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SAÚDE
Para especialistas, cigarro tira recursos da saúde e da educação; países pobres respondem por 73% do consumo mundial
OMS relaciona fumo ao combate à pobreza
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A OMS (Organização Mundial
da Saúde) abriu uma nova frente
de combate ao cigarro. Depois de
costurar o primeiro acordo internacional na área de saúde, pelo
qual 128 países aceitaram tomar
medidas para reduzir o consumo
de fumo, ela agora quer incluir o
controle de tabagismo nos programas de combate à pobreza.
A proposta foi apresentada ontem em painel na 11ª Unctad
(Conferência das Nações Unidas
para o Comércio e o Desenvolvimento). Especialistas defenderam
a inclusão do controle do tabaco
nos programas de redução de pobreza das agências da ONU.
A idéia que sustenta a proposta
é que cigarro e pobreza formam
um círculo vicioso -os pobres
fumam mais porque têm menos
informação; como gastam muito
com tabaco, eles têm menos recursos para aplicar na educação e
na saúde dos filhos.
A socióloga Katharine Esson,
pesquisadora do Centro para o
Desenvolvimento Global em Saúde da Universidade Columbia, em
Nova York, disse que o controle
do tabaco "pode parecer um luxo" quando comparado a necessidades básicas, como esgoto. "Mas
isso é falso", defendeu. Segundo
ela, as mortes causadas pelo cigarro são muito maiores do que outras causas, e vão ocorrer cada vez
mais em países pobres.
A OMS prevê que, se nada for
feito, o tabaco provocará 10 milhões de mortes no mundo em
2030 -7 milhões das quais em
países pobres ou em desenvolvimento. Nos países mais ricos, segundo a OMS, as doenças causadas pelo cigarro consomem de
6% a 15% dos gastos com saúde.
"Só haverá redução das mortes
com controle do tabagismo", defendeu Katharine Esson.
Segundo ela, a abertura do comércio que acompanhou a onda
neoliberal dos anos 90 aumentou
o lucro das corporações, mas foi
um péssimo negócio para a saúde
pública. Esson cita o exemplo do
continente africano, onde a abertura dos mercados deve provocar
um aumento de 75% no número
de fumantes entre 1995 e 2005.
A pesquisadora cita um estudo
feito em Bangladesh, país asiático
com 130 milhões de habitantes no
qual 64 crianças em cada grupo de
mil morrem antes de completar
um ano -no Brasil, o índice é
quase a metade (38). Lá, se o gasto
com cigarro dos mais pobres sofresse uma redução de 70%, seria
possível alimentar corretamente
cerca de 10,6 milhões de crianças
subnutridas.
Maiores consumidores
Estatísticas apresentadas por
Heather Selin, da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde),
em Washington, mostram que cigarro torna-se cada vez mais um
produto de pobres. Do total de cigarros consumidos, só 27% são
fumados nos países desenvolvidos; 73% ficam com os países em
desenvolvimento ou pobres.
"O tabaco tem de ser tratado como um caso especial nos acordos
comerciais. Ele não pode receber
os mesmos benefícios que outros
produtos", afirmou.
A proposta de Selin, falando como representante da OMS, é que
o fumo seja excluído dos acordos
bilaterais ou multilaterais -com
isso, não teria redução de taxas,
por exemplo. A idéia básica é encarecer o cigarro como forma de
reduzir o consumo.
Selin apresentou três formas de
reduzir o consumo de cigarro: 1)
aumento de preços e impostos; 2)
uso de alertas nos maços; e 3)
proibição de publicidade.
O Brasil é citado como um país
de vanguarda no controle do tabaco, com uma legislação só comparável à do Canadá, mas o preço
do cigarro ainda é dos mais baixos no mundo.
Um quadro comparativo da
OMS mostra que um trabalhador
do Rio precisa trabalhar, em média, 22 minutos para comprar um
maço de Marlboro e 52 minutos
para levar para casa 1 kg de pão.
Em nenhum outro país o cigarro
custa tão pouco, em termos relativos -a exceção é o Canadá, onde
um maço de cigarros "custa" 21
minutos de trabalho, mas lá isso
ocorre porque os salários são altos, não porque o tabaco é barato.
Um estudo citado por Selin
aponta que o aumento de 10% no
preço do cigarro resulta em queda
de 8% no consumo.
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