São Paulo, sexta, 18 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA
A 66ª chacina teria ocorrido porque, após comprar carro sem saber que era roubado, eles cobravam os documentos
Três irmãos chamados José são mortos

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

Três irmãos chamados José, que trabalhavam em um bar no Jardim Clímax (zona sudeste de São Paulo), foram mortos a tiros às 23h50 de anteontem na 66ª chacina do ano na Grande São Paulo.
José Roberto, José Aurélio e José Anibal Lopes da Silva, de 36, 27 e 20 anos respectivamente, foram mortos por um bando de aproximadamente 12 homens armados e encapuzados.
Segundo uma testemunha, o crime aconteceu dez minutos depois de o bar, que pertencia a José Aurélio, ter sido invadido por cinco homens, um deles armado.
A testemunha afirmou que um dos desconhecidos disse: "Vocês estão muito folgados e isso não vai ficar assim".
Antes de ir embora, o desconhecido ainda teria gritado: "O bicho vai pegar."
Dez minutos depois, testemunhas ouviram dezenas de disparos vindos do interior do bar. A PM foi até o local, próximo das obras de um conjunto do Cingapura, e socorreu as vítimas.
José Roberto e José Aurélio morreram a caminho do PS do Sesi. José Anibal foi transferido para ser operado no Hospital Benedito Monte Negro, em Sapopemba (zona sudeste de SP), onde acabou morrendo.
Segundo policiais do 83º DP (Parque Bristol), onde foi registrada a chacina, um dos suspeitos de ter cometido o crime se chamaria Vando e teria vendido um Passat roubado para os irmãos José.
Sem saber que o veículo era produto de roubo, os irmãos exigiram a documentação do Passat para Vando, que passou a ameaçá-los.
O caso passou ontem a ser investigado por policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que tem uma delegacia especializada na investigação de chacinas.
De acordo com o boletim de ocorrência, as testemunhas não têm condições de reconhecer os assassinos, que fugiram em um carro de modelo e placas não anotadas.
Ao todo, 229 pessoas já morreram em chacinas nos primeiros nove meses deste ano, 41,4% a mais que as 162 vítimas de todo o ano passado.
Até a noite de anteontem, os Lopes da Silva eram dez irmãos -sete Josés e três Marias. Ontem, cinco deles, que sobreviveram à chacina e vivem em São Paulo, queriam transladar os corpos de José Roberto, José Aurélio e José Anibal para Nazaré do Piauí, onde nasceram todos.
Os pais dos assassinados, ambos lavradores, vivem na cidade.
Ontem à tarde, os corpos dos três irmãos já estavam à disposição dos familiares no IML Sul, no Brooklin, mas seus parentes só pretendiam retirá-los caso conseguissem a transferência.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.