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Órgãos ligados a direito da criança criticam polícia
Polícia não poderia ter deixado Nayara voltar ao cativeiro, dizem especialistas
Atitude infringe 3 artigos do
ECA, diz secretário-geral
do Conselho Estadual
de Defesa dos Direitos
da Pessoa Humana
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Órgãos ligados aos direitos
humanos e da criança e do adolescente criticaram ontem a
atuação da polícia ao permitir
que Nayara Rodrigues da Silva,
15, voltasse ao cativeiro para
negociar com Lindemberg Fernandes Alves, 22, em Santo André. Eles afirmaram que a atitude infringe diversos artigos do
ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente).
Any Aparecida Fernandes de
Oliveira Lavezzo, presidente do
Condeca (Conselho Estadual
dos Direitos da Criança e do
Adolescente), afirma ser "inadmissível que no ano em que se
comemoram os 18 anos do ECA
ainda nos deparemos com fatos
como esse".
Ela disse ainda que "não se
pode errar com os que mais necessitam dos meios de defesa".
Ariel de Castro Alves, secretário-geral do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana),
afirma que três artigos do ECA
foram quebrados.
Um deles, o de número 232,
prevê que é crime submeter
criança ou adolescente a qualquer tipo de humilhação e determina detenção de seis meses
a dois anos em caso de descumprimento. Os outros artigos são
o 5º e o 18º, que dizem que esse
público não pode ser submetido a situações de violência ou
risco à vida.
"A Nayara tinha sido libertada pelo próprio bandido, estava
em segurança na casa da mãe
dela, quando foi chamada pela
PM. Não tem explicação para
esse tipo de ação. Não poderiam ter cedido dessa forma."
Denúncia
Castro Alves denunciou ao
Conselho Tutelar de Santo André o fato de a polícia ter permitido a volta de Nayara ao cativeiro. O conselho afirmou à Folha que prestará assistência às
famílias e que vai apurar mais
informações sobre a atuação da
polícia para então relatar o caso
à Promotoria da Infância e Juventude de Santo André e à respectiva vara.
Ricardo Flório, do Ministério
Público Estadual de Santo André, afirmou ontem que também espera receber informações mais concretas sobre o caso. "A decisão me pareceu à
princípio equivocada, mas ainda não podemos criticar sem
maiores informações", diz.
Erro gravíssimo
O presidente da Associação
dos Conselheiros Tutelares do
Estado de São Paulo, Marcelo
Nascimento, disse ontem que
avalia como um erro gravíssimo a polícia ter deixado Nayara
voltar ao local para atender à
exigência do criminoso. "Isso
fere o ECA e a convenção dos
direitos humanos", afirma.
Nascimento diz ainda ser importante a ação do Conselho
Tutelar ao acompanhar as negociações e questionar a ação
policial junto à Promotoria.
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