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Abadía diz que não sabe onde estão os R$ 60,7 mi
Ele propôs entregar quantia à Justiça em troca de benefícios
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía
não vai entregar os US$ 35 milhões (R$ 60,7 milhões) que
confessou ter escondido no
Brasil até segunda-feira, quando vence o prazo estabelecido
pela Justiça. Abadía contou a
seu advogado, Luiz Gustavo
Battaglin Maciel, que nem ele
sabe onde estão os dólares, de
acordo com o relato do defensor do traficante.
"É impossível cumprir esse
prazo e o juiz sabia disso. Localizar esse dinheiro demora alguns dias porque meu cliente
precisa fazer uma série de contatos. Ele já me disse que não
sabe onde estão os dólares",
afirma o advogado.
O prazo foi dado pelo juiz
Fausto Martin de Sanctis, com
quem Abadía tentou fazer uma
negociação de delação premiada. O traficante ofereceu os dólares, disse que delataria um
brasileiro de sua quadrilha, e
três colombianos se apresentariam à Justiça dos EUA. Em
troca, queria mudar de presídio
durante o processo e, posteriormente, a extinção de sua
pena e de sua mulher.
O traficante quer ser extraditado o mais rapidamente possível para os EUA, onde é acusado de tráfico internacional e de
ser o mandante de 15 mortes
-na Colômbia, pesa contra ele
a acusação de ter ordenado
mais 300 homicídios. No Brasil, ele é acusado de lavagem de
dinheiro, formação de quadrilha e uso de documento falso.
Abadía quer ir para os EUA
para tentar um acordo com os
americanos, nos quais forneceria informações sobre o Cartel
do Vale do Norte, que ele comandaria, e dinheiro -o DEA,
agência antidrogas dos EUA,
estima que ele tem cerca de
US$ 1 bilhão.
O juiz foi contra porque ele
acha que o traficante quis invadir uma atribuição sua -a de
determinar quais são os benefícios que o réu tem num acordo
de delação premiada.
A informação de Abadía de
que tinha mais dinheiro escondido no Brasil configura um novo crime, na interpretação do
juiz. Foi por isso que ele determinou o seqüestro dos US$ 35
milhões e decretou uma nova
prisão preventiva ao traficante.
Sanctis disse na decisão que a
atitude do traficante afeta "a
credibilidade do Poder Judiciário Federal".
Recurso
Ontem, o advogado do traficante entrou com um recurso
no Tribunal Regional Federal
da 3ª Região, que engloba São
Paulo, pedindo que o veto ao
acordo seja revisto.
De acordo com Maciel, "os
acordos de delação premiada,
tão utilizados nos EUA e na Itália, só vão funcionar no Brasil
se houver um comportamento
flexível das autoridades desde
que o pedido seja razoável".
Para o advogado, a Justiça
podia usar os US$ 35 milhões
oferecidos por Abadía "em
obras sociais e para combater o
crime organizado".
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