São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2007

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Remédio é vendido com 2 bulas diferentes

Usado para infecções respiratórias, como pneumonia, Klaricid traz instruções conflitantes que podem levar a erro na dosagem

Empresa Abbott decidiu recolher lotes do antibiótico, mas não informou quais; superdosagem pode causar náuseas, vômito e diarréia

JOHANNA NUBLAT
TOMAS CHIAVERINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Após denúncias de consumidores sobre informações conflitantes na bula do medicamento Klaricid, a empresa farmacêutica Abbott decidiu, no início da noite de ontem, recolher lotes do antibiótico.
Segundo o laboratório, a informação incorreta poderia fazer com que pacientes errassem ao fazer a diluição da droga -usada principalmente para tratar infecções bacterianas nas vias respiratórias, como a pneumonia.
Apesar de assumir o problema com alguns lotes do Klaricid -dosagem 250 e 125 solução oral-, a empresa não soube precisar quantas unidades com incorreções na bula estão disponíveis em farmácias ou já foram vendidas nem quais lotes apresentaram o problema. Também não soube informar se o erro induziria a dosagem acima ou abaixo da necessária.
No caso da superdosagem, o Klaricid pode levar a náuseas, vômito e diarréia. A bula do medicamento informa que, nesses casos, é necessário efetuar uma "lavagem do estômago, o mais rapidamente possível, no hospital".
A advogada Maria Helena Fonseca Rolim foi uma das prejudicadas pela bula incorreta. Ela apontou o problema para a rádio CBN ontem de manhã após ter estranhado a aparência do medicamento preparado conforme as instruções da bula.
Em entrevista à Folha, ela disse que não deixou de tomar o Klaricid, mesmo tendo notado uma consistência pastosa na mistura. Na dúvida, voltou ao estabelecimento onde havia comprado o remédio e, junto do farmacêutico, descobriu que havia um outro folheto explicativo no fundo da embalagem.
Segundo a Abbott, este segundo folheto contém o passo-a-passo correto para a preparação e, por isso, não é necessário interromper o tratamento.
"Parei de tomar o Klaricid e mudei de marca. Como você vai saber qual das duas informações é a verdadeira?", disse Maria Helena.
Segundo o pneumologista Clystenes Soares da Silva, tomar o dobro ou o triplo da dose recomendada do Klaricid não traria conseqüências significativas para os pacientes.
"É preciso saber quanto mais concentrada foi a dose. Sem isso não existe um critério de análise dos riscos", disse.
Caso a concentração ingerida seja menor que a necessária, pode haver agravamento do quadro do paciente, de acordo com o pneumologista Ciro Kirchenchtejn. Segundo ele, o Klaricid é aplicado em casos graves, como pneumonia, tornando mais sérios os riscos de dosagem inferior à recomendada.

Solução rápida
O Procon de São Paulo aconselha os pacientes a não ingerir medicamentos se constatado qualquer problema na embalagem, interna ou externa.
De acordo com a assistente de direção do órgão, Selma do Amaral, o consumidor deve entrar em contato com a empresa, que deve oferecer uma solução rápida, pois há urgência para o consumo do medicamento.
Pela manhã, a Abbott informou à CBN que seus técnicos estavam analisando os problemas apontados, mas só decidiu pelo recolhimento dos lotes defeituosos no início da noite.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recebeu denúncia sobre o caso, na manhã de ontem, e disse ter enviado notificação para que a empresa se manifestasse.
A Abbott instrui pacientes com dúvida a entrar em contato com a empresa pelo telefone 0800-703-1050.


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