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URBANIDADE
Ilustração Vincenzo Scarpellini
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GRANITO E PSIQUE Monumentos erram pela cidade. As 36 toneladas de granito e bronze, homenagem a Ramos de Azevedo, esculpidas em 1934 por Galileu Emendabili, foram removidas em 1973. Da avenida Tiradentes passaram para o parque da USP. Se fosse possível atribuir um inconsciente ao comportamento da cidade, as vicissitudes de seus monumentos seriam uma manifestação interessante. (VINCENZO SCARPELLINI)
Árvore da vida
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Uma das personagens
mais exuberantes da região dos Jardins tem cem anos,
gasta R$ 14 mil mensais para
cuidar da aparência e acaba de
virar atração para estudantes.
Para sobreviver, ela é submetida a quatro horas de atenções
diárias, com doses de medicamentos administradas por uma
equipe de dez pessoas, chefiada
pelo biólogo Ítalo Mazzarella.
"Eu aprendo mais do que cuido", afirma ele.
Plantada há cem anos na rua
Haddock Lobo, quase na esquina com a rua Estados Unidos, a
figueira por pouco não morreu.
A árvore servia de cobertura de
estacionamento de uma loja de
presentes, vítima do peso dos automóveis e da voracidade de insetos. "Estava ameaçada", lembra Ítalo.
Foi salva porque o empresário
Belarmino Iglesias adquiriu o
terreno e fez ali um restaurante
cujo pátio é abraçado pelos ramos, livres da simples condição
de sombra de automóveis. "As
obras foram realizadas para se
acomodarem à árvore. Natural
que o restaurante ganhasse o nome de Figueira."
Sem saber como cuidar de sua
principal peça de decoração, Belarmino recorreu à Fundação
SOS Mata Atlântica, que lhe indicou o biólogo Ítalo, que, por
sua vez, recrutou uma equipe. "Precisava de um misto de ombudsman com médico", conta Belarmino. Até porque a figueira é tombada pelo patrimônio
histórico municipal e estadual.
De sombra, transformou-se em peça de decoração e, agora, a figueira ganha status ainda mais
nobre: sala de aula. Dois educadores recebem caravanas de estudantes para admirar a centenária personagem e aprender sobre questões ambientais. Há um
material didático preparado especialmente para os professores.
"Não adianta falar da Amazônia sem fazer a ligação da questão ecológica com a nossa própria rua", defende Ítalo.
Além de ecologia, a figueira também vai ensinar história. O Memorial do Imigrante vai mostrar desenhos da árvore desde o
tempo em que ela ainda era uma muda, utilizados como marcos
para contar a história dos imigrantes e dos migrantes vindos
para São Paulo.
Quando ela foi plantada, a cidade ainda tinha ar de vilarejo, centenas de milhares de europeus eram atraídos pela riqueza do café e os ricos começavam a refugiar-se na recém-inaugurada avenida Paulista, onde bondes eram puxados por mulas.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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