|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Segundo pesquisadores, uma das explicações para o bom resultado é o conhecimento adquirido pelas pessoas no cotidiano
Adultos alfabetizados têm atuação melhor com números e letras
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao contrário do que normalmente acontece em avaliações de
crianças matriculadas no ensino
básico, os adultos que finalizaram
o curso de alfabetização tiveram,
na média geral, um desempenho
um pouco melhor em matemática do que em língua portuguesa.
O percentual de acerto ficou em
68,2% e 64,9%, respectivamente.
Segundo os especialistas, isso é
explicado em parte pelo conhecimento adquirido no cotidiano
dos adultos, que, mesmo sem saber ler, usam medidas de comprimento e têm noções de proporção, por exemplo.
Esse é um dos resultados da primeira avaliação feita por 2.800 estudantes de sete Estados e do Distrito Federal que participaram do
programa Brasil Alfabetizado em
turmas mantidas pelo Sesi (Serviço Social da Indústria).
O órgão é o maior parceiro do
Ministério da Educação no programa, lançado em 2003, e o primeiro a entregar uma avaliação
geral dos alunos.
Pelos dados apresentados nesta
semana, 86,7% acertaram a questão relacionada à interpretação de
textos curtos, como placas, avisos
e cartazes.
Aliado a isso, 91,3% deram respostas corretas na questão que
tratava da identificação de palavras usadas no cotidiano ou de
pequenos textos.
Já 85,3% dos alfabetizados foram capazes de buscar informações em classificados de jornal.
Para o secretário de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Ricardo
Henriques, esses dados apontam
que está havendo um processo
inicial de leitura desses alunos.
"Esse é um salto necessário para
viabilizar a continuidade em turmas de 1ª a 4ª séries", disse.
Leitura
Por outro lado, apenas 26% dos
avaliados conseguiram aplicar informações selecionadas na leitura
para o cumprimento de tarefas do
cotidiano. Esse foi o menor índice
entre as 11 questões da disciplina
-o restante ficou acima dos 46%.
De acordo com os pesquisadores, esse índice baixo não se trata
de um problema com os alunos,
mas pode ser explicado pela falta
de familiaridade com a questão
apresentada, que trazia uma folha
de cheque, e até pelo tamanho reduzido da ilustração.
Nas questões referentes à matemática, o menor índice de acerto
foi de 44%, na pergunta que tratava de interpretação de quantias
envolvendo reais e centavos. A
questão que visou coletar, organizar e interpretar dados e informações teve taxa de acerto de 49,5%.
O maior índice -85%- aparece quando os alunos têm de fazer
relação entre números, como estabelecer o dobro, por exemplo.
Para o assessor especial da
Unesco no Brasil, Célio da Cunha,
é importante que a avaliação seja
usada para corrigir os eventuais
problemas no processo de alfabetização no país.
"O que chama a atenção quando se fala em alfabetização no
Brasil é a história de frustrações,
com políticas interrompidas. Hoje, passamos a ter no país indícios
que asseguram a continuidade do
ensino", disse.
Ranking
Relatório divulgado no mês passado pela Unesco (Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) apontou
que o Brasil é um dos 12 países
que concentram 75% dos analfabetos jovens e adultos no mundo.
O Brasil fica na 64ª colocação no
ranking de menores taxas de
analfabetismo (número de analfabetos em comparação à população) entre 137 países com dados
disponíveis de 2000 a 2004.
O documento, porém, elogia o
esforço do país nos últimos anos
para tentar reduzir a taxa.
Até agora, o Sesi formou 600 mil
pessoas no projeto e tem mais 300
mil matriculadas. Esta é a primeira avaliação dos alunos egressos.
Em 2006, a avaliação, feita em
parceria com a Unesco, incluirá
adultos que estão entrando no
curso, permitindo analisar o conhecimento agregado nos seis
meses de duração.
A União repassa recursos no
Brasil Alfabetizado para Estados,
municípios e organizações não-governamentais desenvolverem
os projetos de alfabetização.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Lazer noturno: Abertos até as 2h, parques atraem jovens Índice
|