São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PALACE 2
"Sou só o dono da empresa", afirma o ex-deputado, que atribui sua prisão à falta de imparcialidade da juíza
Naya diz que não é culpado pelas mortes

ALEXANDRE MARON
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Processado criminalmente sob acusação de "desabamento doloso seguido de morte" no episódio do Palace 2, o empresário e ex-deputado Sérgio Naya disse ontem à Folha que se sente "injustiçado" por ter sido preso.
Detido no Ponto Zero, a prisão especial da Polícia Civil, o dono da construtora Sersan respondeu por escrito às questões enviadas, também por escrito, por intermédio de seu advogado criminal, Nilo Batista. Naya assinou as respostas, redigidas a caneta.
Ele reconheceu ter responsabilidade cível no desabamento, mas voltou a negar sua culpa no processo criminal. Ele alega que não projetou nem construiu o prédio e que não é culpado pelas mortes.
A seguir, a entrevista:

Folha - O senhor se sente injustiçado com essa prisão?
Sérgio Naya -
Muito injustiçado. Acho que não houve imparcialidade por parte da senhora juíza. Acho que a prisão neste momento é uma espécie de continuação do réveillon de Orlando. (Naya se refere à gravação de uma festa de réveillon, exibida pela Rede Globo, em que ele aparece dizendo que não tomaria champanhe em "taças de pobre".)

Folha - Como tem sido sua rotina na prisão (alimentação, cela, televisão etc.)?
Naya -
Tenho me alimentado muito pouco, como de costume, e não tenho o hábito de ver TV.

Folha - Por que o senhor estava tão irritado no avião e ofendeu até a mãe de um ex-morador do Palace?
Naya -
Fui eu que fui ofendido por ele. Perdi a cabeça.

Folha - O senhor tem se comunicado com seus parentes?
Naya -
Eles têm me visitado e me apoiado.

Folha - O senhor acha que conseguirá ser solto para passar as festas de final de ano em casa?
Naya -
Acho que na Justiça nem todo mundo tem medo da imprensa. Confio em Deus.

Folha - O senhor se sente responsável pelo desabamento? Se não, quem é?
Naya -
Não projetei o prédio, não calculei o prédio e não participei como engenheiro da construção. Sou só o dono da empresa.

Folha - Oito morreram. O que o senhor diz às famílias?
Naya -
Lamento profundamente. A Sersan tem responsabilidade civil, porque foi ela que contratou o calculista que errou. Deus sabe que sou inocente dessas mortes.

Folha - Os ex-moradores do Palace dizem que o senhor nunca lhes deu nenhum tipo de apoio, a não ser o pagamento das diárias de hotel. É verdade?
Naya -
Apesar das agressões que venho sofrendo de um certo grupo, a Sersan já indenizou por acordo 72 ex-moradores. Com os bens bloqueados, perdi condições de pagar outros acordos. Alguns querem quantias muito elevadas. A Justiça vai decidir.

Folha - O senhor acha que R$ 10 mil de indenização por danos morais, mais R$ 10 mil de danos materiais, além do valor do apartamento, são suficientes para reparar o sofrimento?
Naya -
A Sersan pagou quantias maiores por danos morais quando era o caso e quantias maiores por danos materiais. Quanto ao apartamento, devolvi o valor que recebi com correção.

Folha - O advogado das famílias disse ter informações sobre indícios de ligação do senhor com o tráfico de drogas.
Naya -
Vou processar este advogado por calúnia.

Folha - O senhor prefere ficar preso no Rio ou em Brasília? Por quê?
Naya -
Não sou culpado. Não devia estar preso.


Texto Anterior: Ação contra fugas começa no Estado
Próximo Texto: Justiça nega três recursos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.