São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2001

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Pesquisa com 1.500 executivos revela que 72% vivem nível de estresse que pode provocar doenças

Executivos vivem "estágio de perigo" em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pesquisa com 1.500 executivos paulistanos revelou que 72% estão no "estágio de perigo". Vivem um nível de estresse que pode desembocar no aparecimento de uma ou mais doenças. Outros 6% estariam no "estágio de exaustão", já foram ou continuam sendo vítimas de enfermidades como infarto do miocárdio, derrame e úlceras do estômago.
Nesse último grupo estão os mais ferrenhos workaholic, como são conhecidos os dependentes em trabalho. Eles e uma parte dos que estão no "estágio de perigo" sofrem da síndrome que os especialistas abrasileiraram para "workholismo". Trata-se da irmã mais velha de outra agora apelidada de síndrome do lazer.
A pesquisa foi feita pelos psicólogos Esdras Guerreiro Vasconcellos, Rachel Zausner Skarbnik, Édela Aparecida Nicoletti e Sámia Aguiar Brandão. Vasconcellos, professor da USP e da PUC de São Paulo e diretor do Instituto Paulista de Stress, diz que o resultado da pesquisa, com alguma variação, pode ser estendido para toda a população adulta das grandes cidades. Os números estarão no livro "Deus e o Diabo na Vida dos Executivos", em elaboração.
A síndrome do "workholismo" é mais frequente entre os executivos. Segundo Vasconcellos, os sintomas costumam aparecer no início das férias, nos finais de semana e em festas de fim de ano. Os mais comuns são insônia, taquicardias, crises alérgicas, gastrites e a ocorrência de acidentes banais que não acontecem durante o trabalho. Ou ainda irritabilidade, nervosismo, isolamento, depressão e até sensação de perseguição.
Justamente por não ter lazer, essas pessoas não conseguem recuperar suas energias, e um estresse passa a se sobrepor ao outro. O passo seguinte é a doença.
O trabalhador compulsivo começa a passar mal assim que sabe que vai desacelerar, observa o psiquiatra Alfredo Toscano Júnior, da Unidade de Dependência de Drogas (Uded) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para essas pessoas, a tentativa de programar as férias, lendo os livros que não leu ou vendo os filmes que não viu, acaba resultando em frustração. "Para alguns, o trabalho pode ser um buraco de avestruz", diz Toscano -uma maneira de escapar a problemas afetivos ou familiares.
Ele conhece médicos que passaram a dormir nos consultórios e executivos que não foram à festa de 15 anos do filho porque estavam em reunião. "Com esses, é necessário discutir outras possibilidades de satisfação", diz.
Nas noites de quarta-feira, muitas das almofadas da sala de meditação do Ibraphema, um instituto de pesquisas holísticas em medicina de São Paulo, são tomadas por profissionais que trabalham sob estresse. "A meditação é uma das melhores práticas para se quebrar o ciclo do estresse", diz o médico Jou Eel Jia, que dirige o instituto. Ao som de mantras, os participantes fazem exercícios para "não pensar em nada".
Os outros recursos citados por Jou contra o estresse são uma correta alimentação, exercícios físicos e a acupuntura. "Algumas pessoas se tornam dependentes dos hormônios produzidos pelo estresse", diz o médico.
Boa parte dos alunos que procuram a "academia do Incor", na avenida Paulista e na Cidade Universitária, também está querendo desacelerar. A Unidade Fitness Paulista e a Unidade Fitness USP funcionam numa parceria entre a Faculdade de Educação Física da USP e o Instituto do Coração.


Fitness Incor: 0xx-11-283-3139 e 3818-3183; Ibraphema: 0xx-11-3057-0651


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