São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

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Documento revela que houve pane no PR

Livro que registra ocorrências do Cindacta-2 mostra que Aeronáutica ocultou real causa de paralisação do tráfego aéreo

No dia do incidente a Aeronáutica havia informado que a falta de energia era em decorrência de corte programado


LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao afirmar que ocorreu uma queda programada de energia de 40 minutos no Cindacta-2 na última segunda-feira, o Comando da Aeronáutica ocultou uma pane de uma hora e 40 minutos que chegou a paralisar o tráfego aéreo de toda região controlada pelo centro de Curitiba. A área coberta pelo centro de Curitiba inclui Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e cerca de metade de São Paulo.
Por meia hora, decolagens foram suspensas e aviões já em rota foram devolvidos ao ponto de partida ou impedidos de entrar naquele espaço aéreo. Nesse dia, o país registrou 30% dos vôos com atrasos de mais de uma hora, além de 64 cancelamentos -18 em Congonhas e 11 em Guarulhos, principais aeroportos do Estado de São Paulo.
Oficialmente, a Aeronáutica informou por nota e pela assessoria de imprensa que não houve nenhuma falha ou imprevisto, apenas uma "interrupção" de energia entre 12h e 12h40 que seria necessária para os trabalhos de modernização de equipamentos já em curso.
Afirmou ainda que o tráfego operou convencionalmente (apenas com rádio) durante esse período e que o radar voltou a funcionar às 13h.
Isso não é correto. A Folha teve acesso à ficha do dia 11 de dezembro do livro de ocorrências operacionais do Cindacta-2, que ilustra o que realmente aconteceu naquele dia.
Às 12h03 (14h03 no horário de Greenwich), a energia caiu de forma imprevista e o UPS (no-break) não funcionou. As consoles (telas de radar nos postos dos controladores) e computadores apagaram.
Assim como ocorreu em Brasília no início do mês, foi acionado um plano emergencial.
Técnicos de manutenção e de processamento de dados foram chamados às pressas para tentar resolver o problema. Por meia hora, as aeronaves foram retidas no chão e os pilotos foram orientados a não entrar no espaço aéreo coberto pelo Cindacta de Curitiba.
Quase meia hora depois, as freqüências de rádio haviam sido testadas e funcionavam. Só então, às 12h33, o tráfego foi lentamente liberado. Cada "setor" monitorava apenas cinco aviões, sem uso de radar, usando apenas o rádio.
Às 12h50 o radar voltou a funcionar, mas a pane prosseguia no STPV, sistema que gerencia os planos de vôo. Foram liberados oito aviões por setor, enquanto as fichas de progressão de vôo -que trazem dados de altitude, rota e velocidade- eram preenchidas manualmente em tempo real.
Apenas às 13h40, esse sistema voltou a funcionar e o controle aéreo voltou a operar normalmente. O livro de ocorrências também registra freqüências que não funcionam e radares fora do ar ou com potência reduzida, além de linha telefônica cruzada (contato com a torre de Guarulhos atendido por Brasília). Além dos atrasos, dois vôos decolaram de Guarulhos e tiveram de voltar -Aerolineas Argentinas para Buenos Aires e Gol para Santiago.
A Folha contatou a assessoria de imprensa da Aeronáutica no sábado e no domingo, mas não teve resposta.
A pane no Cindacta de Curitiba ocorreu uma semana depois da inédita queda geral de radiofreqüências do controle de Brasília, foi causada por erro do tenente encarregado da manutenção do equipamento, conforme mostrou a Folha no último sábado.
O episódio repercutiu mal para a Aeronáutica, que acusou sargentos de sabotagem e, depois de recuar, teve de admitir defasagem de equipamentos.
Na versão oficial, o governo divulgou somente que havia ocorrido "falha humana" de um "técnico". Apesar da nova versão, sargentos que atuam na área técnica e no próprio controle aéreo ficaram revoltados. Para eles, oficiais da Aeronáutica sistematicamente encobrem seus próprios erros e culpam a patente inferior, os sargentos, pelos problemas ligados ao recente caos aéreo.


Leia entrevista completa com pilotos do Legacy

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