|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO HUMBERTO ALONSO (1919-2008)
Os balões, cavalos e camisas da Mooca
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Lá ia ele, todo dia, à padaria da rua Ana Neri, com seu
Santana 96 arranhado, comprar o pão italiano para dar
aos amigos, às vezes com as
camisas do Juventus. Era
Antônio Alonso, 88, anos vividos na Mooca -bairro de
São Paulo onde teve três filhos e seis netos, que ainda
moram a 500 metros da casa
de "seu Alonso da Mooca".
O pai, um jóquei uruguaio,
veio para a Mooca por causa
do hipódromo, onde casou
com a filha do zelador. Lá, o
filho nasceu e cresceu, soltando balões de gás na noite
de São João. Os mesmos que
coloriram o céu da Mooca na
Copa de 1982, que o Brasil
perdeu. Ficaram guardados
até que alguém confessasse a
admiração e os levasse, remendados, de presente.
Perdeu o pai aos 12. Desde
então, aventurou-se na vida.
O avô não quis um neto jóquei, mas padre. Ele foi pego
no trem fugindo do seminário. Serviu no Exército em
1939, eclosão da guerra. Só
escapou da guerra por ser
"arrimo de família". Até que
foi para a seguradora de Nelson Líbero, virou depois representante comercial e
aceitou o convite para dirigir
o Hospital Pedro 2º.
Assim foi sua rotina. Pela
manhã, ia ao hospital; à tarde, negociava cobertores. E à
noite, honrava a inscrição de
sócio número 189 nos jogos
do Juventus. Mas 2008 foi
um golpe duplo. Viu o Corinthians cair para a 2ª divisão
do Brasileiro e o Juventus
para a 2ª do Paulista. Morreu
domingo, de infarto. Às 22h
falara com o filho; que, meia
hora depois, achou-o "sentado e falecido" em frente à TV.
obituario@folhasp.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: 2 adolescentes e 2 jovens são mortos a tiros na zona leste Índice
|