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Entidades dizem manter independência
Organizações de pacientes afirmam que suas atividades não são atreladas aos interesses dos laboratórios financiadores
Segundo representante de ONG que ajuda pacientes, a indústria farmacêutica vai deixar de investir em novos remédios se perder patentes
DA REPORTAGEM LOCAL
As organizações de pacientes
confirmam que recebem recursos da indústria farmacêutica,
mas dizem que essa relação não
atrapalha sua independência.
"A gente quer que o paciente
tenha acesso ao que for melhor
para ele. Damos a informação
mais límpida possível, baseada
em critérios técnicos, de uma
equipe de médicos e advogados
renomados", diz Marília Casseb, da ABCâncer (Associação
Brasileira do Câncer).
Ao menos 70% do seu orçamento anual, de R$ 936 mil,
vem de cinco laboratórios. "Só
dão o dinheiro. Não somos
agentes da indústria para vender medicamentos."
A Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia)
recebeu no ano passado R$ 1,5
milhão de oito laboratórios.
"Não há nenhuma contrapartida", afirma Merula Steagall,
presidente da associação.
A Abrale oferece advogados
para que os doentes consigam
remédios do governo pela Justiça. São 400 ações por ano.
Além do doente, a indústria farmacêutica se beneficia quando
a decisão judicial é favorável. "A
indústria não financia esse serviço [jurídico]", afirma Steagall.
A ADJ (Associação de Diabetes Juvenil) tem parceria com
40 empresas de medicamentos
e alimentos. A ajuda, segundo a
entidade, restringe-se ao apoio
a eventos e publicações e significa 50% do orçamento. A outra
metade vem de pacientes e familiares. "Não recebemos um
tostão de verba governamental", diz o diretor institucional
da ADJ, Sérgio Metzger.
O mesmo argumento de isenção e ética é usado por Maria
Cecília Magalhães Pinto, do
Centro dos Hemofílicos do Estado de São Paulo, e Tânia Maria Onvi Pietrobelli, da Federação Brasileira de Hemofilia.
Carlos Varaldo, presidente
do Grupo Otimismo de Apoio
ao Portador de Hepatite, diz
que sua entidade não recebe diretamente de laboratórios. O
dinheiro vai para um grupo de
entidades da qual faz parte. Para ações de conscientização que
serão feitas amanhã em todo o
país, no Dia Mundial da Hepatite, o grupo recebeu cerca de
R$ 180 mil de cinco empresas.
"Que congresso médico não
tem o apoio da indústria farmacêutica? Que pesquisa não tem
o apoio da indústria farmacêutica?", argumenta ele.
Em relação às discussões sobre a licença compulsória de
patentes de remédios, as entidades dizem que o manifesto
do qual foram signatários pede
mais discussões, não o fim da licença compulsória.
"Eu, inclusive, sou favorável
ao licenciamento compulsório", diz Metzger, da ADJ. "A
indústria passa anos desenvolvendo um remédio e de repente
perde a patente. Não vai mais
investir em novos produtos",
afirma Stella de Carli, da Lágrima Brasil, que representa pacientes com uma síndrome que
afeta a produção de lágrimas.
"A indústria farmacêutica
"ética" tem prestado um grande
trabalho aos avanços na pesquisa científica e diretamente
aos pacientes", afirma Maira
Caleffi, da Femama (de apoio às
pacientes com câncer de mama). "Se fosse pelo investimento do governo em pesquisas, estaríamos na época da sangria e
dos chás de ervas", critica Varaldo, do Grupo Otimismo.
A Folha não conseguiu entrevistar Cândida Carvalheira,
presidente da Associação Brasileira de Ostomizados.
(CLÁUDIA COLLUCCI e RICARDO WESTIN)
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