São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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GILBERTO DIMENSTEIN

Fazer sucesso é...


Espaços lúdicos e coloridos criaram um novo padrão de ambiente de trabalho para os jovens brasileiros


A DECORAÇÃO DO escritório do Google no Brasil combina móveis de design baseados nos princípios da ergonomia com redes, pufes, tabuleiros de xadrez, bolas de basquete e de futebol e videogames de última geração, disponíveis para uso no horário de trabalho. Imaginados para que os profissionais relaxassem, descarregassem energia e estimulassem a criatividade, os espaços lúdicos e coloridos criaram um novo padrão de ambiente de trabalho para os jovens brasileiros.
Um levantamento realizado, neste ano, com 35 mil brasileiros entre 17 e 28 anos de idade, a maioria deles de classe média ou alta, apontou o Google em primeiro lugar na lista de empresas dos sonhos, superando organizações como a Natura, a Microsoft, a Vale ou a Petrobras.
O imaginário em torno do Google revela a mentalidade da elite jovem do país, com suas esperanças e ilusões. Ao mesmo tempo, mostra o desafio de atrair talentos, preocupação de dez entre dez empresários, todos angustiados com o apagão de trabalhadores qualificados.

 

Feito por uma agência especializada em seleção de estagiários e trainees para grandes empresas (Cia. de Talentos), o levantamento tentou descobrir o que significa sucesso.
Sucesso, em primeiro lugar, é fazer aquilo de que se gosta (36%). Em segundo lugar, equilíbrio entre vida profissional e pessoal (20%). Em terceiro, sensação de realização (17%), seguida de reconhecimento.
Ser bem-sucedido financeiramente aparece em quinto lugar, com 5%. Muito dinheiro no bolso não vale o preço do aborrecimento, da rotina e da vida pessoal em frangalhos.

 

Essas prioridades confirmam-se em outro trecho da pesquisa, em que os jovens dizem o que os faria deixar uma empresa - e estamos falando sobretudo de jovens das classes mais abastadas, com mais e melhor escolaridade. As três mais importantes razões para ir embora: ambiente de trabalho ruim (27%), pouco desenvolvimento profissional (16%) e baixa qualidade de vida (11%). De novo, questões materiais não estão no topo: estabilidade de emprego ficou com 7%; salários e benefícios, com 5%.
Com suas inovações e ambiente informal, o Google captou o desejo -e a ilusão- de trabalhar em um lugar em que também se pode brincar. Ilusão porque os profissionais daquela empresa, embora se sintam num ambiente estimulante, são submetidos a uma pressão constante, avaliados por metas trimestrais, cercados de competidores. Todos aqueles brinquedos foram colocados ali para que eles sejam mais produtivos. Gente muito estressada, como sabemos, deixa rapidamente de ser produtiva e inventiva.
E o que não falta no mundo das novas mídias é estresse. Lembremos que, no ano passado, o Kindle foi apresentado como a mais fantástica inovação para ler livros. Em poucos meses, foi suplantado pelo iPad. Os mais jovens já estão decretando a morte do e-mail. Com seu culto aos 140 caracteres, o Twitter abateu a supremacia dos blogs. O Facebook desbastou a força do Orkut, e o YouTube passou para trás o MySpace.
É ilusão achar que, nesse ambiente, se produz gente com o equilíbrio emocional de um monge budista.

 

Ninguém discorda de que uma grande meta na vida é fazer aquilo de que se gosta. Vale mesmo muito mais do que estar doente e cheio de dinheiro, gasto em ansiolíticos, tranquilizantes e terapeutas.
Mas há um problema: parte dos jovens das classes média e alta vêm revelando baixa capacidade de suportar frustração, resultado do excesso de proteção familiar combinado com a vontade de atender desejos de imediato. O ambiente de mídias sociais abalou as noções de hierarquia e o reforço dos processos colaborativos. Na internet, a interatividade é a regra básica.

 

Existe, porém, uma mensagem simples. Se quiserem atrair os melhores talentos, as empresas vão ter de oferecer ambientes inovadores, sem estruturas rígidas e hierarquias sufocantes, em que se possa aprender sempre e se sentir estimulado por novos desafios. Afinal, quanto mais criativo um profissional, menor sua tolerância à rotina e à repetição.
Basta ver como muitos desses jovens pioneiros das novas tecnologias deram mais atenção, na universidade, a seus projetos do que às aulas. Apenas três exemplos de gente que nem se formou ou foi levando a escola "nas coxas": Steve Jobs (Apple), Bill Gates (Microsoft) e Mark Zukenberg (Facebook).
O resumo disso tudo é a percepção de que a empresa dos sonhos é o lugar que inova porque todos são obrigados a aprender sempre.
 

PS- No site www.dimenstein.com.br, pus mais dados da pesquisa sobre os sonhos profissionais dos jovens.

gdimen@uol.com.br


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