São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2011

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Ênfase na saúde é eficaz para tirar crianças da rua

Projeto multidisciplinar reintegra 30% dos atendidos às famílias em SP

O Programa Equilíbrio é uma iniciativa de psiquiatras da USP e mantém convênio com prefeitura desde 2007


REYNALDO TUROLLO JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aos 15 anos, após internação na Fundação Casa (antiga Febem), Ana (nome fictício) chegou ao Hospital das Clínicas, na zona oeste de São Paulo, com problemas graves de perda de memória.
Cheirava esmaltes e solventes e já passara pela cocaína. Pegava drogas na zona sul e traficava em outras áreas, longe da família. Os psiquiatras do HC identificaram nela uma impulsividade descontrolada. Sob ameaça de morte pelo tráfico, foi incentivada a voltar à escola.
Depois de seis anos de acompanhamento, Ana se tornou mãe -planejou o bebê com o namorado- e trabalha num comércio com o pai.
A discussão de como lidar com jovens negligenciados em casa (ou sem casa) que, na rua, sobrevivem de pequenos delitos, foi ampliada no mês passado, quando um grupo de 15 jovens de 10 a 14 anos, as "meninas do arrastão", começou a furtar na Vila Mariana (zona sul).
Levadas ao Conselho Tutelar, elas iam para abrigos, mas fugiam.
É para crianças abrigadas que funciona o Programa Equilíbrio. Iniciativa de psiquiatras da Faculdade de Medicina da USP, desde 2007, funciona por meio de convênio com a prefeitura para tratar menores em situação de risco e de rua.
Os atendimentos ocorrem em uma escola-clube da prefeitura, na zona oeste.
Em três anos, passaram pelo Equilíbrio 448 menores, de 6 a 18 anos. O programa aborda o problema de forma multidisciplinar, com ênfase na "saúde total" da criança.
Os pais também fazem terapia e se preparam para receber as crianças de volta.
Um terço dos atendidos retorna à família. Desses, 67% se estabilizam: trabalham, convivem em casa e não usam drogas. Os dados estão alimentando um banco de dados para servir de modelo para outras iniciativas.
A equipe tem médicos, psicólogos, arte-educadores e professores de educação física.
O perfil médio do atendido é o do jovem de 13 anos, que sofreu abuso físico ou sexual (58,4%), está há dois anos abrigado e ficou em situação de rua por cerca de três anos.
"Droga e ato infracional estão ligados à sobrevivência na rua", diz a psiquiatra Jackeline Giusti. "A droga anestesia a fome, o frio."
Dos casos que chegam, 89% recebem diagnóstico psiquiátrico, como dependência de drogas (40,4%), transtornos afetivos (35,3%) ou de ansiedade (9%).
Há 132 abrigos no município. Segundo o Tribunal de Justiça, havia em agosto 3.101 crianças e adolescentes em situação de acolhimento em São Paulo.

Colaboraram Felipe Bächtold, de Porto Alegre, e Juliana Coissi, de Ribeirão Preto



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