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Academia acorda vizinhos
DA REPORTAGEM LOCAL
Zelador de um prédio na rua
Augusta, no centro de São Paulo,
o pernambucano Severino Gabriel da Silva, 29, é quase um especialista em barulho. Fora o trânsito intenso da região, o prédio em
que ele trabalha fica em frente a
uma boate, ao lado de uma academia e perto de um galpão onde
um rapaz aprende a tocar bateria.
A todos esses ruídos, some-se
mais um: o do interfone de seu
quarto, que toca sempre que um
morador quer que ele acabe com
a barulheira.
Silva até já desenvolveu uma
técnica. Primeiro, vai ao apartamento do reclamante e cola o ouvido na parede até descobrir de
onde vem o som. "Faço uma análise. Não gosto de acusar os outros
injustamente." Depois, lá vai ele
pedir silêncio. Quando não dá
certo, ameaça chamar a polícia.
As reclamações começam cedo.
"Seis horas da manhã e já começa
a ginástica com axé", diz Silva.
Um pouco mais tarde, começa o
ensaio do baterista. "Eles tocam o
dia inteiro a mesma coisa", conta.
À noite, é a vez da boate. A música nem incomoda tanto, mas a
gritaria do porteiro que chama os
passantes para ver o show é algo
que tem acabado com os nervos
de alguns moradores, como a recepcionista Martha Afonso Mattos, 55. "Moro no décimo andar e
mesmo assim escuto tudo."
Apesar dos ruídos, o zelador diz
dormir como uma pedra. "Chego
morto em casa, deito e caio naquele sono pesado" -até o axé da
academia de ginástica começar a
tocar na manhã seguinte.
(AMARÍLIS LAGE)
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