São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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Abadía diz que não sabe onde estão os R$ 60,7 mi

Ele propôs entregar quantia à Justiça em troca de benefícios

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía não vai entregar os US$ 35 milhões (R$ 60,7 milhões) que confessou ter escondido no Brasil até segunda-feira, quando vence o prazo estabelecido pela Justiça. Abadía contou a seu advogado, Luiz Gustavo Battaglin Maciel, que nem ele sabe onde estão os dólares, de acordo com o relato do defensor do traficante.
"É impossível cumprir esse prazo e o juiz sabia disso. Localizar esse dinheiro demora alguns dias porque meu cliente precisa fazer uma série de contatos. Ele já me disse que não sabe onde estão os dólares", afirma o advogado.
O prazo foi dado pelo juiz Fausto Martin de Sanctis, com quem Abadía tentou fazer uma negociação de delação premiada. O traficante ofereceu os dólares, disse que delataria um brasileiro de sua quadrilha, e três colombianos se apresentariam à Justiça dos EUA. Em troca, queria mudar de presídio durante o processo e, posteriormente, a extinção de sua pena e de sua mulher.
O traficante quer ser extraditado o mais rapidamente possível para os EUA, onde é acusado de tráfico internacional e de ser o mandante de 15 mortes -na Colômbia, pesa contra ele a acusação de ter ordenado mais 300 homicídios. No Brasil, ele é acusado de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e uso de documento falso.
Abadía quer ir para os EUA para tentar um acordo com os americanos, nos quais forneceria informações sobre o Cartel do Vale do Norte, que ele comandaria, e dinheiro -o DEA, agência antidrogas dos EUA, estima que ele tem cerca de US$ 1 bilhão.
O juiz foi contra porque ele acha que o traficante quis invadir uma atribuição sua -a de determinar quais são os benefícios que o réu tem num acordo de delação premiada.
A informação de Abadía de que tinha mais dinheiro escondido no Brasil configura um novo crime, na interpretação do juiz. Foi por isso que ele determinou o seqüestro dos US$ 35 milhões e decretou uma nova prisão preventiva ao traficante. Sanctis disse na decisão que a atitude do traficante afeta "a credibilidade do Poder Judiciário Federal".

Recurso
Ontem, o advogado do traficante entrou com um recurso no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que engloba São Paulo, pedindo que o veto ao acordo seja revisto.
De acordo com Maciel, "os acordos de delação premiada, tão utilizados nos EUA e na Itália, só vão funcionar no Brasil se houver um comportamento flexível das autoridades desde que o pedido seja razoável".
Para o advogado, a Justiça podia usar os US$ 35 milhões oferecidos por Abadía "em obras sociais e para combater o crime organizado".


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