|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
As leis que regem as prisões femininas são diferentes
DRAUZIO VARELLA
COLUNISTA DA FOLHA
Doutor, cadeia foi feita para homem, disse uma prisioneira no dia em que cheguei
na Penitenciária Feminina,
quatro anos atrás.
De fato, as leis que regem a
conduta nas prisões femininas são diferentes das penitenciárias masculinas.
Como o estabelecimento
da hierarquia é inerente à
restrição do espaço físico em
que convivem seres humanos, e os homens são muito
obedientes a ela, entre eles ficam mais claras as relações
de domínio e submissão, a
estrutura das coalizões e da
organização dos grupos na
disputa pelo poder.
Embora nos presídios femininos também ocorra fenômeno semelhante, não há
a mesma linearidade. As relações são mais complexas
porque as detentas operam
em rede.
Apesar de muitas vezes
dar a impressão contrária, a
mulher é sobretudo contestadora e avessa à submissão
hierárquica.
O cotidiano é dominado
pela solidão. Ao ir para a cadeia é separada dos filhos,
abandonada pelo homem, fica mais pobre ainda, mal cuidada e ganha peso por causa
da dieta e do sedentarismo.
Nessas condições, quem
quer saber de uma mulher?
Poucas pessoas, a julgar
pelo tamanho das filas nos
dias de visita. Até familiares
próximos se afastam. A mãe
visita o filho preso durante
anos; a filha não merece a
mesma consideração.
A vida solitária é um convite ao abuso de drogas ilícitas
e a relacionamentos homossexuais que amenizam as
agruras do cárcere.
Impossível saber quantas
mulheres têm namoradas
dentro da penitenciária, mas
são centenas.
Ao ganhar a liberdade, sozinhas, com a folha de antecedentes manchada, como
ganhar o sustento dos filhos,
que geralmente são muitos?
DRAUZIO VARELLA é médico
cancerologista e trabalha às segundas-feiras na penitenciária de Santana
Texto Anterior: Números da penitenciária Próximo Texto: "Engravidei na visita íntima, que dizem que não pode" Índice
|