|
Próximo Texto | Índice
Kassab amplia bilhete único, apesar do déficit nas contas
Candidato à reeleição, ele anunciou medida que pode ampliar subsídios no setor
A partir do dia 28, validade do bilhete único será ampliada de duas para três horas; subsídio dado ao setor cresceu 51,5% em relação a 2007
Leo Caobelli/Folha Imagem
|
|
Corredor de ônibus em SP; validade de bilhete único foi ampliada
EVANDRO SPINELLI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito Gilberto Kassab
(DEM), candidato à reeleição e
terceiro colocado nas pesquisas
de intenção de voto, anunciou
uma medida para beneficiar os
usuários de ônibus em São Paulo, mas que deve agravar o buraco nas contas do transporte
municipal e a necessidade crescente de subsídios ao setor.
A partir do dia 28, a validade
do bilhete único será ampliada
de duas para três horas -tempo em que os passageiros poderão fazer até quatro viagens pagando a tarifa de R$ 2,30.
A estratégia repetiu a da ex-prefeita Marta Suplicy (PT),
que, em 2004, lançou os benefícios do cartão também às vésperas das eleições, sofreu críticas dos opositores por conta
dos impactos econômicos, mas
difundiu uma marca da petista
principalmente na periferia.
A medida, segundo Kassab,
atinge especialmente os extremos sul e leste, regiões de eleitorado majoritariamente de
Marta e onde a crise no transporte e no trânsito já leva parte
dos usuários a ficar mais de
duas horas presa na condução.
O benefício foi anunciado
após uma disparada das subvenções para custear os gastos
do setor (inclusive com renovação da frota) durante a gestão
Kassab -e evitar a elevação da
tarifa em pleno ano eleitoral.
De janeiro a abril (a SPTrans
não divulgou os dados solicitados de maio a julho), os subsídios para conseguir pagar empresas de ônibus e perueiros
saltaram para uma média de
R$ 40 milhões por mês, contra
os R$ 26,4 milhões do início de
2007 -um aumento de 51,5%.
O último reajuste da passagem na capital paulista ocorreu
em novembro de 2006, mês seguinte às eleições estaduais e
presidenciais, quando ela saltou de R$ 2 para R$ 2,30.
De lá para cá, a variação da
inflação pelo IPCA (índice de
correção aferido pelo IBGE)
superou 9% e a prefeitura também concedeu dois reajustes
na remuneração de empresas
de ônibus e perueiros -que são
anuais, conforme previsão contratual, e independem da tarifa.
A ampliação do tempo de validade do bilhete único também
se dá em meio a discussões de
técnicos do município sobre a
necessidade de reajuste da tarifa de ônibus -que, ao longo da
década, sempre seguiu a cronologia eleitoral, ou seja, ocorre
sempre depois das eleições.
Segundo funcionários da
SPTrans, a alta, que foi compensada nos últimos meses pela elevação dos subsídios, se dará até fevereiro de 2009, quando também deve haver reajuste
da tarifa do metrô e dos trens.
Infra-estrutura
Os subsídios ao transporte
costumam ter a aprovação de
parte dos especialistas (devido
ao benefício social), que ressalvam, porém, a necessidade de
um controle para garantir que
também haja investimentos na
infra-estrutura -por exemplo,
em novos corredores exclusivos de ônibus.
O secretário Alexandre de
Moraes (Transportes) alegou
ontem à noite que dois terços
dos recursos tirados do Orçamento são repassados aos
operadores para que haja renovação da frota, com a inclusão de 2.000 veículos novos.
O prefeito Kassab disse que
haverá em torno de 800 mil
beneficiados pelo novo bilhete único -número considerado superestimado por técnicos.
Ele afirmou prever um gasto adicional de R$ 80 milhões
por ano com esse benefício,
mas que será compensado por
outras economias que chegam
a R$ 260 milhões (com renegociação de contratos e medidas de combate a fraudes no
bilhete único, alardeadas em
anos anteriores).
O que Kassab já gasta em
média com subsídio ao transporte por ônibus é suficiente
para construir cerca de dois
quilômetros de corredores de
ônibus por mês - em um ano,
daria para concluir um trecho
equivalente ao que está em
obras no Expresso Tiradentes
(antigo Fura-Fila), da Vila
Prudente a Cidade Tiradentes.
Ou seja, em vez de fazer
mais corredores para diminuir a duração da viagem dos
usuários, Kassab optou por
custear um tempo maior que
se perde dentro dos ônibus no
trânsito.
"Em vez de aplicar o subsídio para gastar hora seria melhor gastar o subsídio em economizar hora. Menos dó e
mais engenharia", diz o engenheiro Luiz Célio Bottura.
"Há três anos, quando o bilhete único foi criado, eram
duas horas. Agora, são três.
Daqui a cinco anos vai se fazer
o quê? Aumentar para quatro?
O que falta é um planejamento estratégico", diz Adriane
Fontana, engenheira de transportes com doutorado na
USP.
Em abril, a arrecadação com
a tarifa foi de R$ 296,6 milhões, enquanto as despesas
atingiram R$ 363,4 milhões,
de acordo com a SPTrans.
Próximo Texto: Vai dar para ir e voltar com o bilhete, diz dona-de-casa Índice
|