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cotidiano em cima da hora
Colegas de menino morto em escola temem volta à aula
Professores também falam em trauma durante enterro, e diretora afirma que ida à aula é facultativa
amanhã
Nenhuma autoridade vai ao enterro do menino Wesley Gilbert Andrade, morto por bala perdida na sala de aula
DENISE MENCHEN
DO RIO
No enterro de Wesley Gilbert Rodrigues de Andrade,
11, ontem, no cemitério de
Irajá, zona norte do Rio, colegas e professores disseram
não saber como voltarão ao
Ciep Rubens Gomes, onde o
menino foi atingido no peito
por bala perdida na sexta.
"Não quero voltar, estou
com trauma", disse Douglas
Leonardo, 10, que estava na
sala quando o colega foi atingido. "Foi tudo embora com
o Wesley. Todo o nosso trabalho foi embora", lamentou
em voz alta, no velório, a diretora do Ciep, Rejane Faria.
Segundo funcionários, a
diretora comunicou que
quem não se sentir à vontade
não precisa ir à aula. Para
quem for, recomendou ir de
branco. A Secretaria Municipal de Educação enviará psicólogos e assistentes sociais.
A Polícia Militar realizava
na sexta-feira uma operação
nos morros de Costa Barros
(zona norte) próximos ao
Ciep. O menino foi baleado
durante aula de matemática.
Segundo relatos, quando
começaram os tiros, as crianças fizeram o que sempre fazem durante os frequentes
confrontos: foram ao corredor, pois as janelas das salas
são viradas para os morros.
Quando a situação pareceu calma, as turmas voltaram. Em seguida, os tiros recomeçaram e Wesley foi atingido. Ainda andou em direção ao corredor e caiu.
Nenhuma autoridade foi
ao enterro, pago pelo governo do Rio. O pai de Wesley, o
caixa de restaurante Ricardo
Freire de Andrade, 31, disse
não estar "com cabeça para
pensar em nada" e que só depois vai decidir se processa o
Estado. Muito abalada, a
mãe, Isiane Rodrigues, diarista, não deu entrevista.
Uma camisa do São Paulo,
time de Wesley, foi posta sobre o caixão. Ele morou na
capital paulista dos oito meses até os "sete, oito anos",
segundo o pai. No Rio, vivia
com a mãe e padrasto e dizia
ter medo dos tiros na área.
PERÍCIA
O comandante da PM, Mário Sérgio Duarte, determinou à corregedoria uma investigação rápida e exonerou
ontem mesmo o comandante
do 9º BPM (Rocha Miranda),
Fernando Príncipe Martins,
responsável pela operação.
A bala que atingiu o menino foi levada para análise por
peritos. O projétil de calibre
7.62 é compatível com o Fuzil
Automático Leve (FAL), usado pela PM. Os fuzis utilizados foram requisitados.
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