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27ª SÃO PAULO FASHION WEEK
O sonho de toda mulher é ter filhos, diz Gisele
Modelo, que desfila para a Colcci, aprova a ideia de que grifes tenham 10% de negros na São Paulo Fashion Week
Embora diga que nada do que é "feito por obrigação tenha uma boa aceitação", top avalia que vale a pena tentar no caso das cotas
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com roupas leves e os pés
descalços. Foi assim que Gisele
Bündchen recebeu a Folha,
ontem, no quarto do hotel onde
está hospedada em São Paulo.
Ela mesma abriu a porta do
quarto e convidou a reportagem a se sentar num dos sofás,
criando um clima descontraído, apesar de ter imposto algumas restrições: não falar da vida pessoal nem fazer fotos.
Mas Gisele acabou falando
de detalhes sobre a vida pessoal
e o marido, o jogador de futebol
americano Tom Brady. A modelo, que desfila na SPFW para
a grife Colcci, disse que considera "positivo" o Ministério
Público ter sugerido às grifes
que elas tenham 10% de negros
em seus desfiles na SPFW.
FOLHA - Você é a favor ou contra
uma "cota" de negros nos desfiles?
GISELE BÜNDCHEN - Beleza é um
gosto. As pessoas julgam as outras pela cor, pelo tamanho ou
pela cor de cabelo. Cada raça,
seja a indígena, a negra, a amarela, tem a sua beleza. A minha
melhor amiga é uma negra de
Uganda. E é uma das pessoas
mais lindas que eu já vi.
FOLHA - Então acha que vale a pena ter todas as raças nas passarelas?
GISELE - Acho que as pessoas
têm que ter o direito de se apresentar. Mas também têm que
ter o direito de escolha. Já pensou se eu chegasse aqui e dissesse: "Você vai ser obrigado a
usar preto todos os dias e não
vai mais poder usar xadrez"?
Nada do que é feito por obrigação tem uma boa aceitação.
Nesse caso [dos negros na
SPFW], porém, vale a pena tentar. Acho que pode ser positivo.
FOLHA - A moda é cara?
GISELE - Tem moda cara e não
cara. As duas são válidas. Obviamente, se você compra uma
Chanel, vai durar alguns anos.
Mas as pessoas podem estar na
moda sem gastar muito. Acho
que estar na moda é se sentir
confortável com você mesmo.
Não sigo tendência. Uso coisas
que me deixam confortável.
FOLHA - Você pensa na velhice?
GISELE - Não vou dizer que fico
aqui sentada pensando assim:
"Como vai ser quando eu ficar
velha?". Mas vou fazer 29 anos
e estou muito feliz onde estou.
Eu me sinto muito mais segura
hoje, mais confortável por ser
eu. Quando era mais jovem, era
insegura. Não sabia se eu podia
falar tal coisa, se podia usar tal
coisa. Você se sente julgada pela sociedade. Adolescência é
uma parte difícil. E eu já estava
trabalhando. Hoje sou mais feliz, porque passei por muito
mais coisa. Minha mãe tem 61
anos e eu vejo a calma dela -a
idade traz isso.
FOLHA - Como você se imagina daqui 50 anos?
GISELE - Eu era muito de fazer
planos e acho que muitas coisas
não aconteceram como eu queria que acontecessem. Hoje,
sou muito mais aberta à vida
como ela é. Quero viver cada
momento porque, de repente,
um avião cai, alguma coisa
acontece... Acho muito prepotente pensar que vou estar aqui
em 50 anos. O que eu sei é que
quero estar feliz no futuro.
Quero estar com minha família,
cuidando de mim, me entendendo e entendendo as pessoas
ao meu redor...
FOLHA - Uma família com quantos
filhos?
GISELE - Não sei . Eu sou de uma
família grande. E o sonho de toda mulher é ter filhos. Eu quero
ter uma família maravilhosa.
FOLHA - Que nome você daria a seu
primeiro filho ou sua primeira filha?
GISELE - O nome você tem que
dar quando ver a carinha da
criança. A gente [o marido e
ela] comprou um cachorrinho.
Demorou um mês para ele chegar e uns dez dias para ganhar
um nome. Eu queria um, e o
Tom queria outro. Demos o nome de Lua. Sou canceriana regida pela Lua, então queria que
o nome dela fosse esse. Tenho
também a Vida, chamo ela desse jeito o tempo inteiro: "Vem
Vidinha, vem Vidinha".
FOLHA - O seu marido gostou do
Brasil?
GISELE - Gostou. Foi muito bom
levá-lo para o lugar onde nasci.
Ele conheceu o meu único avô
vivo. Tom já fala algumas palavras em português. Bem pouco.
É uma língua muito difícil.
FOLHA - Por que, em entrevistas,
você restringe os assuntos que os
jornalistas podem abordar?
GISELE - Acredito muito em liberdade de expressão. Só não
gosto muito de falar da minha
vida pessoal. Alguma coisa você
tem que manter reservado. Se
não, você fica muito exposta. As
pessoas falam muito sobre a
minha vida.
Hoje, a mídia não tem o mesmo jeito de antes de falar sobre
as pessoas. Infelizmente, 90%
das notícias que saem por aí
não têm validade nenhuma.
Quando você fala alguma coisa,
os jornalistas colocam aquilo
de forma sensacionalista, do
jeito deles e não do jeito como
você falou. Às vezes, pegam um
pedacinho de uma coisa que você disse, tiram totalmente do
contexto. Não estão querendo
falar a verdade. Hoje o lema é:
"Como é que eu vou fazer para
o meu jornal vender?".
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