São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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EDUCAÇÃO

Segundo pesquisadores, uma das explicações para o bom resultado é o conhecimento adquirido pelas pessoas no cotidiano

Adultos alfabetizados têm atuação melhor com números e letras

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao contrário do que normalmente acontece em avaliações de crianças matriculadas no ensino básico, os adultos que finalizaram o curso de alfabetização tiveram, na média geral, um desempenho um pouco melhor em matemática do que em língua portuguesa. O percentual de acerto ficou em 68,2% e 64,9%, respectivamente.
Segundo os especialistas, isso é explicado em parte pelo conhecimento adquirido no cotidiano dos adultos, que, mesmo sem saber ler, usam medidas de comprimento e têm noções de proporção, por exemplo.
Esse é um dos resultados da primeira avaliação feita por 2.800 estudantes de sete Estados e do Distrito Federal que participaram do programa Brasil Alfabetizado em turmas mantidas pelo Sesi (Serviço Social da Indústria).
O órgão é o maior parceiro do Ministério da Educação no programa, lançado em 2003, e o primeiro a entregar uma avaliação geral dos alunos.
Pelos dados apresentados nesta semana, 86,7% acertaram a questão relacionada à interpretação de textos curtos, como placas, avisos e cartazes.
Aliado a isso, 91,3% deram respostas corretas na questão que tratava da identificação de palavras usadas no cotidiano ou de pequenos textos.
Já 85,3% dos alfabetizados foram capazes de buscar informações em classificados de jornal.
Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Ricardo Henriques, esses dados apontam que está havendo um processo inicial de leitura desses alunos. "Esse é um salto necessário para viabilizar a continuidade em turmas de 1ª a 4ª séries", disse.

Leitura
Por outro lado, apenas 26% dos avaliados conseguiram aplicar informações selecionadas na leitura para o cumprimento de tarefas do cotidiano. Esse foi o menor índice entre as 11 questões da disciplina -o restante ficou acima dos 46%.
De acordo com os pesquisadores, esse índice baixo não se trata de um problema com os alunos, mas pode ser explicado pela falta de familiaridade com a questão apresentada, que trazia uma folha de cheque, e até pelo tamanho reduzido da ilustração.
Nas questões referentes à matemática, o menor índice de acerto foi de 44%, na pergunta que tratava de interpretação de quantias envolvendo reais e centavos. A questão que visou coletar, organizar e interpretar dados e informações teve taxa de acerto de 49,5%.
O maior índice -85%- aparece quando os alunos têm de fazer relação entre números, como estabelecer o dobro, por exemplo.
Para o assessor especial da Unesco no Brasil, Célio da Cunha, é importante que a avaliação seja usada para corrigir os eventuais problemas no processo de alfabetização no país.
"O que chama a atenção quando se fala em alfabetização no Brasil é a história de frustrações, com políticas interrompidas. Hoje, passamos a ter no país indícios que asseguram a continuidade do ensino", disse.

Ranking
Relatório divulgado no mês passado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) apontou que o Brasil é um dos 12 países que concentram 75% dos analfabetos jovens e adultos no mundo.
O Brasil fica na 64ª colocação no ranking de menores taxas de analfabetismo (número de analfabetos em comparação à população) entre 137 países com dados disponíveis de 2000 a 2004.
O documento, porém, elogia o esforço do país nos últimos anos para tentar reduzir a taxa.
Até agora, o Sesi formou 600 mil pessoas no projeto e tem mais 300 mil matriculadas. Esta é a primeira avaliação dos alunos egressos. Em 2006, a avaliação, feita em parceria com a Unesco, incluirá adultos que estão entrando no curso, permitindo analisar o conhecimento agregado nos seis meses de duração.
A União repassa recursos no Brasil Alfabetizado para Estados, municípios e organizações não-governamentais desenvolverem os projetos de alfabetização.


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