São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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EXTREMOS DA SEGURANÇA

Balbinos (SP) não teve assassinato desde a fundação, há mais de meio século; último roubo foi há 7 anos

A vida na cidade que não conhece homicídio

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Soldado rega horta cultivada no quintal do posto da Polícia Militar em Balbinos, no interior de São Paulo


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O crime mais comentado do mês foi o furto de ovos e de dez quilos de carne de leitão. A única prisão do ano foi de um forasteiro, que devia pensão alimentícia para a ex-mulher. No último roubo, mais de sete anos atrás, o ladrão, um lavrador, nem arma tinha e deu uma rasteira na vítima, outro lavrador, para pegar R$ 40. Ambos estavam bêbados. Fora os crimes de que nunca se teve registro, entre eles o homicídio doloso, o tráfico e o porte de droga.
Essas são as estatísticas criminais de Balbinos, no noroeste de São Paulo, a cidade mais pacata do Estado. É o município paulista que há mais tempo não registra morte violenta. Os documentos disponíveis da polícia e a memória dos moradores mais velhos descartam a ocorrência de homicídio desde a fundação da cidade, no dia 30 de dezembro de 1953.
Balbinos é um dos paraísos de São Paulo livres dos altos índices de violência que a Folha retrata hoje. Segundo dados da Fundação Seade e da Secretaria da Segurança Pública, ele é o único município sem ocorrência de homicídio desde 1980 -em anos anteriores, não há dados disponíveis.
Mas o livro de ocorrências policiais de Balbinos, iniciado em 1975, estende essa marca para 30 anos sem homicídio. Nas páginas já amareladas não há nenhuma linha sobre morte violenta. Já os moradores mais velhos, como o ex-prefeito José Gaberlini, 80, garantem que esse recorde completa 52 anos no próximo dia 30.
"O único tiroteio de que se tem notícia foi antes da fundação da cidade, quando dois vizinhos trocaram tiros de espingarda das janelas das casas, mas os dois eram ruins de mira. O tiroteio foi por causa da mulher de um deles", afirma Gaberlini, rindo, ao meio-dia, ao lado de um copo de cerveja em um dos três bares da cidade.

Vida de interior
Menos de dez minutos de carro são suficientes para percorrer o centro de Balbinos. A cidade, quem tem a agricultura como principal atividade econômica, tem 1.339 moradores, segundo o IBGE, boa parte residindo na área rural. Mas o tamanho do município não é o único segredo. Balbinos consegue ser a menos violenta entre as 18 cidades paulistas com população inferior a 2.000 moradores. Até mesmo Borá, com 831 habitantes - a menor população do Estado - registrou três mortes por agressão entre 1980 e 2004.
Outro motivo do recorde positivo, segundo os próprios moradores, seria um policiamento comunitário cumprido à risca. Logo na entrada do posto da Polícia Militar, bem à vista de todos, foi colocado um quadro com as fotos dos dez policiais responsáveis pelo policiamento ostensivo da cidade.
No lado esquerdo do prédio, ainda no pátio do posto da PM, um prova de que a polícia se integrou à comunidade: uma horta com alface, pimenta, mandioca e melancia. Os PMs se revezam para cuidar da horta nos horários de folga. O que é colhido vai para a comida dos policiais, mas o morador que pedir também leva verduras para casa.
Mesmo com estatísticas invejáveis, os PMs realizam rondas pela cidade. Todos usam colete à prova de bala e pistola .40. "O que mais ocorre na cidade é furto de passarinho, de ração de gado. Mas isso não quer dizer que nosso trabalho não tenha de ser planejado", afirmou o capitão da PM Reginaldo de Souza Braga, que comanda o policiamento na região.
Mas, apesar da ausência de crimes violentos, a polícia também salva vidas. Foi a rapidez com a qual foi atendida uma simples ocorrência de briga familiar -incidente que talvez fosse desprezado em áreas mais violentas do Estado- que evitou um suicídio, em junho passado.
Ao chegar ao local, o PM Daniel Inforzato e um colega perceberam uma movimentação estranha no topo de uma goiabeira no fundos da casa. Eles ainda tiveram tempo de salvar um jovem de 22 anos, que se debatia com uma corda no pescoço.
"Aqui a gente conversa muito com a população. O caso pode de ser de furto, mas é preciso dar uma assistência porque, para eles, a sensação de perda é muito grande", diz Inforzato.
Até anteontem, a cidade não tinha registrado nenhuma ocorrência neste mês -o furto de ovos e carne de leitão aconteceu no dia 24 de novembro. No ano todo, foram 65 ocorrências registradas, 17 delas furtos em sítios, segundo o investigador Carlos Eduardo de Melo Labriola.

Colaboraram THARSILA PRATES e LUCAS NEVES

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