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Funcionária salta para fugir do inferno
Segundo os bombeiros, a temperatura no prédio da empresa chegou a 1.000ºC, no momento de intensidade máxima
Da av. dos Bandeirantes, por trás da pista do aeroporto de Congonhas, a fumaça negra era visível mesmo na escuridão da noite
LAURA CAPRIGLIONE
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Por volta das 19h de ontem,
uma funcionária uniformizada
da TAM Express, em desespero, jogou-se do edifício que fica
no número 7.305 da avenida
Washington Luís. O prédio tinha acabado de ser atropelado
na lateral pelo Airbus A320. Labaredas começavam a subir,
acompanhadas por uma grossa
coluna de fumaça preta que logo enegreceu o céu.
A funcionária estava no primeiro andar. Acossada pelo calor e pela fumaça do prédio em
chamas (segundo os bombeiros, a temperatura interna chegou a 1.000ºC, no momento de
intensidade máxima), sem conseguir sair do edifício, ela jogou-se de qualquer jeito. Caiu
com a cara no chão. O corpo ficou na calçada, imóvel, enquanto as vidraças do edifício
estilhaçavam-se sob efeito do
calor -os cacos choviam sobre
o corpo da funcionária.
"Foi horrível. O barulho do
corpo batendo no chão eu nunca vou me esquecer", lembra a
jornalista da TV Cultura, Laís
Duarte. Ela estava no aeroporto de Congonhas fazendo mais
uma reportagem sobre a crise
aérea. Quando ouviu o estrondo da queda do avião da TAM,
correu para o local.
A repórter ainda pôde ver a
correria das pessoas que, naquela hora de saída do trabalho,
lotavam um ponto de ônibus
quase defronte ao prédio atingido. "O temor generalizado
era que as chamas atingissem
um posto Shell que fica a menos de 50 metros de onde acontecia o incêndio."
Dois bombeiros e um passante tentaram socorrer a funcionária caída. Precisaram esperar
todas as janelas reduzirem-se a
cacos no chão. Além da funcionária, outro homem jogou-se
do prédio. Muito queimado, estava sem os cabelos e as roupas
-tinha o corpo enegrecido. Segundo Laís e o cinegrafista
Marcelo Scano, não dava para
identificar-lhe a fisionomia.
As equipes de resgate demoraram dez minutos para chegar
ao local. Mas o desespero na
avenida durou bem mais.
Da avenida dos Bandeirantes, por trás da pista de Congonhas, a fumaça negra era visível
à distância, mesmo na escuridão da noite. Defronte ao 7.305
da Washington Luís, via-se a
cauda do avião. Labaredas jogavam uma massa de ar quente
no rosto de quem se aventurava
pelo local, apesar da noite fria e
da chuva que caía.
Às 20h, no prédio ao lado, um
estrondo. Um cogumelo de fogo subiu bem perto de onde estavam bombeiros, repórteres e
curiosos. Foi a primeira de uma
série de explosões que acabariam por levar ao desabamento
parcial da edificação. Os caminhões-pipa dos bombeiros, em
número de 50, não conseguiam
dominar as chamas, que, depois da primeira explosão, voltaram a ganhar força.
O ar estava tomado por uma
mistura de fumaça e pó. As luzes nos postes estavam acesas,
mas a atmosfera carregada impunha o breu. O ar sufocante
com cheiro de borracha queimada embrulhava o estômago.
Dois bombeiros carregavam
uma maca com o corpo da primeira vítima retirada dos escombros. Estava chamuscado e
parecia ter morrido em posição
fetal. Foi embrulhado em uma
espécie de papel de alumínio e
depois recoberto por um plástico. A pista da Washington Luís
tinha 36 macas perfiladas à espera de novas vítimas.
Ali ao lado, no saguão do aeroporto, uma enorme fila -como nunca vista nas sucessivas
crises aéreas- lotava a área do
check-in em direção ao balcão
da TAM. Mas a única voz que se
ouvia era a do alto-falante que
anunciava o fechamento do aeroporto. Da parte dos passageiros, silêncio absoluto.
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