São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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cotidiano em cima da hora

Colegas de menino morto em escola temem volta à aula

Professores também falam em trauma durante enterro, e diretora afirma que ida à aula é facultativa amanhã

Nenhuma autoridade vai ao enterro do menino Wesley Gilbert Andrade, morto por bala perdida na sala de aula

DENISE MENCHEN
DO RIO

No enterro de Wesley Gilbert Rodrigues de Andrade, 11, ontem, no cemitério de Irajá, zona norte do Rio, colegas e professores disseram não saber como voltarão ao Ciep Rubens Gomes, onde o menino foi atingido no peito por bala perdida na sexta.
"Não quero voltar, estou com trauma", disse Douglas Leonardo, 10, que estava na sala quando o colega foi atingido. "Foi tudo embora com o Wesley. Todo o nosso trabalho foi embora", lamentou em voz alta, no velório, a diretora do Ciep, Rejane Faria.
Segundo funcionários, a diretora comunicou que quem não se sentir à vontade não precisa ir à aula. Para quem for, recomendou ir de branco. A Secretaria Municipal de Educação enviará psicólogos e assistentes sociais.
A Polícia Militar realizava na sexta-feira uma operação nos morros de Costa Barros (zona norte) próximos ao Ciep. O menino foi baleado durante aula de matemática.
Segundo relatos, quando começaram os tiros, as crianças fizeram o que sempre fazem durante os frequentes confrontos: foram ao corredor, pois as janelas das salas são viradas para os morros.
Quando a situação pareceu calma, as turmas voltaram. Em seguida, os tiros recomeçaram e Wesley foi atingido. Ainda andou em direção ao corredor e caiu.
Nenhuma autoridade foi ao enterro, pago pelo governo do Rio. O pai de Wesley, o caixa de restaurante Ricardo Freire de Andrade, 31, disse não estar "com cabeça para pensar em nada" e que só depois vai decidir se processa o Estado. Muito abalada, a mãe, Isiane Rodrigues, diarista, não deu entrevista.
Uma camisa do São Paulo, time de Wesley, foi posta sobre o caixão. Ele morou na capital paulista dos oito meses até os "sete, oito anos", segundo o pai. No Rio, vivia com a mãe e padrasto e dizia ter medo dos tiros na área.

PERÍCIA
O comandante da PM, Mário Sérgio Duarte, determinou à corregedoria uma investigação rápida e exonerou ontem mesmo o comandante do 9º BPM (Rocha Miranda), Fernando Príncipe Martins, responsável pela operação.
A bala que atingiu o menino foi levada para análise por peritos. O projétil de calibre 7.62 é compatível com o Fuzil Automático Leve (FAL), usado pela PM. Os fuzis utilizados foram requisitados.


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