São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAC pode agravar exploração sexual infantil

Constatação do problema partiu das entidades de defesa dos direitos humanos, dos conselhos tutelares e das ONGs

Governo Lula reconhece o problema nos bolsões de miséria onde o PAC está e já promove ações para evitar a exploração sexual infantil

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Principal vitrine do governo Lula, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deve agravar um problema recorrente de grandes obras de infra-estrutura pelo país: a exploração sexual de crianças e adolescentes. A constatação é feita por especialistas em direitos humanos, conselheiros tutelares e ONGs, como a Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância).
Em alguns locais, como Salgueiro (PE), por onde passam duas das maiores obras do PAC -a transposição do rio São Francisco e a rodovia Nova Transnordestina-, conselheiros tutelares detectaram agravamento da situação.
O governo admite a preocupação com o aumento de casos nos canteiros das obras do PAC e lançou um plano de prevenção à exploração infantil às margens da megaobra de asfaltamento da BR-163, que liga Santarém (PA) a Cuiabá (MT).
O projeto nas obras dessa BR, coordenado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, foi lançado há um ano, com atividades preventivas: divulgação do número de telefone para denúncias e fortalecimento da rede de atendimento local e das políticas sociais.
Segundo a coordenadora do programa de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes da secretaria, Leila Paiva, existe uma preocupação do governo com projetos de desenvolvimento econômico, não só obras públicas, pois geralmente causam mais exploração.
Ana Celina Hamoy, do Cedeca (Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente) de Belém, diz que o projeto pode evitar a criação de redes de prostituição de crianças, o que, segundo ela, ocorreu na construção da hidrelétrica de Tucuruí e na instalação dos garimpos no Estado.
Para Carolina Padilha, do Instituto WCF (World Childhood Foundation) Brasil, essas redes são criadas especialmente em obras construídas longe dos grandes centros urbanos, onde há migrantes. "São homens, distantes das suas famílias, com recurso financeiro, em regiões pauperizadas, e sem opções de lazer."
Segundo ela, "a estrutura do Estado não está preparada para dar conta da novas demandas geradas". "Até ela ser organizada, a obra já terminou."
O assistente social Eduardo Chaves, do grupo Violes (Grupo de Pesquisa sobre Violência e Exploração Sexual Comercial de Mulheres, Crianças e Adolescentes) da UnB (Universidade de Brasília), concorda e diz que a exploração é muitas vezes "maquiada, para não denegrir o empreendimento financeiro".
A socióloga Marlene Vaz estuda há quase 35 anos a exploração sexual de crianças e adolescentes. Diz que o problema é histórico e que grandes obras sempre geraram aumento de casos, sobretudo por causa da pobreza. "É uma sociedade de consumo onde o tempo todo se destaca a importância de ter um celular, uma boa roupa, perfumes caros. Não há como essas meninas ignorarem isso."


Texto Anterior: Centro de atendimento diário é base da reforma psiquiátrica
Próximo Texto: Casos aumentam às margens do São Francisco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.