São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 2008

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Perito cita falta de recursos em laudo do acidente da TAM

Texto entregue ontem à Polícia Civil diz que laudo pode estar incompleto devido à falta de tempo, de técnicos e de recursos

Secretaria da Segurança diz que essa é a forma usada pelos técnicos para se resguardar da comparação com futuros laudos

LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O laudo do IC (Instituto de Criminalística) da Polícia Civil sobre o acidente com o Airbus da TAM que matou 199 pessoas em julho de 2007 pode estar incompleto "devido à falta de tempo, número de pesquisadores e recursos". A conclusão consta do próprio laudo, feito pelo perito Antônio Nogueira.
O laudo aponta que o acidente foi provocado por um conjunto de falhas, da Infraero, da Anac, da TAM, da Airbus e também dos pilotos.
A Secretaria da Segurança Pública afirmou que a declaração é uma forma de o perito se resguardar quanto a outros laudos que sejam emitidos posteriormente. A Aeronáutica também deve divulgar um laudo.
O laudo do IC, que tem 656 páginas de análise e 2.608 páginas de documentos e anexos, foi entregue ontem ao delegado Antônio Carlos Meneses Barbosa, que preside o inquérito do acidente aéreo.
Em uma nota no fim da página 641 do laudo, o perito afirma que o trabalho foi conduzido por ele mesmo "em sua quase totalidade" e diz que "fez uso de seus próprios recursos e de alguns da Superintendência da Polícia Técnico-Científica.
A Folha apurou que Nogueira seria um dos únicos peritos do IC capacitado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a investigar acidentes aéreos. A secretaria diz que há pelo menos dois peritos.
Nogueira diz no documento que incluiu no laudo todos os itens considerados relevantes para uma investigação desse porte, "todavia, essa totalidade elencada pode estar incompleta devido à falta de tempo, número de pesquisadores e recursos". O perito não se aprofunda nesse tema nas 28 páginas -as consideradas essenciais- do laudo divulgadas pela Secretaria da Segurança.

Inquérito
O delegado Barbosa afirmou em entrevista ontem que o laudo foi concluído rapidamente (um ano e quatro meses). "Nos Estados Unidos, um acidente aéreo mais simples demora dois anos para ter a investigação concluída", disse.
Ele revelou que também teve dificuldades em seu trabalho. Afirmou que ao lidar com parte das entidades da aviação ligadas ao caso, não obteve informações espontaneamente, tendo que recorrer a determinações judiciais para ter acesso a alguns documentos.
Com o laudo final do IC em mãos, o delegado afirmou que pretende finalizar o inquérito sobre o acidente na próxima semana. "Se não houver nenhuma determinação judicial em contrário", disse.
A reportagem apurou que pelo menos dez representantes da Infraero, da Anac, da TAM e da Airbus deverão ser indiciados.
Elas responderão pelo crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo, com pena de até seis anos de detenção.

Conclusões
O laudo do IC identifica erro humano -da tripulação da aeronave- no fato de os manetes que controlam os motores do Airbus estarem em posição errada na hora do acidente.
Contudo, o perito diz que a tripulação não pode ser a única responsabilizada -por conta das tomadas de decisão em situações críticas- pela "assimetria de potência experimentada pela aeronave".
Já o inquérito irá dizer que não é possível determinar se o manete estava inoperante por erro dos pilotos (falha humana) ou por falha do computador de bordo da aeronave.
O trecho do laudo divulgado pela Secretaria da Segurança também aponta deficiências na pista de Congonhas.


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