Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PALACE 2
"Sou só o dono da empresa", afirma o ex-deputado, que atribui sua prisão à falta de imparcialidade da juíza
Naya diz que não é culpado pelas mortes
ALEXANDRE MARON
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Processado criminalmente sob
acusação de "desabamento doloso seguido de morte" no episódio
do Palace 2, o empresário e ex-deputado Sérgio Naya disse ontem à
Folha que se sente "injustiçado"
por ter sido preso.
Detido no Ponto Zero, a prisão
especial da Polícia Civil, o dono da
construtora Sersan respondeu
por escrito às questões enviadas,
também por escrito, por intermédio de seu advogado criminal, Nilo Batista. Naya assinou as respostas, redigidas a caneta.
Ele reconheceu ter responsabilidade cível no desabamento, mas
voltou a negar sua culpa no processo criminal. Ele alega que não
projetou nem construiu o prédio
e que não é culpado pelas mortes.
A seguir, a entrevista:
Folha - O senhor se sente injustiçado com essa prisão?
Sérgio Naya - Muito injustiçado. Acho que não houve imparcialidade por parte da senhora
juíza. Acho que a prisão neste momento é uma espécie de continuação do réveillon de Orlando. (Naya se refere à gravação de uma festa de réveillon, exibida pela Rede
Globo, em que ele aparece dizendo que não tomaria champanhe
em "taças de pobre".)
Folha - Como tem sido sua rotina na prisão (alimentação, cela, televisão etc.)?
Naya - Tenho me alimentado
muito pouco, como de costume, e
não tenho o hábito de ver TV.
Folha - Por que o senhor estava tão irritado no avião e ofendeu até a mãe de um ex-morador do Palace?
Naya - Fui eu que fui ofendido
por ele. Perdi a cabeça.
Folha - O senhor tem se comunicado com seus parentes?
Naya - Eles têm me visitado e
me apoiado.
Folha - O senhor acha que conseguirá ser solto para passar as
festas de final de ano em casa?
Naya - Acho que na Justiça nem
todo mundo tem medo da imprensa. Confio em Deus.
Folha - O senhor se sente responsável pelo desabamento? Se
não, quem é?
Naya - Não projetei o prédio,
não calculei o prédio e não participei como engenheiro da construção. Sou só o dono da empresa.
Folha - Oito morreram. O que
o senhor diz às famílias?
Naya - Lamento profundamente. A Sersan tem responsabilidade
civil, porque foi ela que contratou
o calculista que errou. Deus sabe
que sou inocente dessas mortes.
Folha - Os ex-moradores do
Palace dizem que o senhor nunca lhes deu nenhum tipo de
apoio, a não ser o pagamento
das diárias de hotel. É verdade?
Naya - Apesar das agressões que
venho sofrendo de um certo grupo, a Sersan já indenizou por
acordo 72 ex-moradores. Com os
bens bloqueados, perdi condições
de pagar outros acordos. Alguns
querem quantias muito elevadas.
A Justiça vai decidir.
Folha - O senhor acha que R$
10 mil de indenização por danos
morais, mais R$ 10 mil de danos
materiais, além do valor do
apartamento, são suficientes
para reparar o sofrimento?
Naya - A Sersan pagou quantias
maiores por danos morais quando era o caso e quantias maiores
por danos materiais. Quanto ao
apartamento, devolvi o valor que
recebi com correção.
Folha - O advogado das famílias disse ter informações sobre
indícios de ligação do senhor
com o tráfico de drogas.
Naya - Vou processar este advogado por calúnia.
Folha - O senhor prefere ficar
preso no Rio ou em Brasília? Por
quê?
Naya - Não sou culpado. Não
devia estar preso.
Texto Anterior: Ação contra fugas começa no Estado Próximo Texto: Justiça nega três recursos Índice
|