São Paulo, sexta, 18 de setembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice MEIO AMBIENTE Causa foi a dragagem do canal de navegação do porto, na zona oeste; pesca e lazer no local foram prejudicados No Rio, lama soterra a praia de Sepetiba
SERGIO TORRES da Sucursal do Rio O Rio perdeu a praia de Sepetiba. Frequentada por famílias modestas dos subúrbios cariocas, a praia foi soterrada por toneladas de lama despejadas por dragas que escavaram o canal de navegação do porto de Sepetiba. Ao longo dos últimos três anos, correntes marítimas levaram a lama -atirada no meio da baía de Sepetiba- até a praia, onde, hoje, ninguém toma banho. A areia foi substituída por uma camada de lama que impede o banhista de entrar na água sem afundar até os joelhos. Alguns passos adiante, afunda até a cintura. Moradores e pescadores de Sepetiba (zona oeste do Rio) apelidaram a lama de "areia movediça". Ela se estende a uma distância de 1,5 km a partir do litoral. Essa "areia" também não permite a aproximação dos barcos de pescadores. As embarcações estão ancorando a 200 m da terra. Além de acabar com a opção de lazer de famílias das zonas norte e oeste, o despejo de lama resultou em danos ambientais à baía de Sepetiba. Na segunda-feira, a juíza Nádia Correia da Silva, da comarca de Mangaratiba (município litorâneo do Rio), determinou a interrupção da dragagem do canal de navegação do porto. Na liminar, a juíza diz que, "além de gerar irreparáveis danos ambientais", o despejo do material dragado "causa o assoreamento das praias locais". A pesca praticamente acabou em Sepetiba depois da chegada da "areia movediça". Não há mais ostras, mariscos, camarões graúdos e peixes como robalo e pescada. O presidente da colônia de pescadores de Sepetiba, Geraldo dos Santos, 65, calcula que 1.500 dos 3.000 profissionais da região tiveram de mudar de emprego. É o caso de Elcione Alves dos Santos, 47, pescador há 26 anos. Esta semana, ele mandou currículo para uma empresa para se candidatar a uma vaga de ajudante de máquinas. "Antes da lama, a gente pegava camarão com as mãos na beira do mar. Eram 60 kg por dia. Hoje, é difícil achar camarão aqui. Estou sendo obrigado a arrumar outro serviço", afirmou. O pescador Almir Pereira Mendanha, 50, planeja insistir mais um pouco na atividade, apesar de não receber mais de um salário mínimo por mês. "Vivo da pesca desde que nasci. É difícil, na minha idade, fazer alguma coisa diferente", disse. O secretário de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, Maurício Lobo, disse à Folha que o crescimento da zona oeste contribuiu para a destruição da praia de Sepetiba. "A região tem um crescimento descontrolado. Não há saneamento. Ninguém é contra o porto, mas o cuidado ambiental é importante", afirmou. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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