São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE/DIABETES

Cirurgia em diabético de peso normal mostra resultados

Técnica experimental está controlando doença em pacientes tipo 2 e não-obesos mórbidos

Especialistas dizem que recomendação é apenas para alguns diabéticos e que eficiência só será provada após anos de testes

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A cirurgia pode ser a saída para pacientes que não conseguem controlar o diabetes só com tratamento clínico ou insulina. Uma técnica em fase experimental em São Paulo mostrou que os resultados são promissores mesmo em pessoas com peso normal ou levemente obesas e com diabetes tipo 2.
Desde fevereiro, 45 pessoas com essas características foram submetidas a uma operação que isola o duodeno -primeira parte do intestino delgado, onde sucos digestivos atuam nos alimentos.
Até agora, a maioria dos pacientes melhorou a produção e a qualidade da ação de insulina -hormônio que tira a glicose do sangue e a leva para o interior das células. Cerca de 55% dos pacientes têm controlado a doença sem medicação e 11% tiveram complicações menores, como enjôos. De 13 usuários de insulina, 12 estão com o diabetes controlado sem as aplicações e tomam apenas medicamentos orais.
"Apesar de iniciais, os resultados são muito animadores. Tanto que diversos investigadores estrangeiros estão, baseados em nossos resultados e protocolo, iniciando seus estudos em diversos países como Chile e Estados Unidos", diz Ricardo Cohen, especialista em cirurgia bariátrica e do aparelho digestivo que realiza as operações experimentais em São Paulo, no Hospital São Camilo.
Segundo ele, "provavelmente o diabético tem algo geneticamente produzido que faz que o contato da comida com o duodeno diminua a ação da insulina do pâncreas, produzindo o diabetes. Quando desvia-se o duodeno, evitando o contato do alimento, deve ser liberado um sinal, alguma substância desse duodeno que melhora a produção de insulina pelo pâncreas."
A técnica é inspirada na do italiano Francesco Rubino, que reduziu o diabetes em ratos magros com o tipo 2 da doença.
Os casos de dois pacientes tratados por Cohen foram publicados na revista da Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica e Bariátrica. Para o cirurgião, em um ou dois anos, os resultados poderão dar muita credibilidade ao tratamento.
Segundo ele, foram operados pacientes que tomavam três remédios orais ou insulina e não controlavam a doença. "Mas se os resultados continuarem bons a longo prazo, talvez se amplie a indicação."

Diabetes tipo 2
Apesar de o tipo 2 estar ligado a obesidade e sedentarismo, mais de 60% dos que têm o problema não são obesos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Fatores genéticos e síndromes metabólicas contribuem para o desenvolvimento.
Um dos desafios da medicina tem sido encontrar uma cirurgia para combater a doença nessas pessoas. Isso porque outras técnicas, como a cirurgia de redução de estômago, já haviam assegurado a redução do diabetes em obesos, uma vez que a perda de peso e gordura facilitam a ação da insulina.
Além de Cohen, outros especialistas brasileiros estudam cirurgias para diabéticos magros. José Carlos Pareja, chefe do Serviço de Cirurgia Bariátrica e Metabólica da Unicamp, também trabalha em um protocolo com a técnica de exclusão duodenal. Ele já operou 15 pacientes -com peso normal ou sobrepeso- e conseguiu que 14 largassem a insulina e ficassem apenas com medicamento oral.
Pareja credita a melhora dos pacientes à ação das incretinas -hormônios da digestão-, que passam a estimular mais e melhor a produção de insulina no pâncreas.
Já Cohen diz que alguns de seus pacientes aumentaram a produção das incretinas, mas que outros não sofreram alteração e melhoraram o diabetes. Por isso, conclui que contribuem fatores desconhecidos.
Segundo Pareja, "a operação em magros é boa", mas não tanto como as feitas em obesos. "O tratamento clínico é o mais eficiente, mas só 40% fazem direito. Muitos deixam de tomar remédios ou aplicar insulina."
Para ele, a indicação de cirurgia ainda é restrita e levará anos para se ter uma garantia maior sobre seus efeitos. "Quem toma remédio e isso é suficiente não precisa ser operado." Ele diz ainda que magros com índice de massa corporal muito baixo têm diabetes "complexo" e que pode não adiantar nada operar.
Outro método, usado em gordos ou magros, é aplicado pelo cirurgião Áureo Ludovico De Paula, do Hospital de Especialidades, de Goiânia. É a técnica de interposição de íleo -a terceira parte do intestino- que melhora a produção de incretinas. Segundo ele, em um grupo de 39 pacientes operados, 90% resolveram seu problema de diabetes e muitos não precisaram mais de remédios. A técnica inclui a redução de 20% do estômago para perda de peso e menor resistência à insulina.


Texto Anterior: Condomínio em que vivia Abadía sofre onda de furtos
Próximo Texto: Passei por isso: "Sinto que estou ainda mais disposta"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.