São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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"Se aparecesse uma casa, largava tudo"

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Chico da Pedra, 70, decidiu viver isolado desde que sua mulher morreu, no começo da década de 80. Hoje já está cansado da caverna. "Eu gosto do sossego, mas, se aparecesse uma casa lá embaixo para mim, largava tudo."
Por meio de uma dica do irmão, que então morava na favela, ele descobriu a gruta, que no princípio era apenas uma rocha pregada ao chão. Ele cavou ao redor até descortinar uma pequena caverna. Depois fechou a entrada com madeira, cimento e uma porta.
O ambiente interno tem 20 m2 e o teto é inclinado, com altura máxima de dois metros. O espaço não tem divisão. A mobília se restringe a cama, fogão, geladeira e um rádio. Roupas e mantimentos são guardados em caixas.
As paredes de pedra protegem no caso de balas perdidas no morro. A água da chuva não entra, mas o clima interno é pouco hospitaleiro. "No inverno, aqui dentro é muito gelado; no verão, muito quente." O banho também é frio, e o banheiro, no mato.
Chico da Pedra tem filhos e netos que moram no Vidigal, em casas próximas à sua caverna. Ele não recebe aposentadoria e ficou inválido para trabalhar quando fraturou o ombro após cair de um prédio em que fazia limpeza. Hoje vive da ajuda da família e de doações da associação de moradores.
A fama de rezador também lhe rende alguns clientes que chegam em busca de cura. Em seu quintal, é possível colher frutas como jaca, tangerina, banana e abacate.


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