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Só 1/3 consegue fazer laqueadura em SP e Recife, aponta pesquisa
Estudo acompanhou 60 mulheres que dependem do SUS e apenas 18 fizeram cirurgia
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de o número de cirurgias de esterilização nos hospitais públicos crescer ano a ano,
conseguir uma laqueadura ainda é tarefa difícil para as mulheres que dependem do SUS
(Sistema Único de Saúde).
Uma pesquisa feita em 2006
em São Paulo e em Recife
acompanhou 60 mulheres que
entraram na fila da laqueadura
e constatou que, seis meses depois, menos de um terço delas
-18 mulheres- havia conseguido a cirurgia. Uma acabou ficando grávida. Seis desistiram.
"Se é assim nessas capitais,
no resto do país a situação deve
ser pior", diz a demógrafa Elza
Berquó, do Cebrap (Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento), a autora do estudo.
As leis determinam como
obrigação do poder público oferecer à população todos os métodos de planejamento familiar. A laqueadura é a cirurgia
de fechamento das trompas do
útero, para que espermatozóide e óvulo não se encontrem.
Os médicos chamam a operação de irreversível, devido às
dificuldades técnicas. A pílula,
o DIU e a camisinha são alguns
dos métodos reversíveis.
Além de entrevistar as mulheres, a equipe do Cebrap ouviu os responsáveis pelos postos de saúde. Constatou que
eles próprios colocam obstáculos no caminho das mulheres.
A lei estabelece que, para a laqueadura, a mulher precisa ter
mais de 25 anos ou ter dois filhos. Para parte dos médicos
ouvidos, porém, a lei deveria
impor simultaneamente ambos os requisitos. Mais velha e
com filhos, teria menos de
chances de arrependimento.
"Realizamos a laqueadura
achando que estamos fazendo
um bem, e três anos depois ela
volta pedindo a reversão, dizendo que se casou de novo e
quer voltar a ter filhos. Conseguimos reverter em 30% ou
40% dos casos", diz Antonio
Carlos Rodrigues da Cunha, ginecologista e professor da UnB.
A legislação das cirurgias de
esterilização afirma que, entre
o pedido e a operação, é necessário haver uma espera mínima
de dois meses. No período, a
mulher assiste a palestras sobre os métodos reversíveis e
passa por consultas com médico e psicólogo.
"Por causa da possibilidade
arrependimento, queremos
que a laqueadura não seja o método de planejamento familiar
das brasileiras. Mas, se a mulher estiver decidida, o gestor
de saúde não pode impedi-la.
Ela tem o direito", afirma Lena
Vânia Carneiro Peres, diretora-substituta de Ações Programáticas do Ministério da Saúde.
Fora da faixa etária com risco
de arrependimento, a cabeleireira Maria de Fátima Sampaio, 37, conseguiu operar. No
dia 23 de junho, ela teve seu
quarto filho e, por cirurgia, perdeu a capacidade de ficar grávida. Optou pela laqueadura porque a pílula lhe causava enjôos.
"Estou tranqüila", ela diz. "Já
tenho um número bom de filhos. Hoje em dia as coisas estão difíceis para sustentar uma
criança. Não posso mais ter filhos e tenho certeza de que não
vou me arrepender da decisão."
O Cebrap constatou ainda
que as laqueaduras são dificultadas porque "competem" com
cirurgias urgentes ou consideradas mais importantes.
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