São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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ANÁLISE

As leis que regem as prisões femininas são diferentes

DRAUZIO VARELLA
COLUNISTA DA FOLHA

Doutor, cadeia foi feita para homem, disse uma prisioneira no dia em que cheguei na Penitenciária Feminina, quatro anos atrás.
De fato, as leis que regem a conduta nas prisões femininas são diferentes das penitenciárias masculinas. Como o estabelecimento da hierarquia é inerente à restrição do espaço físico em que convivem seres humanos, e os homens são muito obedientes a ela, entre eles ficam mais claras as relações de domínio e submissão, a estrutura das coalizões e da organização dos grupos na disputa pelo poder.
Embora nos presídios femininos também ocorra fenômeno semelhante, não há a mesma linearidade. As relações são mais complexas porque as detentas operam em rede.
Apesar de muitas vezes dar a impressão contrária, a mulher é sobretudo contestadora e avessa à submissão hierárquica.
O cotidiano é dominado pela solidão. Ao ir para a cadeia é separada dos filhos, abandonada pelo homem, fica mais pobre ainda, mal cuidada e ganha peso por causa da dieta e do sedentarismo.
Nessas condições, quem quer saber de uma mulher?
Poucas pessoas, a julgar pelo tamanho das filas nos dias de visita. Até familiares próximos se afastam. A mãe visita o filho preso durante anos; a filha não merece a mesma consideração.
A vida solitária é um convite ao abuso de drogas ilícitas e a relacionamentos homossexuais que amenizam as agruras do cárcere.
Impossível saber quantas mulheres têm namoradas dentro da penitenciária, mas são centenas.
Ao ganhar a liberdade, sozinhas, com a folha de antecedentes manchada, como ganhar o sustento dos filhos, que geralmente são muitos?

DRAUZIO VARELLA é médico cancerologista e trabalha às segundas-feiras na penitenciária de Santana


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