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Documento revela que houve pane no PR
Livro que registra ocorrências do Cindacta-2 mostra que Aeronáutica ocultou real causa de paralisação do tráfego aéreo
No dia do incidente a Aeronáutica havia informado que a falta de energia era em decorrência de corte programado
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao afirmar que ocorreu uma
queda programada de energia
de 40 minutos no Cindacta-2
na última segunda-feira, o Comando da Aeronáutica ocultou
uma pane de uma hora e 40 minutos que chegou a paralisar o
tráfego aéreo de toda região
controlada pelo centro de Curitiba. A área coberta pelo centro
de Curitiba inclui Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paraná,
Mato Grosso do Sul e cerca de
metade de São Paulo.
Por meia hora, decolagens
foram suspensas e aviões já em
rota foram devolvidos ao ponto
de partida ou impedidos de entrar naquele espaço aéreo. Nesse dia, o país registrou 30% dos
vôos com atrasos de mais de
uma hora, além de 64 cancelamentos -18 em Congonhas e 11
em Guarulhos, principais aeroportos do Estado de São Paulo.
Oficialmente, a Aeronáutica
informou por nota e pela assessoria de imprensa que não houve nenhuma falha ou imprevisto, apenas uma "interrupção"
de energia entre 12h e 12h40
que seria necessária para os
trabalhos de modernização de
equipamentos já em curso.
Afirmou ainda que o tráfego
operou convencionalmente
(apenas com rádio) durante esse período e que o radar voltou
a funcionar às 13h.
Isso não é correto. A Folha
teve acesso à ficha do dia 11 de
dezembro do livro de ocorrências operacionais do Cindacta-2, que ilustra o que realmente
aconteceu naquele dia.
Às 12h03 (14h03 no horário
de Greenwich), a energia caiu
de forma imprevista e o UPS
(no-break) não funcionou. As
consoles (telas de radar nos
postos dos controladores) e
computadores apagaram.
Assim como ocorreu em Brasília no início do mês, foi acionado um plano emergencial.
Técnicos de manutenção e
de processamento de dados foram chamados às pressas para
tentar resolver o problema. Por
meia hora, as aeronaves foram
retidas no chão e os pilotos foram orientados a não entrar no
espaço aéreo coberto pelo Cindacta de Curitiba.
Quase meia hora depois, as
freqüências de rádio haviam sido testadas e funcionavam. Só
então, às 12h33, o tráfego foi
lentamente liberado. Cada "setor" monitorava apenas cinco
aviões, sem uso de radar, usando apenas o rádio.
Às 12h50 o radar voltou a
funcionar, mas a pane prosseguia no STPV, sistema que gerencia os planos de vôo. Foram
liberados oito aviões por setor,
enquanto as fichas de progressão de vôo -que trazem dados
de altitude, rota e velocidade-
eram preenchidas manualmente em tempo real.
Apenas às 13h40, esse sistema voltou a funcionar e o controle aéreo voltou a operar normalmente. O livro de ocorrências também registra freqüências que não funcionam e radares fora do ar ou com potência
reduzida, além de linha telefônica cruzada (contato com a
torre de Guarulhos atendido
por Brasília). Além dos atrasos,
dois vôos decolaram de Guarulhos e tiveram de voltar -Aerolineas Argentinas para Buenos
Aires e Gol para Santiago.
A Folha contatou a assessoria de imprensa da Aeronáutica
no sábado e no domingo, mas
não teve resposta.
A pane no Cindacta de Curitiba ocorreu uma semana depois da inédita queda geral de
radiofreqüências do controle
de Brasília, foi causada por erro
do tenente encarregado da manutenção do equipamento,
conforme mostrou a Folha no
último sábado.
O episódio repercutiu mal
para a Aeronáutica, que acusou
sargentos de sabotagem e, depois de recuar, teve de admitir
defasagem de equipamentos.
Na versão oficial, o governo
divulgou somente que havia
ocorrido "falha humana" de
um "técnico". Apesar da nova
versão, sargentos que atuam na
área técnica e no próprio controle aéreo ficaram revoltados.
Para eles, oficiais da Aeronáutica sistematicamente encobrem seus próprios erros e culpam a patente inferior, os sargentos, pelos problemas ligados ao recente caos aéreo.
Leia entrevista completa com pilotos do Legacy
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