São Paulo, Quinta-feira, 18 de Novembro de 1999
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VIOLÊNCIA
Ciclista discute no trânsito e leva tiro; ladrões matam escriturária que andava com carro pela 1ª vez
Crimes banais deixam 2 mortos em SP

Joel Silva/Folha Imagem
Adesivo do carro do agressor


MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

Dois adultos jovens, com menos de 30 anos, foram mortos a tiros na zona leste de São Paulo, em crimes que demonstram a banalização da violência na cidade.
O comerciante Marco Aurélio Santos, 27, estava de bicicleta na tarde de anteontem, se envolveu em discussão de trânsito e foi baleado por um motorista -que é supervisor de segurança e cujo carro tinha adesivo contra o uso de armas. O crime ocorreu no Jardim Danfer. Santos morreu horas depois, no hospital.
Enquanto Santos era medicado, em outro ponto da zona leste, no Jardim Vera Cruz, Cláudia Aparecida Alves de Souza, 28, foi morta a tiros por assaltantes em um semáforo. Era a primeira vez que ela usava o carro que acabara de comprar. A família acredita que a escriturária não reagiu ao assalto, mas se apavorou e pode ter arrancado sem querer.
No assassinato do ciclista, o acusado é José da Silva Rodrigues, 52. Segundo testemunhas, Rodrigues estava bêbado e dirigia seu Escort verde ziguezagueando pela rua Antonia Teresa de Paula Matias, quando atingiu a bicicleta de Santos, que estava a sua frente.
"O rapaz levantou todo arranhado e foi tirar satisfação com o motorista, que saiu do carro atirando", disse o pedreiro Manoel Correia de Moura Filho, 57, uma das testemunhas do crime.
Santos virou as costas e correu, mas Rodrigues deu três disparos. Um deles acertou o comerciante nas nádegas. O tiro perfurou uma artéria, e a vítima, levada para o Hospital de Ermelino Matarazzo, acabou morrendo de hemorragia, por volta das 21h30 de ontem.

Campanha
No vidro lateral traseiro direito do Escort de Rodrigues havia um adesivo da campanha: "São Paulo, abaixe essa arma", promovida por uma rádio AM. No adesivo, um personagem empunha uma placa com a inscrição "menos uma vítima".
Depois dos tiros, Rodrigues fugiu pela avenida Cangaíba, onde outra testemunha do crime abordou os investigadores Rafael Antonio dos Santos, 42, e Rogério Alves da Silva, 28, que passavam pelo local com um carro do 24º DP e saíram em perseguição ao Escort do supervisor, que seguia em direção ao centro.
Os policiais, que haviam saído da delegacia para entregar intimações, mandaram várias vezes que Rodrigues parasse o carro, mas não foram respeitados.
O investigador Rafael, que estava ao volante, narrou no boletim de ocorrência registrado no 24º DP que "não encontrou outra alternativa a não ser interromper a fuga", batendo o Gol da polícia contra o Escort de Rodrigues, causando danos leves nos dois carros.
Segundo os policiais, Rodrigues alegou que havia atirado contra o comerciante "para se defender".
Antes de morrer, Santos deu uma versão oposta e afirmou ter sido atacado pelo supervisor.
Ele disse a testemunhas que após bater contra a bicicleta, Rodrigues já saiu do carro com o revólver calibre 38 nas mãos.

Porte vencido
O supervisor de segurança tinha porte de arma, da delegacia de Carapicuíba (Grande SP), mas o documento estava vencido desde outubro de 95. Rodrigues foi preso em flagrante e indiciado pelo delegado Luiz Fernando Martins por homicídio, com os agravantes de motivo fútil, meio cruel e por não ter possibilitado a defesa da vítima, ao atirar pelas costas.
Amostra de sangue de Rodrigues foi colhida para exame de dosagem alcóolica, que definirá se ele estava realmente bêbado.


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