sofrer sanções. Por causa dessa limitação, no rótulo do frasco não há indicação sobre o efeito de liberação de odores.
No entanto, o site da Polymar aponta que o produto "deixa o corpo exalando um suave perfume de lavanda através do suor e de glândulas sebáceas". A Anvisa informou que o site e o produto poderão ser suspensos, com a aplicação de multa.
O químico responsável pela pílula na Polymar, Alexandre Craveiro, filho de Afrânio, admite que trata-se de um produto polêmico, pela dificuldade de classificação. "Acredito que a Anvisa deverá abrir uma discussão sobre se é um cosmético que pode ser ingerido ou um alimento que libera odores."
O odor de lavanda ainda é o único porque há poucas opções de óleo essencial comestível, segundo Afrânio. Mas o óleo de cravo, por exemplo, poderá ser usado. Um outro efeito -inesperado, segundo ele- pode se tornar o carro-chefe de publicidade: o combate ao mau hálito. "O efeito foi inesperado, mas já salvou até casamentos", disse ele, em tom de brincadeira.


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