São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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EDUCAÇÃO

Mesmo em queda após uma década, indicador aponta que maioria com mais de 25 anos não concluiu ensino fundamental

Baixa escolaridade atinge 62% dos adultos

Marco Antônio Rezende/Folha Imagem
Pais e mães de alunos participam de aula noturna promovida por voluntários em creche comunitária na cidade de Duque de Caxias


FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Para 69,7 milhões de brasileiros com mais de 15 anos, o emprego de gari no Rio de Janeiro é inatingível -eles não têm o ensino fundamental, nível escolar mínimo exigido pela Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) para o trabalho. É o que mostra um estudo realizado pelo economista André Urani, a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A análise de Urani, que usou dados de 2001 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), mostra que 57,64% dos brasileiros com mais de 15 anos de idade têm menos de oito anos de estudo. Não concluíram o que o Ministério da Educação chama de ensino fundamental, os antigos primário e ginásio.
Entre os brasileiros com mais de 25 anos, a proporção dos que não concluíram o ensino fundamental sobe para 61,9%. Nessa faixa de idade, o caso é ainda mais preocupante, pois, quanto mais velha a pessoa, mais tem dificuldade para voltar à escola. No mercado de trabalho, a baixa escolaridade é um caminho para empregos informais e de baixa remuneração.
"A baixa escolaridade de jovens e, principalmente, de adultos é um problema gravíssimo, que precisa ser atacado com urgência", afirma o economista, pesquisador do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).
Urani reconhece que o problema diminuiu na década de 90. Em 1992, 70,12% das pessoas com mais de 15 anos não tinham o ensino fundamental completo. Entre os brasileiros com mais de 25 anos, a proporção era de 71,5%.
É, no entanto, um ritmo mais lento que o da queda do analfabetismo no país. De 1992 a 2001, a taxa de analfabetismo entre as pessoas com mais de 15 anos caiu de 17,2% para 12,4%, uma redução de 27,9%. Já a proporção de pessoas sem o ensino fundamental caiu 17,8% na mesma faixa etária. Entre os que têm 25 anos ou mais, a redução foi de 13,4%.
"Toda a melhora nos indicadores é puxada pela educação infantil, com a universalização do acesso à escola. Mas não há inserção na economia mundial com esse número de adultos de baixa escolaridade", afirma Urani.
Outro pesquisador do tema, o economista Marcos Lisboa, da Fundação Getúlio Vargas, aponta uma dificuldade extra: muitas vezes, depois de aumentar sua escolaridade, o adulto não tem aumento imediato de renda, o que o desestimula a voltar à escola.

Baixa escolaridade
A média de anos de estudo no Brasil (5,9 em 2001), apesar de ter subido nos últimos anos, ainda é inferior à de países como EUA (13), Chile e Argentina (11) e à da América Latina (8).
As consequências da baixa escolaridade vão desde dificuldades para conseguir emprego até prejuízo no rendimento escolar dos filhos. Estudos mostram que o desempenho das crianças é influenciado não só pela escolaridade de suas mães como também pelo nível escolar do conjunto de mães da comunidade.
Urani estima que, para que todos os brasileiros tivessem pelo menos oito anos de estudo, seria necessário um investimento de R$ 80 bilhões, cerca de 7% do PIB (Produto Interno Bruto).


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