São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

foco

Fechado desde o início do mês, hotel Othon pode ser comprado pela prefeitura

Ayrton Vignola/Folha Imagem
Fachada do hotel Othon Classic, ícone do centro velho de São Paulo fechado há duas semanas

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Do alto do terraço do 25º andar, na cobertura do hotel Othon Classic, ícone do centro velho de São Paulo fechado no começo de dezembro depois de dois anos de operação no vermelho, o edifício Matarazzo, que abriga o gabinete do prefeito, parece um anão de pouca estatura. Se juntada a fome com a vontade de comer, os dois podem virar um prédio só.
Afogado numa dívida que só de IPTU e ISS chega a pouco mais de R$ 11,7 milhões, a prefeitura agora negocia a compra do hotel para transformá-lo num anexo, com ligação e tudo.
Convenientemente localizado do outro lado da rua, no número 190 da Líbero Badaró, o antigo Othon abrigaria algumas secretarias e outros órgãos públicos, que hoje já ocupam alguns edifícios da região central, como o Martinelli.
Inaugurado em 1954 no quarto centenário da cidade, o Othon abrigou hóspedes ilustres como Nat King Cole e o então príncipe Akihito, hoje imperador do Japão, entre uma lista de outros estadistas.
Entre as décadas de 1950 e 1970, era freqüentado pela elite política paulistana, como o ex-governador Franco Montoro e o ex-ministro do Planejamento Antonio Delfim Netto. Luiza Erundina, a ex-prefeita, costumava fazer reuniões de gabinete ali. E José Alencar, o vice-presidente da República, passou a lua-de-mel com dona Mariza naquele Othon Classic.
No saguão do hotel, um painel de Burle Marx foi guardado para depois ser instalado numa outra unidade da rede. Em São Paulo, restaram três Othons, dois na região dos Jardins, outro na Berrini.
Todas as TVs e frigobares, alugados de uma empresa, tiveram de ser devolvidos, e as camas e colchões foram selecionados. O que não pôde ser reaproveitado em outros hotéis da cadeia foi doado.

Ocupação
Com ocupação de 70% nos últimos dias, o Othon Classic hospedava basicamente viajantes do Nordeste que iam às compras na rua 25 de Março. Cobrava diária de R$ 120, metade do valor dos hotéis equivalentes da região da Paulista, quando o custo da manutenção era de ao menos R$ 180.
A prefeitura, que confirma a transação, diz ter interesse porque várias secretarias, como a do Verde, estão desmembradas e hoje pagam aluguel. O custo da reforma -seria preciso remodelar os quartos em escritórios- é que vai tornar o negócio viável ou não.
"O interesse é porque o prédio é bem ao lado, fica tudo mais rápido. Se eles estão devendo [impostos], é possível abater", diz Sérgio Rondino, assessor do gabinete do prefeito Gilberto Kassab (DEM).
A intenção foi ratificada por um executivo da rede. "Por mais que se cortassem [os custos], a coisa não valia", diz o diretor que pede anonimato.
Do valor venal do prédio, estimado em R$ 25 milhões, seria abatida a dívida de pouco mais de R$ 11,76 milhões (R$ 7.069.608,43 de ISS e mais R$ 4.696.375,35 de IPTU). Sem contar o imposto predial devido neste ano, que é de R$ 163.844,27. Até ontem, nenhuma das dez prestações de 2008 havia sido paga, como mostrava o balanço da Secretaria Municipal de Finanças.
Especialista em imóveis do centro, Valentina Caran diz que, dependendo do estado de conservação, o prédio pode valer mesmo R$ 25 milhões e que o metro quadrado naquela região é avaliado em R$ 700.
O fechamento do Othon vem na esteira da falência de outros hotéis do centro, como o Hilton, da Ipiranga, e o Caesar Park, da rua Augusta.


Texto Anterior: Reclamações ao Psiu crescem, mas número de multas cai
Próximo Texto: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.