São Paulo, sexta, 18 de setembro de 1998

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VIOLÊNCIA
Girsz Aronson foi levado quando lia jornais na matriz de sua rede de eletrodomésticos, no centro de São Paulo
Empresário de 81 anos é sequestrado

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

O empresário Girsz Aronson, 81, sócio majoritário e controlador da rede de lojas de eletrodomésticos G. Aronson, foi sequestrado ontem no centro de São Paulo.
Eram cerca de 6h. Aronson, como faz há mais de 40 anos, havia acabado de entrar na loja-matriz da rede, localizada na rua Conselheiro Crispiniano. Ele estava acompanhado do cunhado Avraham Schwarts, sócio minoritário da rede, e de Francisco Cavalcante Formiga, gerente da área de assistência técnica da G. Aronson.
O empresário estava sentado à sua mesa preferida -que fica de frente para a entrada principal da loja-, lendo jornais. Pelas portas, semi-abertas, três homens encapuzados invadiram o local. O primeiro segurança da loja só chegaria cerca de uma hora mais tarde.
"É um assalto", gritaram os homens, segundo relato do advogado Vitor Vicentini, que passou a ser o porta-voz da família.
Schwarts e Formiga foram rendidos e amarrados. Aronson foi levado pelos sequestradores. Eles andaram poucos metros pelo calçadão da Conselheiro Crispiniano até alcançarem a rua 7 de Abril, de onde fugiram em um Gol verde, de placas CDJ-2898 (São Paulo), anotadas por um segurança que trabalha nas imediações e que se identificou apenas como Gil.
Trabalhando na região durante a madrugada, Gil viu tudo o que aconteceu do lado de fora da G. Aronson. Diferentemente do advogado, ele afirma que dois homens invadiram a loja.
"Infelizmente, vi o que houve. Ele (Aronson) entrou na loja e, em seguida, duas outras pessoas entraram atrás. Colocaram um capuz nele e o levaram para um Gol." Em nenhum momento, o segurança, que concedeu uma rápida entrevista, disse que os sequestradores usavam capuz.
Foi Gil quem acionou a polícia. "Liguei para o 190, disse o que houve e passei o número da placa. Disseram que ela era de um Fusca. Bom, eu vi um Gol", afirmou.
O segurança, que passou algumas informações para investigadores da Deas (Delegacia Especializada Anti-Sequestro) que foram ao local no início da tarde, afirmou que os sequestradores passaram pela Conselheiro Crispiniano pelo menos três vezes durante a madrugada. "Achei estranho."
Pelo que se sabe, a ação não foi precedida de violência. Gil não viu armas. "Não nos consta que estavam armados", disse Vicentini.

Resgate
Informações extra-oficiais circuladas no meio policial ontem à tarde deram conta que os sequestradores teriam ligado duas vezes para a família Aronson. Na primeira, pela manhã, teriam informado o sequestro. Na segunda, por volta das 15h45, teriam pedido um resgate de US$ 1 milhão.
A família nega. Segundo o advogado, até as 19h de ontem os sequestradores não haviam feito um telefonema. "A família está apreensiva por um contato."
Aronson, que gosta de andar de bicicleta pelo centro da cidade de manhãzinha, não tinha o hábito de andar com seguranças. O empresário detesta essa idéia, que, por medo justamente de um sequestro, foi sugerida inúmeras vezes pela família e por amigos.
"Ele achava que nunca seria sequestrado. Não creio que seus hábitos tenham contribuído para o que aconteceu", disse Vicentini, que também descarta, em princípio, a hipótese de vingança. "Ele tem muitos amigos." Segundo ele, a família está muito abatida.



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