São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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Presos 52 PMs acusados de proteger o tráfico

Outros setes PMs estão com prisão decretada; investigação aponta que cada equipe recebia entre R$ 2.000 e R$ 3.900 por semana

Secretaria de Segurança não divulgou o nome dos envolvidos -nenhum é oficial; esquema vigoraria há um ano e meio

Fernando Soutello/Agif
Ônibus da PM deixa batalhão com policiais presos por suspeita de ligação com o tráfico de drogas no Rio

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Cinqüenta e dois policiais militares, de um mesmo batalhão do Rio, foram presos ontem, acusados de envolvimento com o tráfico de drogas em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Outros sete PMs estão com prisão decretada. Todos são do 15º Batalhão da PM e representam 9,5% da unidade -nenhum é oficial.
Os PMs são acusados pela Polícia Civil de receber propina para não combater o tráfico nas favelas do Imbariê e Parada Angélica e de avisar os criminosos quando equipes não envolvidas no esquema preparavam operações naqueles locais. Cada equipe -de quatro a seis PMs- recebia entre R$ 2.000 e R$ 3.900 por semana, segundo a investigação. O esquema vigoraria há um ano e meio.
A Justiça expediu 66 mandados de prisão para 59 PMs e sete supostos traficantes. Até a conclusão desta edição 52 agentes e cinco civis haviam sido presos. Podem ser indiciados sob acusação de formação de quadrilha, associação ao tráfico, corrupção ativa e passiva e concussão (exigência de vantagem indevida por servidor).
Cerca de cem policiais da Corregedoria participaram da operação. Os PMs foram presos quando chegavam, saíam do trabalho ou em casa (no caso dos que estavam em licença).
Seus nomes não foram divulgados pela secretaria, que também não informou se tinham advogados. "Não há necessidade de pirotecnia, de exposição. (...) Não há motivo para expor os policiais", afirmou José Mariano Beltrame, secretário de Segurança. O processo corre em segredo de Justiça.

Propina
As investigações da 59ª Delegacia de Polícia (Duque de Caxias) começaram em 14 de fevereiro, quando o titular André Luis Drumond passou a monitorar o tráfico nas favelas. "Começamos a identificar a hierarquia do tráfico, as mulas e vapores [pessoas que transportam as drogas] e policiais que participavam do grupo. Para não atacar ou dar cobertura, eles recebiam quantias em dinheiro", afirmou o delegado.
As quantias eram variadas em razão do temor das equipes. "Tinham grupos que atacavam mais, outros que atacavam menos, equipes mais ou menos temidas. As mais temidas tinham um valor maior", disse.
A relação entre os policiais e os traficantes, no entanto, nem sempre era amistosa. PMs envolvidos recorreram a prisões para pressionar os traficantes a aumentar a propina.
Segundo o delegado, traficantes foram liberados pelos policiais após o pagamento de R$ 5.000 e R$ 8.000 em ao menos duas ocasiões.
O pagamento era feito por meio de senhas. Comparsas dos traficantes entregavam um papel ao policial com um telefone. O agente ligava e dava uma senha -geralmente seu apelido- para agendar o pagamento. "Os donos do tráfico tinham medo de não serem identificados [no pagamento]", disse Drumond.
O policial de maior patente preso é um primeiro sargento, informou a Polícia Civil. As investigações sobre o envolvimento de policiais com o tráfico continuam. A participação de oficiais não está descartada.


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