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SAÚDE/DIABETES
Cirurgia em diabético de peso normal mostra resultados
Técnica experimental está controlando doença em pacientes tipo 2 e não-obesos mórbidos
Especialistas dizem que recomendação é apenas para alguns diabéticos e que eficiência só será provada após anos de testes
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A cirurgia pode ser a saída
para pacientes que não conseguem controlar o diabetes só
com tratamento clínico ou insulina. Uma técnica em fase experimental em São Paulo mostrou que os resultados são promissores mesmo em pessoas
com peso normal ou levemente
obesas e com diabetes tipo 2.
Desde fevereiro, 45 pessoas
com essas características foram submetidas a uma operação que isola o duodeno -primeira parte do intestino delgado, onde sucos digestivos
atuam nos alimentos.
Até agora, a maioria dos pacientes melhorou a produção e
a qualidade da ação de insulina
-hormônio que tira a glicose
do sangue e a leva para o interior das células. Cerca de 55%
dos pacientes têm controlado a
doença sem medicação e 11% tiveram complicações menores,
como enjôos. De 13 usuários de
insulina, 12 estão com o diabetes controlado sem as aplicações e tomam apenas medicamentos orais.
"Apesar de iniciais, os resultados são muito animadores.
Tanto que diversos investigadores estrangeiros estão, baseados em nossos resultados e
protocolo, iniciando seus estudos em diversos países como
Chile e Estados Unidos", diz Ricardo Cohen, especialista em
cirurgia bariátrica e do aparelho digestivo que realiza as operações experimentais em São
Paulo, no Hospital São Camilo.
Segundo ele, "provavelmente
o diabético tem algo geneticamente produzido que faz que o
contato da comida com o duodeno diminua a ação da insulina do pâncreas, produzindo o
diabetes. Quando desvia-se o
duodeno, evitando o contato do
alimento, deve ser liberado um
sinal, alguma substância desse
duodeno que melhora a produção de insulina pelo pâncreas."
A técnica é inspirada na do
italiano Francesco Rubino, que
reduziu o diabetes em ratos
magros com o tipo 2 da doença.
Os casos de dois pacientes
tratados por Cohen foram publicados na revista da Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica e Bariátrica. Para o cirurgião, em um ou dois anos, os
resultados poderão dar muita
credibilidade ao tratamento.
Segundo ele, foram operados
pacientes que tomavam três remédios orais ou insulina e não
controlavam a doença. "Mas se
os resultados continuarem
bons a longo prazo, talvez se
amplie a indicação."
Diabetes tipo 2
Apesar de o tipo 2 estar ligado a obesidade e sedentarismo,
mais de 60% dos que têm o problema não são obesos, segundo
a Organização Mundial da Saúde. Fatores genéticos e síndromes metabólicas contribuem
para o desenvolvimento.
Um dos desafios da medicina
tem sido encontrar uma cirurgia para combater a doença
nessas pessoas. Isso porque outras técnicas, como a cirurgia
de redução de estômago, já haviam assegurado a redução do
diabetes em obesos, uma vez
que a perda de peso e gordura
facilitam a ação da insulina.
Além de Cohen, outros especialistas brasileiros estudam cirurgias para diabéticos magros.
José Carlos Pareja, chefe do
Serviço de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica da Unicamp, também trabalha em um protocolo
com a técnica de exclusão duodenal. Ele já operou 15 pacientes -com peso normal ou sobrepeso- e conseguiu que 14
largassem a insulina e ficassem
apenas com medicamento oral.
Pareja credita a melhora dos
pacientes à ação das incretinas
-hormônios da digestão-, que
passam a estimular mais e melhor a produção de insulina no
pâncreas.
Já Cohen diz que alguns de
seus pacientes aumentaram a
produção das incretinas, mas
que outros não sofreram alteração e melhoraram o diabetes.
Por isso, conclui que contribuem fatores desconhecidos.
Segundo Pareja, "a operação
em magros é boa", mas não tanto como as feitas em obesos. "O
tratamento clínico é o mais eficiente, mas só 40% fazem direito. Muitos deixam de tomar remédios ou aplicar insulina."
Para ele, a indicação de cirurgia ainda é restrita e levará anos
para se ter uma garantia maior
sobre seus efeitos. "Quem toma
remédio e isso é suficiente não
precisa ser operado." Ele diz
ainda que magros com índice
de massa corporal muito baixo
têm diabetes "complexo" e que
pode não adiantar nada operar.
Outro método, usado em gordos ou magros, é aplicado pelo
cirurgião Áureo Ludovico De
Paula, do Hospital de Especialidades, de Goiânia. É a técnica
de interposição de íleo -a terceira parte do intestino- que
melhora a produção de incretinas. Segundo ele, em um grupo
de 39 pacientes operados, 90%
resolveram seu problema de
diabetes e muitos não precisaram mais de remédios. A técnica inclui a redução de 20% do
estômago para perda de peso e
menor resistência à insulina.
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