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AGENDA DA TRANSIÇÃO
Prefeito eleito diz que só vai quitar despesas da atual gestão se houver reserva de recursos em caixa
Serra condiciona o pagamento de dívidas
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O prefeito eleito, José Serra
(PSDB), deverá protagonizar um
embate com fornecedores assim
que assumir. Enquanto empreiteiros se munem para futuras
ações contra a prefeitura -em
busca do reconhecimento de créditos-, Serra tem repetido a interlocutores que não cobrirá o déficit herdado da prefeita Marta
Suplicy (PT): só pagará despesas
da atual gestão se, como dita a Lei
de Responsabilidade Fiscal (LRF),
encontrar reserva de dinheiro.
Ao comentar o atraso médio de
70 dias no pagamento a empreiteiras e prestadoras de serviço,
além da paralisia de ações e do
não reconhecimento de obras
realizadas, Serra é enfático: "De
mim, não vão receber".
Ontem, em Brasília, Serra reafirmou que, mais do que a dívida
da prefeitura, o déficit corrente
-volume de despesas que excedem a arrecadação- é o que
preocupa. Nas palavras dele, "é a
nossa preocupação de hoje".
Por isso, cobrou que a prefeita
deixe as finanças da cidade em ordem, sem atrasados e serviços paralisados -o que, para o tucano,
vai gerar despesas não previstas,
abrindo um buraco.
"O que nós realmente esperamos da prefeitura em matéria financeira é deixar a casa ordem",
disse Serra. Ele não quis comentar
o apelo de Marta para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
adie em um ano o prazo para enquadramento à LRF. "Queremos
as finanças em ordem agora. Queremos que cumpram a LRF agora", disse.
Para se ajustar, a prefeitura,
com arrecadação de R$ 14 bilhões
ao ano, teria que abater R$ 7 bilhões da dívida de uma só vez.
Como exemplos de "semiparalisação" capazes de produzir despesa inesperada, Serra citou a coleta de lixo e o combate a enchentes. Ele chamou a atenção para a
situação na periferia de São Paulo,
a mais atingida pelos cortes.
Apesar desse alerta, Serra dificilmente será poupado da crise
que insiste em denunciar. Depois
de uma reunião ontem com 18 associados, o vice-presidente de
Obras Públicas do SindusCon
(Sindicato das Indústrias da
Construção Civil), Luiz Antonio
Messias, advertiu para a ameaça
de as obras estarem paradas dentro de 20 dias.
Como a Folha publicou na semana passada, já chega a 70 dias o
atraso no pagamentos a fornecedores, a partir da medição (liquidação) da obra executada. Mas,
"pela lei, as empresas só podem
parar e cobrar multas depois de
90 dias de atraso". Descontadas as
festas de fim de ano, o problema
deverá cair no colo de Serra.
Segundo os cálculos do Sinduscon, o volume de atrasados já chega a R$ 600 millhões. O sindicato
também acusa a prefeitura de represar o processo de medição de
obras para não reconhecer débitos com as empreiteiras.
Com isso, maquiaria um outro
buraco de R$ 600 milhões: das
obras realizadas e não autorizadas. Por isso, nesta semana, o sindicato vai interpelar formalmente
a prefeitura para que explique por
que as obras não foram medidas.
Os advogados do sindicato recomendaram que as empresas registrem em cartório a lista de
obras que alegam ter feito, sem o
reconhecimento legal. Mais do
que uma ação contra o governo
Marta, essa é uma munição para
uma eventual disputa judicial na
gestão Serra. A relação de obras
seria uma prova formal em favor
das empresas. "Estamos tentando
reforçar a dívida para nossas reivindicações", diz Messias.
Nota
Procurada, a Secretaria de Finanças de São Paulo informou,
por meio de nota, que, dentro de
um cronograma, "todos os compromissos assumidos pela administração municipal estão e continuarão sendo honrados, seja com
o funcionalismo, com programas
sociais e com os fornecedores".
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