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"Vovô" dos parques de SP, Luz preserva paisagismo original aos 210 anos
Alex Almeida/Folha Imagem
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Freqüentadoras lêem à sombra de árvore no parque da Luz, primeira área pública de lazer de São Paulo, que completa 210 anos
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele é o vovô dos parques de
São Paulo, filho da corte portuguesa, primeira área pública
de lazer da cidade e, até o final
do século 19, a principal atração paulistana. Nesta semana,
a Luz faz 210 anos com parabéns e bolo de aniversário.
Criado numa área bucólica,
longe dos 15 mil habitantes e
da pequena mancha urbana
da época, o parque é rodeado
de histórias. Uma delas é que
a primeira estação meteorológica da cidade, uma torre
que passava dos 20 metros,
então a construção mais alta
de São Paulo, foi derrubada
por ordem do presidente da
província, João Teodoro, depois de descobrir que a mulher divertia-se com amantes
em suas escadas.
Descobertas em escavações
há alguns anos, as ruínas da
torre revelaram vestígios da
primeira tentativa de conduzir água encanada na cidade,
no final dos anos 1800.
Projetado por engenheiros
nórdicos, o aqueduto não deu
certo porque o calor derreteu
a canalização e a trepidação
dos trens da estação ferroviária, construída anos depois,
rompeu a tubulação. Ainda
hoje se vêem os canos pretos
bem próximos do chão.
A Luz, explica Virgínia Talaveira Tristão, coordenadora
do programa de trilhas urbanas da Secretaria do Verde e
do Meio Ambiente, é um hibridismo de jardins franceses
(a sobreposição do homem
sobre o ambiente, relegada a
segundo plano, como se vê no
parque da Independência/
Museu do Ipiranga) e de jardins ingleses (a imitação da
natureza). Até hoje o parque
preserva o paisagismo original, como o coreto e o lago em
forma de cruz de malta.
Freqüentado pela alta burguesia, a Luz já foi o centro da
vida cultural da cidade. Ali só
se entrava de terno. Há registro em foto de mendigos, em
trapos e descalços, que circulavam por lá com paletós.
Na casa de chá aconteciam
saraus, onde a elite intelectual se reunia. Olavo Bilac,
poeta parnasiano, era um dos
ilustres freqüentadores.
Nesses 210 anos, a história
do parque se confunde com a
vida e a urbanização de São
Paulo. Perdeu parte do terreno, hoje de 113 mil metros
quadrados, para a estação de
trens, para Pinacoteca e para o
bairro, reduto de imigrantes.
Hoje, as alamedas estão tomadas por velhas senhoras
-algumas com mais de 70
anos- que se prostituem por
alguns trocados ou por um
prato de comida. Por causa da
permissividade, a Luz se apaga e fecha as portas do parque
antes mesmo de o cair do sol.
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