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Vai dar para ir e voltar com o bilhete, diz dona-de-casa
DA REPORTAGEM LOCAL
O segurança Gilberto Simões, 29, costuma levar em
média cerca de duas horas, em
três conduções, para ir todos os
dias de casa, no Jardim Ângela,
até o trabalho, no Jabaquara,
ambos bairros da região sul. Há
cinco anos, ele conta que gastava menos da metade desse tempo. "Preferia um transporte
mais rápido, em vez de mais
tempo de bilhete único", diz.
No entanto, ele acha que o
aumento de duas para três horas do tempo para transbordos,
anunciado ontem pelo prefeito
Gilberto Kassab (DEM), vai ser
vantajoso, "principalmente nas
segundas e sextas, quando tem
mais trânsito e levo mais de
duas horas para chegar".
O ganho, porém, será no conforto de poder passar logo pela
catraca -para otimizar as duas
horas de gratuidade do bilhete
único, Simões costumava lançar mão de uma artimanha comum entre os usuários de coletivos: esperar chegar perto do
destino para só então pagar a
passagem (o que costuma superlotar a parte da frente). "Na
maioria das vezes, duas horas já
era suficiente", observou.
Quando tinha que passar
mais de duas horas em ônibus,
a manicure Ivana Henrique, 45,
costumava fazer o mesmo.
"Mas para mim não muda muito", diz ela, que não tinha problemas para fazer a viagem de
casa, em Piraporinha (extremo
sul) até Santo Amaro (na mesma região) no antigo tempo.
Para ela, a medida será útil
mesmo nos dias em que precisar "ir a uma consulta médica"
ou "rodar pela 25 de março, para fazer uma ou outra compra"
-casos em que "dará para ir e
voltar com a mesma passagem", propósito diferente da
intenção inicial do bilhete único, de baratear trajetos unidirecionais, quando foi concebido.
Para Ivana, a medida é um
"toma lá-dá-cá". "A depender
do custo desse tempo a mais
[para a prefeitura] pode não ser
vantagem", diz ela. "Já estou
me preparando para um aumento da passagem, ou de algum imposto que a gente nem
sabe". A prefeitura nega.
A vantagem para o barman
Edmilson França, 27, também
vai se resumir aos dias de passeio. Ele trabalha em Moema
(região sul) e volta para casa, no
Jardim Ângela, todos os dias
após a 0h30, quando passa o último ônibus da linha. "Tenho
que recorrer a uma perua clandestina. Poderiam distribuir
melhor os horários", afirma.
(RICARDO SANGIOVANNI)
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