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Açaí faz 1 vítima de Chagas a cada 4 dias na Amazônia
Dados do Ministério da Saúde apontam 15 surtos da doença nos últimos 15 meses na região
Desde junho do ano passado, 116 pessoas foram infectadas após ingerir sucos típicos; todos os casos ocorreram em localidades rurais
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
A cada quatro dias, em média, uma pessoa é infectada
com doença de Chagas ao beber
suco de açaí na Amazônia. Tem
sido assim nos últimos 15 meses, quando 15 surtos da doença
foram registrados no Pará, no
Amazonas e no Amapá.
Neste mês, já há dois surtos
notificados: um em Breves (PA)
e outro em Abaetetuba (PA).
Quinze pessoas foram diagnosticadas com a enfermidade.
Uma morte é investigada.
Os dados, do Ministério da
Saúde, evidenciam uma nova
preocupação do órgão: lidar
com a transmissão oral um ano
após receber da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) um certificado de eliminação da transmissão pelo barbeiro "caseiro" (que vivia em colônias em buracos nas paredes de
habitações precárias).
Desde junho do ano passado,
116 pessoas pegaram a doença
após ingerir sucos típicos da região (principalmente açaí e bacaba -chamado de açaí branco) triturados com o barbeiro.
De acordo com o Instituto
Evandro Chagas, de 1968 até
2005, foram registrados, em
média, 12 casos por ano na região amazônica por via oral. Ou
seja, houve aumento de 867%.
O ministério aponta ao menos três razões para essa situação: a subnotificação de casos
até então, o desmatamento e as
queimadas na Amazônia e a falta de cuidado e higiene no processamento artesanal da fruta.
"Houve um aumento na detecção de casos. Isso porque antes o número casos de doença
de Chagas por ano era muito
grande e não havia a distinção
se era por transmissão vetorial
[por picada], sangüínea ou
oral", afirma Eduardo Hage, diretor de Vigilância Epidemiológica do ministério.
Ele diz ainda que foi implantado um sistema de vigilância
específico para a região no final
de 2005. "Agora, quando é feito
exame de rotina para malária,
também é verificada a presença
de doença de Chagas."
Subnotificação
O chefe da seção de parasitologia do Instituto Evandro
Chagas, Aldo Valente, concorda
com a hipótese de subnotificação. "Estudos epidemiológicos
dão conta que, para cada caso
notificado, se tenha pelo menos
20 "silenciosos"."
Apesar disso, os dois dizem
que outros fatores podem ter
provocado a explosão de casos,
como o desmatamento.
Todos os casos ocorreram
em localidades rurais. Os surtos são limitados, já que há preparação artesanal do suco para
amigos e parentes.
Doença
A doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido pelo barbeiro. Os sintomas são febre,
mal-estar, dor de cabeça e nas
articulações, inchaços dos
olhos, do fígado e do baço e alterações cardíacas.
Outros três surtos com 21
doentes foram registrados no
Nordeste do país, também por
transmissão oral, em 2006.
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