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EDUCAÇÃO
Documentos foram desconsiderados por ex-dirigente de comissão, mas decisão obriga MEC a analisá-los, o que pode atrasar prova
Liminar pode levar a adiamento do Enem
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Justiça Federal suspendeu,
por liminar, a homologação do
resultado final da licitação que irá
definir quem aplicará as provas
do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Previsto para 31 de
agosto, o exame corre o risco de
ser adiado se a liminar não for
derrubada até a próxima semana.
A licitação foi tumultuada desde
o início. Chegou a causar o pedido
de demissão do ex-presidente da
Comissão Especial de Licitação
José Carlos de Menezes.
Em documento obtido pela Folha, protocolado na terça no órgão do Ministério da Educação
que faz o Enem -o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais)-, Menezes
afirma que foi pressionado pela
diretoria do instituto a aceitar como válidos documentos que beneficiariam o consórcio FUB-Cespe/Vunesp, fundações ligadas,
respectivamente, à UnB (Universidade de Brasília) e à Unesp
(Universidade Estadual Paulista).
O pedido de liminar foi protocolado pelo consórcio. Extra-oficialmente, a Fundação Cesgranrio (RJ), que ganhou todas as licitações do Enem, venceu novamente neste ano a concorrência.
O juiz Charles Renaud Frazão
de Moraes, da 17ª Vara Federal,
no Distrito Federal, concedeu a liminar para que seja analisado pela comissão um documento que
pode beneficiar o consórcio. A
Comissão Especial de Licitação
não usou documentos apresentados pelo grupo (os mesmos que
geraram denúncias de Menezes)
para a contagem de pontos.
O Inep abriu sindicância após
consultar o ministro Cristovam
Buarque (Educação), que aprovou a idéia. Se o Enem for adiado,
pode gerar, no mínimo, prejuízo
de R$ 8 milhões com despesas de
comunicação pelo correio.
Toda a confusão teve início
quando o ex-presidente do Inep
Otaviano Helene decidiu suspender o processo licitatório, no mês
passado, apesar de um parecer da
procuradoria do próprio instituto
dizer que o processo era válido.
A Procuradoria Geral da República, consultada pelo ministério,
determinou no último dia 2, no
entanto, que o processo era válido. Com isso, a Cesgranrio deve
ser declarada vencedora. Um dia
antes, Helene pediu demissão.
A licitação do Enem levou em
conta preço, capacidade técnica e
experiência para realizar a prova.
Um dos itens que contariam pontos e poderiam decidir a licitação
era o de comprovação de que o
concorrente tem capacidade e experiência para fazer o exame.
Para comprovar essa competência, a FUB-Cespe/Vunesp
apresentou um atestado emitido
pela Unesco e outro pelo Saresp, o
sistema de avaliação da Secretaria
da Educação de São Paulo.
Menezes diz que, ao ligar para
as instituições, ouviu de seus representantes que "não houve
aplicação de provas" pela Vunesp
(no caso do Saresp) e que a participação da FUB não se tratava de
avaliação de alunos ou de sistemas de ensino -caso da Unesco.
Após não aceitar os documentos como válidos na contagem de
pontos, Menezes diz que começou a ser questionado pela diretoria do Inep. "O senhor coordenador-geral de licitações demonstrou-se insatisfeito com o resultado, passando desde então a questionar-me quanto ao julgamento,
em especial quanto à possibilidade de aceitação dos atestados rejeitados, recebendo, via de consequência, respostas negativas de
minha parte [sic]", diz Menezes.
Dizendo-se pressionado, ele pediu demissão em 20 de maio.
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