São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 2008

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"Vovô" dos parques de SP, Luz preserva paisagismo original aos 210 anos

Alex Almeida/Folha Imagem
Freqüentadoras lêem à sombra de árvore no parque da Luz, primeira área pública de lazer de São Paulo, que completa 210 anos

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele é o vovô dos parques de São Paulo, filho da corte portuguesa, primeira área pública de lazer da cidade e, até o final do século 19, a principal atração paulistana. Nesta semana, a Luz faz 210 anos com parabéns e bolo de aniversário.
Criado numa área bucólica, longe dos 15 mil habitantes e da pequena mancha urbana da época, o parque é rodeado de histórias. Uma delas é que a primeira estação meteorológica da cidade, uma torre que passava dos 20 metros, então a construção mais alta de São Paulo, foi derrubada por ordem do presidente da província, João Teodoro, depois de descobrir que a mulher divertia-se com amantes em suas escadas.
Descobertas em escavações há alguns anos, as ruínas da torre revelaram vestígios da primeira tentativa de conduzir água encanada na cidade, no final dos anos 1800.
Projetado por engenheiros nórdicos, o aqueduto não deu certo porque o calor derreteu a canalização e a trepidação dos trens da estação ferroviária, construída anos depois, rompeu a tubulação. Ainda hoje se vêem os canos pretos bem próximos do chão.
A Luz, explica Virgínia Talaveira Tristão, coordenadora do programa de trilhas urbanas da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, é um hibridismo de jardins franceses (a sobreposição do homem sobre o ambiente, relegada a segundo plano, como se vê no parque da Independência/ Museu do Ipiranga) e de jardins ingleses (a imitação da natureza). Até hoje o parque preserva o paisagismo original, como o coreto e o lago em forma de cruz de malta.
Freqüentado pela alta burguesia, a Luz já foi o centro da vida cultural da cidade. Ali só se entrava de terno. Há registro em foto de mendigos, em trapos e descalços, que circulavam por lá com paletós.
Na casa de chá aconteciam saraus, onde a elite intelectual se reunia. Olavo Bilac, poeta parnasiano, era um dos ilustres freqüentadores.
Nesses 210 anos, a história do parque se confunde com a vida e a urbanização de São Paulo. Perdeu parte do terreno, hoje de 113 mil metros quadrados, para a estação de trens, para Pinacoteca e para o bairro, reduto de imigrantes.
Hoje, as alamedas estão tomadas por velhas senhoras -algumas com mais de 70 anos- que se prostituem por alguns trocados ou por um prato de comida. Por causa da permissividade, a Luz se apaga e fecha as portas do parque antes mesmo de o cair do sol.


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