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Remédio é vendido com 2 bulas diferentes
Usado para infecções respiratórias, como pneumonia, Klaricid traz instruções conflitantes que podem levar a erro na dosagem
Empresa Abbott decidiu recolher lotes do antibiótico, mas não informou quais; superdosagem pode causar náuseas, vômito e diarréia
JOHANNA NUBLAT
TOMAS CHIAVERINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Após denúncias de consumidores sobre informações conflitantes na bula do medicamento Klaricid, a empresa farmacêutica Abbott decidiu, no
início da noite de ontem, recolher lotes do antibiótico.
Segundo o laboratório, a informação incorreta poderia fazer com que pacientes errassem ao fazer a diluição da droga
-usada principalmente para
tratar infecções bacterianas
nas vias respiratórias, como a
pneumonia.
Apesar de assumir o problema com alguns lotes do Klaricid -dosagem 250 e 125 solução oral-, a empresa não soube
precisar quantas unidades com
incorreções na bula estão disponíveis em farmácias ou já foram vendidas nem quais lotes
apresentaram o problema.
Também não soube informar
se o erro induziria a dosagem
acima ou abaixo da necessária.
No caso da superdosagem, o
Klaricid pode levar a náuseas,
vômito e diarréia. A bula do
medicamento informa que,
nesses casos, é necessário efetuar uma "lavagem do estômago, o mais rapidamente possível, no hospital".
A advogada Maria Helena
Fonseca Rolim foi uma das prejudicadas pela bula incorreta.
Ela apontou o problema para a
rádio CBN ontem de manhã
após ter estranhado a aparência do medicamento preparado
conforme as instruções da bula.
Em entrevista à Folha, ela
disse que não deixou de tomar
o Klaricid, mesmo tendo notado uma consistência pastosa na
mistura. Na dúvida, voltou ao
estabelecimento onde havia
comprado o remédio e, junto
do farmacêutico, descobriu que
havia um outro folheto explicativo no fundo da embalagem.
Segundo a Abbott, este segundo folheto contém o passo-a-passo correto para a preparação e, por isso, não é necessário
interromper o tratamento.
"Parei de tomar o Klaricid e
mudei de marca. Como você
vai saber qual das duas informações é a verdadeira?", disse
Maria Helena.
Segundo o pneumologista
Clystenes Soares da Silva, tomar o dobro ou o triplo da dose
recomendada do Klaricid não
traria conseqüências significativas para os pacientes.
"É preciso saber quanto mais
concentrada foi a dose. Sem isso não existe um critério de
análise dos riscos", disse.
Caso a concentração ingerida seja menor que a necessária,
pode haver agravamento do
quadro do paciente, de acordo
com o pneumologista Ciro Kirchenchtejn. Segundo ele, o Klaricid é aplicado em casos graves, como pneumonia, tornando mais sérios os riscos de dosagem inferior à recomendada.
Solução rápida
O Procon de São Paulo aconselha os pacientes a não ingerir
medicamentos se constatado
qualquer problema na embalagem, interna ou externa.
De acordo com a assistente
de direção do órgão, Selma do
Amaral, o consumidor deve entrar em contato com a empresa,
que deve oferecer uma solução
rápida, pois há urgência para o
consumo do medicamento.
Pela manhã, a Abbott informou à CBN que seus técnicos
estavam analisando os problemas apontados, mas só decidiu
pelo recolhimento dos lotes defeituosos no início da noite.
A Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) recebeu denúncia sobre o caso, na
manhã de ontem, e disse ter enviado notificação para que a
empresa se manifestasse.
A Abbott instrui pacientes
com dúvida a entrar em contato com a empresa pelo telefone
0800-703-1050.
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