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Mecanização elimina empregos na lavoura
DO ENVIADO ESPECIAL
"Truco!"
A qualquer hora do dia, o movimento é bastante animado na
praça Antonio Prado, em volta da
igreja de São João Batista, bem no
centro de Barrinha.
Aqui é o reduto dos aposentados e desempregados da cidade,
que passam o tempo jogando baralho enquanto não aparece trabalho nos canaviais da região.
"Não tem para onde ir. A máquina tomou conta de tudo, está
acabando o serviço para nós",
queixa-se o bóia-fria João Paulo
Napolitano, 23, que mora no mesmo bairro do estudante de computação Aparecido do Carmo,
mas seguiu caminho bem diferente na vida.
Depois de concluir o 1º grau,
João Paulo deu-se por satisfeito e
não pensou em voltar à escola.
Habituou-se a viver de "bicos".
Desde 1995, diz ele, o desemprego
vem aumentando na região. "Se
ninguém der um jeito, vai piorar",
prevê, sem mostrar esperança de
seguir o exemplo do vizinho.
"O caso do Aparecido é coisa rara. Foi o único que conseguiu entrar na faculdade. É um cara que
não perde dia de serviço. A usina
resolveu levar ele pra frente."
Casado e sem filhos, João Paulo
arrumou um emprego de lixeiro
na prefeitura de Barrinha. Está
parado há mais de um mês por ter
sofrido um acidente. Não pretende voltar ao mesmo serviço quando terminar a licença. "O salário
[R$ 350" é menor do que na roça."
No auge da colheita manual, entre 1985 e 1990, os 83 municípios
da região de Ribeirão Preto chegaram a ter 60 mil bóias-frias trabalhando nas lavouras de cana.
Com a mecanização, que já chega a 50% das terras cultivadas, o
contingente caiu pela metade. Cada nova máquina utilizada provoca a dispensa de 80 empregados.
Ao contrário do que ocorre em
outras regiões do Estado, estes
trabalhadores rurais não são migrantes que vêm de outros Estados para a colheita e voltam para
suas cidades após a safra. Moram
com suas famílias nas periferias
das cidades-dormitórios.
Para eles, uma alternativa fora
dos canaviais são as metalúrgicas
de Sertãozinho, mas não há empregos para todos. Em consequência, crescem os problemas
sociais e a violência, mesmo nas
pequenas cidades da região.
Entre os 36 colegas da turma de
bóias-frias liderada por Aparecido até a semana passada, nenhum
tem planos de chegar à faculdade.
João Soares Antunes, 35, que vai
substituir Aparecido na função,
só agora voltou a cursar a 3º série
do ensino fundamental. "Sou ativo no serviço, mas fraco na escola." Simone de Oliveira, 30, bóia-fria desde os 12, mãe de três filhos,
acha impossível voltar à escola,
que abandonou na 7º série.
"Quem vai olhar os meninos?"
Na pausa para o café na Fazenda
Resfriado, o mais contente com a
ascenção de Aparecido é Benedito
do Carmo Batista, 45, colega de
infância em Barrinha, com quem
até outro dia formava dupla no
corte de cana. "Esse é gente fina.
Merece", avaliza, dando-lhe um
tapa na cabeça.
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