São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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Policiais civis mantêm greve; governo promete punições

Maior parte das delegacias continua com atendimento restrito a casos graves

No 11º DP (Santo Amaro), os policiais deixaram as portas encostadas para inibir a entrada da população; Promotoria vai apurar greve

DA REPORTAGEM LOCAL

A greve dos policiais civis de São Paulo chegou ontem ao segundo dia e continua hoje, segundo entidades da categoria, que estima a adesão em mais de 60% na capital e de 100%, no interior. Já a gestão José Serra (PSDB), que não faz um balanço da paralisação, decidiu ontem endurecer e ameaça punir, até de forma criminal, quem não prestar atendimento. As negociações estão suspensas.
Ontem, a maior parte das delegacias registrava somente ocorrências mais graves, como casos de roubos, assassinatos e seqüestros. Vítimas de ameaça e furto, mesmo de carros, eram orientadas a voltar para casa.
Casos de furto representam grande parte das ocorrências registradas pela Secretaria da Segurança. No primeiro semestre deste ano, houve 312.166 casos de furto -31,4% dos 994.680 delitos do período.
A Folha percorreu 67 dos 93 DPs da capital entre anteontem e ontem -em 43, ou 64,1%, o atendimento estava restrito aos casos considerados mais graves. No interior, o atendimento ficou comprometido até nas Ciretrans (órgãos regionais de trânsito) e muita gente não conseguiu tirar a carteira de habilitação.
Carros da polícia ficaram parados durante todo o dia no pátio da Delegacia Seccional de Campinas -em algumas delegacias da cidade nem os telefones eram atendidos.
No 11º DP (Santo Amaro), os policiais deixaram as portas encostadas para, segundo admitiram, inibir a entrada da população. Nesse distrito, que registra cerca de 60 boletins de ocorrência por dia, foram feitos só oito desde o início da greve.
Além das ameaças de punição aos grevistas feitas ontem pela gestão Serra, o Ministério Público abriu inquérito para investigar se os policiais estão descumprindo decisão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), que obriga os grevistas a manter ao menos 80% do efetivo e também a continuidade da prestação dos serviços.
Os policiais reivindicam reajuste de 15%, além de mais duas parcelas de 12% em 2009 e em 2010. O governo deu em 2007 um pacote de benefícios às polícias Civil e Militar que custou R$ 500 milhões e oferece o mesmo valor para este ano.
Escalado para falar em nome do governo, o secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, ameaçou com punições os policiais que estiverem nos DPs e se negarem a registrar ocorrências. "Está lá presente e não cumpriu a obrigação, a penalidade será disciplinar."
Em propaganda que começa a ser veiculada hoje, a Secretaria da Segurança Pública diz que "não vai permitir que movimentos sindicais da Polícia Civil venham a colocar em risco a segurança da população".
O informe ressalta ainda que os grevistas podem ser punidos. Eles poderão, por exemplo, ser acusados de prevaricação (prejudicar o serviço público em benefício pessoal), cuja pena vai de três meses a um ano de prisão, além do pagamento de multa.
(LUIS KAWAGUTI, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, KLEBER TOMAZ, ROGÉRIO PAGNAN E JULIANA COISSI)

Colaboraram a Agência Folha e a Folha Ribeirão


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