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Computador ajudará a soltar presos por pequenos crimes
Enquanto Estado vive superlotação em presídios, estimativa é libertar ou encurtar a permanência de 800 detentos a cada mês; software custará R$ 30 mil
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Defensoria Pública inicia
neste mês na Grande São Paulo
um programa que pretende,
com auxílio do computador, retirar das prisões pessoas que
cometem pequenos crimes.
Por mês, a estimativa é libertar -ou reduzir o tempo de prisão ao mínimo- cerca de 800
pessoas, quase 10 mil ao ano,
em todo o Estado.
O início do programa depende apenas da formalização da
cooperação entre Defensoria e
Secretaria de Segurança Pública. O que ameaça seu sucesso é,
porém, a falta de "sensibilidade" do Ministério Público e da
própria Justiça, que, respectivamente, opinam e decidem sobre a concessão de liberdade.
Estão sendo lançados cinco
pontos na região metropolitana, que compreendem 38 municípios, mas devem ser estendidos até o final deste ano às
principais cidades do Estado. A
meta é atender, até 2008, todos
os 645 municípios paulistas.
O investimento na compra
do software, o "cérebro" de todo o processo, é de R$ 30 mil
-equivalente ao custo de cada
vaga construída em penitenciárias. Um presídio com capacidade para 800 detentos custa,
em média, R$ 24 milhões.
Em São Paulo, conforme a
Folha revelou, a superlotação
no sistema penitenciário é superior a 42 mil pessoas. Esse
número não inclui, porém, os
cerca de 11 mil presos das cadeias públicas do Estado.
Programa
O programa é simples: a Segurança Pública informa à Defensoria imediatamente, pela
internet, sobre a prisão de alguém que não tenha advogado
para representá-lo. Com essas
informações, um defensor público é nomeado para assumir o
caso e entra na Justiça com pedido de relaxamento da prisão.
Pela via tradicional (por papel), a comunicação de prisões
nessas circunstâncias pode levar dois meses até chegar à Defensoria. Em boa parte dos casos, o suspeito continua preso
até que um defensor faça o pedido de libertação à Justiça.
"Quando uma pessoa com
posses é presa, ela vai com advogados e não coloca o pé na cadeia. Queremos dar a mesma
oportunidade de defesa às pessoas que não têm condições financeiras", afirmou o defensor
Marcelo Carneiro Novaes.
De acordo a Defensoria, cerca de 2.700 pessoas são presas
todos os meses sem advogado.
Desse público, ainda segundo
os defensores, 1.500 são réus
primários e acabaram presos
por furtos de bagatelas: como
pacote de bolacha, torneiras e
produtos de pequeno valor.
Mesmo que venham a ser
condenados, pelo pouco valor
dos crimes e baixo grau de violência, a maioria dos casos tem
as penas convertidas em pagamentos de multa ou em trabalhos à comunidade.
O sucesso do programa pode
esbarrar, porém, na falta de
"sensibilidade" do Judiciário e
do Ministério Público, como
avalia os defensores.
Em São Paulo, por exemplo,
o carroceiro e morador de rua
Agamenon da Conceição, 38, ficou preso de 23 de agosto deste
ano até 13 de novembro por ter
furtado um pente e uma tesoura de outro morador de rua. Estava incomodado com o tamanho da barba e do cabelo.
No mês passado, ao ser levado à presença da juíza Carolina
de Freitas, da 12ª Vara Criminal, ele não conseguiu liberdade porque a Promotoria pediu
"vistas do processo" e o manteve preso para analisar seus antecedentes criminais (que poderiam ter sido vistos na hora).
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