São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Jobim pede que militares tolerem provocação

Ministro da Defesa afirma que os militares escalados para trabalhar na favela devem ter "solidariedade à comunidade"

Para Lula, retirada das tropas do morro interromperia as obras federais na favela e transmitiria uma imagem de culpa

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em discurso para uma tropa perfilada de 250 militares do Exército que atuam no morro da Providência (centro do Rio), o ministro da Defesa, Nelson Jobim, alertou-os de que moradores da comunidade os provocarão e que, para evitar novos problemas, não poderão reagir. Em seu discurso, Jobim destacou que é natural, neste momento, que ocorram provocações. "Elas [as provocações] não podem ensejar, não devem ensejar, nenhum tipo de reação", afirmou o ministro.
"Nosso problema agora (...) é a conduta de vocês nos próximos dias, nos próximos meses. (...) A conduta individual e coletiva dos senhores no desenvolvimento da atividade de segurança para a realização dessas obras", disse Jobim, referindo-se ao trabalho realizado pelo Exército na favela.
"Há que ter (...) a tolerância e a compreensão de que algumas pessoas e várias delas foram atingidas no reduto mais importante, que é a vida de seus irmãos." E acrescentou: "Essas pessoas têm razão no extravasamento do seu ódio".
Antes de ir ao quartel, Jobim esteve no morro, protegido por cerca de 50 militares e dez seguranças. O ministro percorreu as obras na parte baixa da favela, bebeu café na casa de Sueli Ribeiro, 58, tia de David Wilson, um dos mortos, e se reuniu com líderes comunitários.
Antes de embarcar para o Rio, o ministro se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que determinou a Jobim que mantenha o Exército no local e acompanhe as investigações sobre a morte dos três jovens de modo a dar uma satisfação rápida e eficiente.
Na avaliação de Lula, a retirada do Exército do morro interromperia as obras federais na favela e transmitiria uma imagem de culpa. O presidente só admite a saída, obviamente, em caso de ordem judicial.
O presidente classificou o episódio de "gravíssimo", nas palavras de um auxiliar direto. Também teve participação de Lula o pedido de desculpas do Exército às famílias dos jovens assassinados.

Justiça
A Defensoria Pública da União vai entrar na Justiça com uma ação civil pública, com pedido de liminar, para que o Exército seja retirado imediatamente do morro da Providência. Segundo André Ordacgy, defensor titular do ofício de direitos humanos e tutela coletiva do Rio de Janeiro e autor da ação, "há um desvio de finalidade gritante" na atuação do órgão no morro.
Ele também prepara um pedido de indenização civil para as famílias dos três jovens assassinados -em torno de R$ 300 mil para cada família mais pensão mensal vitalícia.
A Secretaria Especial de Direitos Humanos, ligada à Presidência, divulgou em nota que criará uma comissão para acompanhar as investigações.


Colaboraram LUCAS FERRAZ E LETÍCIA SANDER, da Sucursal de Brasília


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