São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2008

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Kassab amplia bilhete único, apesar do déficit nas contas

Candidato à reeleição, ele anunciou medida que pode ampliar subsídios no setor

A partir do dia 28, validade do bilhete único será ampliada de duas para três horas; subsídio dado ao setor cresceu 51,5% em relação a 2007

Leo Caobelli/Folha Imagem
Corredor de ônibus em SP; validade de bilhete único foi ampliada

EVANDRO SPINELLI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição e terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, anunciou uma medida para beneficiar os usuários de ônibus em São Paulo, mas que deve agravar o buraco nas contas do transporte municipal e a necessidade crescente de subsídios ao setor.
A partir do dia 28, a validade do bilhete único será ampliada de duas para três horas -tempo em que os passageiros poderão fazer até quatro viagens pagando a tarifa de R$ 2,30.
A estratégia repetiu a da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), que, em 2004, lançou os benefícios do cartão também às vésperas das eleições, sofreu críticas dos opositores por conta dos impactos econômicos, mas difundiu uma marca da petista principalmente na periferia.
A medida, segundo Kassab, atinge especialmente os extremos sul e leste, regiões de eleitorado majoritariamente de Marta e onde a crise no transporte e no trânsito já leva parte dos usuários a ficar mais de duas horas presa na condução.
O benefício foi anunciado após uma disparada das subvenções para custear os gastos do setor (inclusive com renovação da frota) durante a gestão Kassab -e evitar a elevação da tarifa em pleno ano eleitoral.
De janeiro a abril (a SPTrans não divulgou os dados solicitados de maio a julho), os subsídios para conseguir pagar empresas de ônibus e perueiros saltaram para uma média de R$ 40 milhões por mês, contra os R$ 26,4 milhões do início de 2007 -um aumento de 51,5%.
O último reajuste da passagem na capital paulista ocorreu em novembro de 2006, mês seguinte às eleições estaduais e presidenciais, quando ela saltou de R$ 2 para R$ 2,30.
De lá para cá, a variação da inflação pelo IPCA (índice de correção aferido pelo IBGE) superou 9% e a prefeitura também concedeu dois reajustes na remuneração de empresas de ônibus e perueiros -que são anuais, conforme previsão contratual, e independem da tarifa.
A ampliação do tempo de validade do bilhete único também se dá em meio a discussões de técnicos do município sobre a necessidade de reajuste da tarifa de ônibus -que, ao longo da década, sempre seguiu a cronologia eleitoral, ou seja, ocorre sempre depois das eleições.
Segundo funcionários da SPTrans, a alta, que foi compensada nos últimos meses pela elevação dos subsídios, se dará até fevereiro de 2009, quando também deve haver reajuste da tarifa do metrô e dos trens.

Infra-estrutura
Os subsídios ao transporte costumam ter a aprovação de parte dos especialistas (devido ao benefício social), que ressalvam, porém, a necessidade de um controle para garantir que também haja investimentos na infra-estrutura -por exemplo, em novos corredores exclusivos de ônibus.
O secretário Alexandre de Moraes (Transportes) alegou ontem à noite que dois terços dos recursos tirados do Orçamento são repassados aos operadores para que haja renovação da frota, com a inclusão de 2.000 veículos novos.
O prefeito Kassab disse que haverá em torno de 800 mil beneficiados pelo novo bilhete único -número considerado superestimado por técnicos.
Ele afirmou prever um gasto adicional de R$ 80 milhões por ano com esse benefício, mas que será compensado por outras economias que chegam a R$ 260 milhões (com renegociação de contratos e medidas de combate a fraudes no bilhete único, alardeadas em anos anteriores).
O que Kassab já gasta em média com subsídio ao transporte por ônibus é suficiente para construir cerca de dois quilômetros de corredores de ônibus por mês - em um ano, daria para concluir um trecho equivalente ao que está em obras no Expresso Tiradentes (antigo Fura-Fila), da Vila Prudente a Cidade Tiradentes.
Ou seja, em vez de fazer mais corredores para diminuir a duração da viagem dos usuários, Kassab optou por custear um tempo maior que se perde dentro dos ônibus no trânsito.
"Em vez de aplicar o subsídio para gastar hora seria melhor gastar o subsídio em economizar hora. Menos dó e mais engenharia", diz o engenheiro Luiz Célio Bottura.
"Há três anos, quando o bilhete único foi criado, eram duas horas. Agora, são três. Daqui a cinco anos vai se fazer o quê? Aumentar para quatro? O que falta é um planejamento estratégico", diz Adriane Fontana, engenheira de transportes com doutorado na USP.
Em abril, a arrecadação com a tarifa foi de R$ 296,6 milhões, enquanto as despesas atingiram R$ 363,4 milhões, de acordo com a SPTrans.


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