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TERCEIRO SETOR
Áreas de conflitos são alvo da organização
ONG de palhaços faz apresentação amanhã para crianças de favela
TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Depois dos Médicos Sem Fronteiras e dos Jornalistas Sem Fronteiras, chegou a vez dos palhaços.
Habituado a divertir crianças de
campos de refugiados na Bósnia e
na Palestina e de cidades colombianas cercadas pela guerrilha, o
espanhol Tortell Poltrona, 47,
fundador da organização não-governamental Palhaços Sem Fronteiras, está no Rio.
Tortell Poltrona se apresenta
amanhã no Circo Voador da praia
de Ramos (zona norte) para
crianças do complexo de favelas
da Maré. O show é parte das atividades preparatórias do 4º Encontro Internacional "Anjos do Picadeiro", programado para o fim do
ano. No fim de semana, ele participa de espetáculos no teatro Carlos Gomes (centro).
Criada em 1998, a Palhaços Sem
Fronteiras reúne cerca de 2.000
artistas de vários países, que dedicam parte de seu tempo ao trabalho com "populações necessitadas de alegria", em áreas de tragédias e conflitos.
As crianças da Maré se assemelham, em alguns aspectos, às que
ele conheceu nas viagens pelo
mundo. Elas vivem parcialmente
sitiadas, já que a disputa entre as
duas facções criminosas que controlam o tráfico nas favelas impede que circulem livremente:
quem vive do lado do CV (Comando Vermelho) nem sempre
passa impune pelo lado do TC
(Terceiro Comando).
Poltrona foi informado sobre a
violência do tráfico nas favelas
por quatro brasileiros que trabalham no Circ Crac, o circo que ele
montou há 20 anos em Barcelona.
Tortell Poltrona, na verdade
Jaume Mateu Bullich, iniciou-se
no ofício de palhaço em 1974, em
Barcelona.
Mesmo depois de montar o circo, do qual reserva parte do faturamento para os projetos da
ONG, Poltrona continuou atuando em escolas. Foram os alunos
de um colégio de Barcelona que
propuseram, no Natal de 1992,
que ele fizesse um espetáculo para
crianças sérvias de um campo de
refugiados na Bósnia, com os
quais os estudantes espanhóis se
comunicavam por carta.
Foi a primeira de 17 viagens que
fez às antigas repúblicas iugoslavas, e ele foi sequestrado. "Eu passava pelo "check point" [local de
checagem de documentos, fora
do campo" quando fui detido por
soldados croatas. Acabei descobrindo que eles só queriam que eu
me apresentasse para as crianças
do seu lado."
Na Colômbia, o palhaço se viu
mais perto da morte. "Estava me
apresentando em Uruba (noroeste do país), área de conflito entre
guerrilheiros e paramilitares.
Chegou um grupo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia) apontando as armas.
Continuei a atuar, mas feito um
louco, morrendo de medo. No final, consegui que eles colocassem
as armas no chão e aplaudissem.
Iam me levar, mas desistiram."
O palhaço observou que, em locais de conflito, os adultos não
riem. Ele se contenta quando vê
os lábios superiores dos soldados
subirem, esboçando um sorriso.
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