São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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EXTREMOS DA SEGURANÇA

Cidade paulista mais pacata não tem homicídio desde 1953; neste mês, nenhum crime foi registrado

Em Balbinos, furto de ovo é crime do mês

DA REPORTAGEM LOCAL

Nem mesmo policiais conseguem segurar o riso quando contabilizam o alvo dos ladrões em Balbinos, a cidade mais pacata do Estado de São Paulo. A lista de objetos furtados de 2005 -sem uso de violência ou ameaça- contém ovos, carne, travesseiros, cobertores, arreio de cavalo, ração para gado e óleo diesel.
Foram 17 furtos registrados na delegacia da cidade desde o começo do ano, em um total de 65 ocorrências, segundo o investigador da Polícia Civil Carlos Eduardo de Melo Labriola. Os sítios são o alvo predileto dos ladrões. Em fevereiro, por exemplo, a Polícia Militar não registrou nenhuma ocorrência. Até anteontem, dezembro também continuava sem nenhum novo crime.
O último furto, no dia 24 de novembro, ainda repercute na cidade. Ladrões invadiram um sítio e levaram um botijão de gás, ovos e dez quilos de carne de leitão que estavam em um freezer.
Com 1.339 moradores, o tamanho de Balbinos não é o único segredo para explicar as estatísticas tão favoráveis. O município conseguiu ser o mais pacato inclusive entre as 18 cidades paulistas com menos de 2.000 habitantes.
Até mesmo Borá, com 831 moradores -a menor população do Estado -registrou três mortes por agressão entre 1980 e 2004, segundo dados da Fundação Seade.
Segundo dados da fundação e da Secretaria da Segurança Pública, Balbinos é o único município paulista sem ocorrência de homicídio desde 1980 -em anos anteriores, não há dados disponíveis. Outras cidades também têm o privilégio de não ter um registro de morte violenta na sua história, mas foram fundadas depois.
Mas, se para a Fundação Seade o recorde é 1980, o livro de ocorrências policiais de Balbinos, iniciado em 1975, estende essa marca para 30 anos sem homicídio. Nas páginas já amareladas não há nenhuma linha sobre morte violenta. Já os moradores mais velhos, como o ex-prefeito José Gaberlini, 80, garante que esse recorde completa 52 anos no próximo dia 30.
"O único tiroteio de que se tem notícia foi antes da fundação da cidade, quando dois vizinhos trocaram tiros de espingarda das janelas das casas, mas os dois eram ruim de mira. O tiroteio foi por causa da mulher de um deles", afirma Gaberlini, rindo, ao meio-dia, ao lado de um copo de cerveja em um dos três bares da cidade.
Outro motivo do recorde positivo, segundo os próprios moradores, seria um policiamento comunitário cumprido à risca. Logo na entrada do posto da Polícia Militar, bem à vista de todos, foi colocado um quadro com as fotos dos dez policiais responsáveis pelo policiamento ostensivo da cidade.
No lado esquerdo do prédio, no pátio do posto da PM, um prova de que a polícia se integrou à comunidade: uma horta com alface, pimenta, mandioca e melancia. Os PMs se revezam para cuidar da horta nos horários de folga. O que é colhido vai para a comida dos PMs, mas o morador que pedir, também leva verduras para casa.
Mesmo com estatísticas invejáveis, os PMs realizam rondas pela cidade. Todos usam colete à prova de bala e pistola .40. "O que mais ocorre na cidade é furto de passarinho, ração de gado. Mas isso não quer dizer que nosso trabalho não tenha de ser planejado", afirmou o capitão da PM Reginaldo de Souza Braga, que comanda o policiamento na região.
Mas, apesar da ausência de crimes violentos, a polícia também salva vidas. Foi a rapidez na qual foi atendida uma simples ocorrência de briga familiar -incidente que talvez fosse desprezado em áreas mais violentas do Estado- que evitou um suicídio, em junho passado.
Ao chegar ao local, o PM Daniel Inforzato e um colega perceberam uma movimentação estranha no topo de uma goiabeira nos fundos da casa. Eles ainda tiveram tempo de salvar um jovem de 22 anos, que se debatia com uma corda no pescoço. "Aqui a gente conversa muito com a população. O caso pode de ser de furto, mas é preciso dar uma assistência porque, para eles, a sensação de perda é muito grande", diz Inforzato.
(GILMAR PENTEADO)


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