São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Entidades dizem manter independência

Organizações de pacientes afirmam que suas atividades não são atreladas aos interesses dos laboratórios financiadores

Segundo representante de ONG que ajuda pacientes, a indústria farmacêutica vai deixar de investir em novos remédios se perder patentes

DA REPORTAGEM LOCAL

As organizações de pacientes confirmam que recebem recursos da indústria farmacêutica, mas dizem que essa relação não atrapalha sua independência.
"A gente quer que o paciente tenha acesso ao que for melhor para ele. Damos a informação mais límpida possível, baseada em critérios técnicos, de uma equipe de médicos e advogados renomados", diz Marília Casseb, da ABCâncer (Associação Brasileira do Câncer).
Ao menos 70% do seu orçamento anual, de R$ 936 mil, vem de cinco laboratórios. "Só dão o dinheiro. Não somos agentes da indústria para vender medicamentos."
A Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) recebeu no ano passado R$ 1,5 milhão de oito laboratórios. "Não há nenhuma contrapartida", afirma Merula Steagall, presidente da associação.
A Abrale oferece advogados para que os doentes consigam remédios do governo pela Justiça. São 400 ações por ano. Além do doente, a indústria farmacêutica se beneficia quando a decisão judicial é favorável. "A indústria não financia esse serviço [jurídico]", afirma Steagall.
A ADJ (Associação de Diabetes Juvenil) tem parceria com 40 empresas de medicamentos e alimentos. A ajuda, segundo a entidade, restringe-se ao apoio a eventos e publicações e significa 50% do orçamento. A outra metade vem de pacientes e familiares. "Não recebemos um tostão de verba governamental", diz o diretor institucional da ADJ, Sérgio Metzger.
O mesmo argumento de isenção e ética é usado por Maria Cecília Magalhães Pinto, do Centro dos Hemofílicos do Estado de São Paulo, e Tânia Maria Onvi Pietrobelli, da Federação Brasileira de Hemofilia.
Carlos Varaldo, presidente do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, diz que sua entidade não recebe diretamente de laboratórios. O dinheiro vai para um grupo de entidades da qual faz parte. Para ações de conscientização que serão feitas amanhã em todo o país, no Dia Mundial da Hepatite, o grupo recebeu cerca de R$ 180 mil de cinco empresas.
"Que congresso médico não tem o apoio da indústria farmacêutica? Que pesquisa não tem o apoio da indústria farmacêutica?", argumenta ele.
Em relação às discussões sobre a licença compulsória de patentes de remédios, as entidades dizem que o manifesto do qual foram signatários pede mais discussões, não o fim da licença compulsória.
"Eu, inclusive, sou favorável ao licenciamento compulsório", diz Metzger, da ADJ. "A indústria passa anos desenvolvendo um remédio e de repente perde a patente. Não vai mais investir em novos produtos", afirma Stella de Carli, da Lágrima Brasil, que representa pacientes com uma síndrome que afeta a produção de lágrimas.
"A indústria farmacêutica "ética" tem prestado um grande trabalho aos avanços na pesquisa científica e diretamente aos pacientes", afirma Maira Caleffi, da Femama (de apoio às pacientes com câncer de mama). "Se fosse pelo investimento do governo em pesquisas, estaríamos na época da sangria e dos chás de ervas", critica Varaldo, do Grupo Otimismo.
A Folha não conseguiu entrevistar Cândida Carvalheira, presidente da Associação Brasileira de Ostomizados. (CLÁUDIA COLLUCCI e RICARDO WESTIN)


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