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EXTREMOS DA SEGURANÇA
Cidade paulista mais pacata não tem homicídio desde 1953; neste mês, nenhum crime foi registrado
Em Balbinos, furto de ovo é crime do mês
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem mesmo policiais conseguem segurar o riso quando contabilizam o alvo dos ladrões em
Balbinos, a cidade mais pacata do
Estado de São Paulo. A lista de objetos furtados de 2005 -sem uso
de violência ou ameaça- contém
ovos, carne, travesseiros, cobertores, arreio de cavalo, ração para
gado e óleo diesel.
Foram 17 furtos registrados na
delegacia da cidade desde o começo do ano, em um total de 65
ocorrências, segundo o investigador da Polícia Civil Carlos Eduardo de Melo Labriola. Os sítios são
o alvo predileto dos ladrões. Em
fevereiro, por exemplo, a Polícia
Militar não registrou nenhuma
ocorrência. Até anteontem, dezembro também continuava sem
nenhum novo crime.
O último furto, no dia 24 de novembro, ainda repercute na cidade. Ladrões invadiram um sítio e
levaram um botijão de gás, ovos e
dez quilos de carne de leitão que
estavam em um freezer.
Com 1.339 moradores, o tamanho de Balbinos não é o único segredo para explicar as estatísticas
tão favoráveis. O município conseguiu ser o mais pacato inclusive
entre as 18 cidades paulistas com
menos de 2.000 habitantes.
Até mesmo Borá, com 831 moradores -a menor população do
Estado -registrou três mortes
por agressão entre 1980 e 2004, segundo dados da Fundação Seade.
Segundo dados da fundação e
da Secretaria da Segurança Pública, Balbinos é o único município
paulista sem ocorrência de homicídio desde 1980 -em anos anteriores, não há dados disponíveis.
Outras cidades também têm o
privilégio de não ter um registro
de morte violenta na sua história,
mas foram fundadas depois.
Mas, se para a Fundação Seade o
recorde é 1980, o livro de ocorrências policiais de Balbinos, iniciado
em 1975, estende essa marca para
30 anos sem homicídio. Nas páginas já amareladas não há nenhuma linha sobre morte violenta. Já
os moradores mais velhos, como
o ex-prefeito José Gaberlini, 80,
garante que esse recorde completa 52 anos no próximo dia 30.
"O único tiroteio de que se tem
notícia foi antes da fundação da
cidade, quando dois vizinhos trocaram tiros de espingarda das janelas das casas, mas os dois eram
ruim de mira. O tiroteio foi por
causa da mulher de um deles",
afirma Gaberlini, rindo, ao meio-dia, ao lado de um copo de cerveja
em um dos três bares da cidade.
Outro motivo do recorde positivo, segundo os próprios moradores, seria um policiamento comunitário cumprido à risca. Logo na
entrada do posto da Polícia Militar, bem à vista de todos, foi colocado um quadro com as fotos dos
dez policiais responsáveis pelo
policiamento ostensivo da cidade.
No lado esquerdo do prédio, no
pátio do posto da PM, um prova
de que a polícia se integrou à comunidade: uma horta com alface,
pimenta, mandioca e melancia.
Os PMs se revezam para cuidar da
horta nos horários de folga. O que
é colhido vai para a comida dos
PMs, mas o morador que pedir,
também leva verduras para casa.
Mesmo com estatísticas invejáveis, os PMs realizam rondas pela
cidade. Todos usam colete à prova de bala e pistola .40. "O que
mais ocorre na cidade é furto de
passarinho, ração de gado. Mas
isso não quer dizer que nosso trabalho não tenha de ser planejado", afirmou o capitão da PM Reginaldo de Souza Braga, que comanda o policiamento na região.
Mas, apesar da ausência de crimes violentos, a polícia também
salva vidas. Foi a rapidez na qual
foi atendida uma simples ocorrência de briga familiar -incidente que talvez fosse desprezado
em áreas mais violentas do Estado- que evitou um suicídio, em
junho passado.
Ao chegar ao local, o PM Daniel
Inforzato e um colega perceberam uma movimentação estranha
no topo de uma goiabeira nos
fundos da casa. Eles ainda tiveram
tempo de salvar um jovem de 22
anos, que se debatia com uma
corda no pescoço. "Aqui a gente
conversa muito com a população.
O caso pode de ser de furto, mas é
preciso dar uma assistência porque, para eles, a sensação de perda
é muito grande", diz Inforzato.
(GILMAR PENTEADO)
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