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EXTREMOS DA SEGURANÇA
Em busca de moradores, prefeitura doou terreno a quem construísse casas na cidade
Balbinos é reduto de paulistano cansado da violência urbana
DA REPORTAGEM LOCAL
Os vizinhos iam chegando pela
manhã e arrumando a casa, lavando a roupa. De tornozelo engessado, Maria José da Silva Bezerra, 61, assistia a tudo surpresa.
Tinha decidido viver em uma cidade do interior já pensando em
atitudes como essas, mas não esperava tamanha solidariedade em
tão pouco tempo.
"Na cidade de São Paulo, onde
vivi por mais de 30 anos, nem
quando minha mãe e minhas irmãs morreram os vizinhos me
deram uma palavra de consolo",
afirma a dona-de-casa. Sem filhos, ela e o marido, José de França Bezerra, 50, mudaram-se há oito meses para Balbinos.
Os dois construíram uma casa
no bairro São Judas Tadeu, também conhecido como Vila São
Paulo. Nos últimos anos, o local se
tornou um núcleo paulistano em
Balbinos. Os antigos moradores
da capital paulista fugiram principalmente da violência.
Boa parte recebeu terreno grátis
da prefeitura. Desde 1992, para
aumentar a população -a cidade
chegou a ter 700 habitantes, metade do que tem hoje-, o município cedeu áreas, desde que o beneficiado se comprometesse a erguer as paredes de alvenaria e colocar telhado em nove meses. Só
quatro áreas foram retomadas.
Foram doados cerca de 200 terrenos, 70% deles para pessoas
vindas da capital. Metade dos beneficiados era aposentada. Cerca
de 6.000 pretendentes se inscreveram na prefeitura, segundo Manoel Fernando Cunha, diretor de
Obras e Patrimônio.
Em 2005, nenhuma área foi
doada, mas o município iniciou
negociação para comprar um alqueire e voltar a distribuir lotes no
ano que vem.
Com aposentadoria de R$ 300,
Maria vendia balas em um ponto
de ônibus do bairro Cidade A. E.
Carvalho, zona leste de São Paulo.
Foi nesse local que ela conheceu
uma mulher que tinha uma casa
em construção em Balbinos.
Ao falar que pretendia se mudar
para o interior, a mulher concordou em mostrar a cidade a Maria.
"Estava difícil sobreviver em
São Paulo. Você podia sair e morrer. Aqui, você não tem medo que
alguém arrombe a sua porta. E R$
300 aqui é muito mais do que R$
300 lá", afirmou ela.
Bezerra, que estava desempregado em São Paulo, afirma que vai
ter dificuldade em conseguir bicos na nova cidade. "A pessoa
precisa saber que aqui a vida é
tranqüila, mas não é fácil. Não há
emprego", afirma ele, que espera
a abertura de um concurso para
cargos na prefeitura.
Maria começou a descobrir a vida no interior quando, ironicamente, perdeu o equilíbrio, caiu
na rua e quebrou o tornozelo.
"Um a ambulância foi me buscar
em casa e me trouxe. Quando isso
acontece em São Paulo? Foi na
minha doença que eu pude ver o
amor do povo", afirma.
"Eu sei. São Paulo é São Paulo.
Mas não tínhamos nem lazer",
afirma Maria. "Hoje, pegar o carro e ir no supermercado na cidade
vizinha já um passeio e tanto."
(GILMAR PENTEADO)
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