São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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Só 1/3 consegue fazer laqueadura em SP e Recife, aponta pesquisa

Estudo acompanhou 60 mulheres que dependem do SUS e apenas 18 fizeram cirurgia

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de o número de cirurgias de esterilização nos hospitais públicos crescer ano a ano, conseguir uma laqueadura ainda é tarefa difícil para as mulheres que dependem do SUS (Sistema Único de Saúde).
Uma pesquisa feita em 2006 em São Paulo e em Recife acompanhou 60 mulheres que entraram na fila da laqueadura e constatou que, seis meses depois, menos de um terço delas -18 mulheres- havia conseguido a cirurgia. Uma acabou ficando grávida. Seis desistiram.
"Se é assim nessas capitais, no resto do país a situação deve ser pior", diz a demógrafa Elza Berquó, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), a autora do estudo.
As leis determinam como obrigação do poder público oferecer à população todos os métodos de planejamento familiar. A laqueadura é a cirurgia de fechamento das trompas do útero, para que espermatozóide e óvulo não se encontrem.
Os médicos chamam a operação de irreversível, devido às dificuldades técnicas. A pílula, o DIU e a camisinha são alguns dos métodos reversíveis.
Além de entrevistar as mulheres, a equipe do Cebrap ouviu os responsáveis pelos postos de saúde. Constatou que eles próprios colocam obstáculos no caminho das mulheres.
A lei estabelece que, para a laqueadura, a mulher precisa ter mais de 25 anos ou ter dois filhos. Para parte dos médicos ouvidos, porém, a lei deveria impor simultaneamente ambos os requisitos. Mais velha e com filhos, teria menos de chances de arrependimento.
"Realizamos a laqueadura achando que estamos fazendo um bem, e três anos depois ela volta pedindo a reversão, dizendo que se casou de novo e quer voltar a ter filhos. Conseguimos reverter em 30% ou 40% dos casos", diz Antonio Carlos Rodrigues da Cunha, ginecologista e professor da UnB.
A legislação das cirurgias de esterilização afirma que, entre o pedido e a operação, é necessário haver uma espera mínima de dois meses. No período, a mulher assiste a palestras sobre os métodos reversíveis e passa por consultas com médico e psicólogo.
"Por causa da possibilidade arrependimento, queremos que a laqueadura não seja o método de planejamento familiar das brasileiras. Mas, se a mulher estiver decidida, o gestor de saúde não pode impedi-la. Ela tem o direito", afirma Lena Vânia Carneiro Peres, diretora-substituta de Ações Programáticas do Ministério da Saúde.
Fora da faixa etária com risco de arrependimento, a cabeleireira Maria de Fátima Sampaio, 37, conseguiu operar. No dia 23 de junho, ela teve seu quarto filho e, por cirurgia, perdeu a capacidade de ficar grávida. Optou pela laqueadura porque a pílula lhe causava enjôos.
"Estou tranqüila", ela diz. "Já tenho um número bom de filhos. Hoje em dia as coisas estão difíceis para sustentar uma criança. Não posso mais ter filhos e tenho certeza de que não vou me arrepender da decisão."
O Cebrap constatou ainda que as laqueaduras são dificultadas porque "competem" com cirurgias urgentes ou consideradas mais importantes.


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